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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

O refúgio dos canalhas

A petralhada está em festa. Um salseiro danado. Num dado momento da entrevista ao Valor, o presidente da Philips, Paulo Zottolo, afirmou: “Não se pode pensar que o país é um Piauí, no sentido de que tanto faz quanto tanto fez. Se o Piauí deixar de existir ninguém vai ficar chateado“. Pronto! Mexeu com os […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 22h14 - Publicado em 16 ago 2007, 18h39
A petralhada está em festa. Um salseiro danado. Num dado momento da entrevista ao Valor, o presidente da Philips, Paulo Zottolo, afirmou: “Não se pode pensar que o país é um Piauí, no sentido de que tanto faz quanto tanto fez. Se o Piauí deixar de existir ninguém vai ficar chateado“. Pronto! Mexeu com os monopolistas da honra piauiense. À direita e à esquerda, eles armam uma gritaria dos diabos. Vejam o vídeo que gravei para a Abril, que está aí do lado. Quanto menos razão as pessoas têm, mais elas se ofendem. Acho a declaração de Zottolo infeliz porque imprudente. Ele tem de saber que está sendo monitorado pela gritaria politicamente correta e pelos coronéis do “patriotismo regionalista”. Eu, por exemplo, não nasci nem em São Paulo nem no Brasil. Nasci em Dois Córregos. E afirmo: “Se Dois Córregos acabar, ninguém vai ficar chateado”. E vai? E afirmo mais: a política nacional não pode ser conduzida como se conduz a da minha aldeia. Não vou aqui escrever: “Zottolo quis dizer que…” Quis dizer o que disse: o Brasil é mais importante do que o Piauí, o Ceará, São Paulo, Amazonas…

Ora, desde o início estão à espera de uma pisada na bola do pessoal do “Cansei”. A acusação, desde sempre, era de elitismo, alienação, ricos contra pobres… A fala será usada agora como arma. O governador do Piauí, o petista Wellington Dias, já propõe uma cruzada do Nordeste contra Zottolo. Disse que vai convocar até o governador de São Paulo, José Serra. O que Serra tem com isso? É chefe do presidente da Philips por acaso?

Eu também não gosto do Piauí? O melhor poeta brasileiro do século passado, Mário Faustino (1930-1962), nasceu no Piauí. Petrônio Portella, o grande mago civil da abertura política, era do Piauí. Você pode ser grande mesmo nascendo no Piauí. Você pode ser grande mesmo nascendo em São Paulo. Você pode ser grande mesmo nascendo em Nova York. Geografia nem sempre é destino. “Patriotism is the last refuge of a scoundrel” O patriotismo é o último refúgio de um canalha. Quando mais nada restar para tentar demonizar ou espezinhar alguém, evoque a honra ferida da pátria. Ou do seu estado.

São Paulo é o saco de pancadas de boa parte dos políticos brasileiros. E, no entanto, não vejo paulistas indignados. Melhor assim. Ainda ontem, Aécio Neves esteve por aqui e tirou mais uma lasquinha do estado. O que os paulistas devemos fazer? Nada! Ou teremos agora de reviver a Revolução de 1932? É isso aí. Se o Piauí acabar, ninguém liga. Se São Paulo acabar, ninguém liga. Se o Rio Grande do Sul acabar ninguém liga. O país todo fatiado — e Lula volta a investir na divisão dos brasileiros — não tem a menor importância.

O governador Wellington Dias, todo ofendido, mandou uma nota à jornalista Mônica Bérgamo, da Folha, de um cretinismo atroz. Leiam:

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“Tenho certeza de que o capitalismo afasta o homem do ser humano. Que Deus dê a ele a oportunidade de conhecer o Piauí e os homens e mulheres que aqui vivem. Para se ter uma idéia, o Piauí tem 80% de suas florestas nativas preservadas e produz oxigênio para o Brasil e para o mundo. O Piauí, segundo estudos em andamento, tem uma das maiores bacias de gás e petróleo do país. É do Piauí a melhor escola do Brasil, eleita dois anos consecutivos pelo Enem. O Piauí tem a melhor produtividade de soja, mel e algodão do país. Por coincidência, um piauiense, José Horácio de Freitas, foi diretor financeiro da Philips. Por ele e por todos os cidadãos piauienses deveríamos ter respeito. E faço a ele o convite para vir conhecer o Piauí.”

Como é? O “capitalismo” afasta o homem do humano? E o que os aproxima? O socialismo? Aquele modelo para o qual o Brasil deportou dois pugilistas? E depois canta as glórias do Piauí. Espero que, com aquilo tudo, ele consiga dar melhores condições de vida aos piauienses em vez de ficar fazendo embaixadinha para a platéia.

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