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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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O poder está organizado no Brasil para extorquir quem trabalha e alijá-lo das decisões

Nunca antes na história destepaiz um(a) presidente demitiu tantos ministros em tão pouco tempo. Isso enfeixa algumas possibilidades. Pode-se afirmar que Dilma Rousseff é menos tolerante do que seu antecessor com a corrupção. Lembrem-se que há menos de uma semana Luiz Inácio Apedeuta da Silva convocou o PCdoB e Orlando Silva à resistência, num esforço […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 10h21 - Publicado em 27 out 2011, 06h39

Nunca antes na história destepaiz um(a) presidente demitiu tantos ministros em tão pouco tempo. Isso enfeixa algumas possibilidades. Pode-se afirmar que Dilma Rousseff é menos tolerante do que seu antecessor com a corrupção. Lembrem-se que há menos de uma semana Luiz Inácio Apedeuta da Silva convocou o PCdoB e Orlando Silva à resistência, num esforço óbvio para desautorizar a presidente da República. Mas também se pode inferir que ao ineditismo da degola corresponde o ineditismo da roubalheira.

Estamos diante de uma questão de lógica. Se a Soberana demitir todos os 8.759 ministros por corrupção, a exaltação de sua severidade não pode esconder o fato óbvio: então era um governo de ladrões. Parece-me que o mais sensato é considerar que o que estava podre no governo Lula começou a cheirar definitivamente mal na gestão de sua sucessora. E o talento dela para o ilusionismo é, sem dúvida, menor do que o dele. Isso, em si, é bom para a formação moral do povo brasileiro. Lula é um deseducador nato. Mas como ignorar que Dilma Rousseff é a beneficiária do modelo instituído por seu antecessor? Como ignorar que ela era a dita gerente de todas essas pessoas cuja permanência no governo se mostra impossível? A presidente ajudou a construir essa herança maldita.

Atenção, minhas caras e meus caros! A questão não diz respeito apenas a nomes, a pessoas, a partidos. O que precisa ser desmontado é um método! E esse, entendo, deveria ser o trabalho organizado das oposições — sem prejuízo de denunciar a corrupção, sim, e cobrar a demissão daqueles que fraudam a confiança da população avançando nos cofres públicos. Segundo o que se noticia, Dilma está disposta a manter o PCdoB no Ministério do Esporte, a exemplo do que se deu nos outros casos de corrupção: o PT continuou com a Casa Civil; o PR conservou os Transportes (embora o partido diga que não reconhece como indicação sua o atual titular); o PMDB manteve a Agricultura, e Sarney não abriu mão do Turismo. Logo, por que o PCdoB teria de deixar o Esporte?

Nessa indagação que eles mesmos se fazem e que reproduzo aqui vai a essência do mal. É preciso começar a mudar uma cultura, ou este continuará a ser o país da safadeza. Estima-se em R$ 85 bilhões anuais a conta da corrupção. O governo federal conta com 89.550 cargos e postos de confiança (números de março deste ano, segundo o site Transparência Brasil), que servem para satisfazer a fome dos partidos. Os EUA, aquele país em que certo articulista brasileiro detectou a falta de um PMDB (imaginem vocês!!!), há apenas 9 mil. Em todo o Reino Unido, são 300.

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O sistema, pois, é ruim. E será tanto pior quando o próprio governante estimula a lambança. O Esporte foi um ministério entregue de porteira fechada ao PCdoB. Nota-se ali uma verticalização, não? Do ministro ao laranja que finge ser dono de uma empresa fantasma para justificar gastos inexistentes, passando por ongueiros vigaristas, todos comungam da mesma legenda, são “vermelhos” — jamais de vergonha. Já o Ministério da Saúde é mais “democrático”: o PT fica com a Anvisa, o PMDB com a Funasa, um outro pedaço é dividido entre os dois… Na Agricultura, também há a convivência de partidos distintos. Esses ministérios estão longe de ser exemplos de virtude — e têm muito mais dinheiro do que o Esporte. Não é a porteira aberta ou fechada que faz a corrupção, mas a forma como se organiza o poder.

Para angariar apoios, para demonstrar que “nunca antes na história destepaiz” um governo foi tão democrático, tão camarada, tão amigo dos amigos, Lula criou um sistema que rigorosamente entregou aos partidos o comando da máquina pública. Não se trata daquela “entrega” para que executem um programa. Ao contrário! O governo, o dinheiro público, o aparelho estatal, tudo é posto a serviço de causas que nada têm a ver com as necessidades da população. Uns roubam para si e para os de sua corriola, e outros roubam em nome de uma causa.

A canalhice perpetrada por esquerdistas tem seu lado tragicômico porque, pegos com a boca na botija, eles tentam encontrar justificativas morais para a sua canalhice e logo se apressam em pregar “controle dos meios do comunicação”, como fez há dias um editorial do PCdoB em seu site. As evidências de corrupção derrubaram dois ministros do PMDB: Pedro Novais e Wagner Rossi. Em seu encontro nacional, o partido recusou peremptoriamente qualquer forma de controle da informação. Também não se viu nada parecido no PR, por exemplo.

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Que desvio de dinheiro é melhor? Os do PMDB e do PR, que não querem censurar a imprensa, ou os do PT e do PCdoB, que atribuem tudo a uma conspiração da mídia? Ora, perguntem aos desdentados, aos miseráveis, aos pobres. A resposta, obviamente, é uma só: NENHUM! Deveriam estar todos na cadeia. Apenas destaco que os ladrões de esquerda têm o mau-caratismo adicional de tentar transformar a apropriação do bem público numa categoria política superior.

E por que o fazem? Respondi hoje a uma entrevista feita por estudantes universitários para um trabalho de conclusão de curso. Afirmei que o relativismo é a essência do pensamento da esquerda, o que Trotsky deixou consubstanciado no livro “Moral e Revolução” (que vivo citando aqui), mais especificamente no texto “A Nossa Moral e a Deles”. Ele diz algo terrível, que reproduzo literalmente. Fazendo a si mesmo a pergunta se tudo é permitido na luta revolucionária, ele responde:
“É permitido tudo aquilo que leve realmente à libertação dos homens. Já que este fim não pode ser atingido senão por via revolucionária, a moral emancipadora do proletariado tem necessariamente um caráter revolucionário. Como aos dogmas da religião, esta moral se opõe a todos os fetiches do idealismo, gendarmes filosóficos da classe dominante. Ela deduz as normas de conduta das leis do desenvolvimento social, isto é, antes de tudo, da luta de classes, que é a lei das leis.”

Eis aí. Ele afirma que a luta revolucionária tem compromisso apenas com a moral revolucionária. Todos os outros valores são inferiores e são meros “gendarmes” do idealismo burguês. Mas o que é a moral revolucionária? Quem define o seu conteúdo? O partido! Assim, aquilo que o partido decidir está automaticamente certo, qualquer coisa — inclusive a morte.  Lênin mandou matar o czar e sua família, também as crianças, sem processo, numa operação secreta, que ele escondeu até do comando do partido. Como o Partido Comunista tinha o chamado “centralismo democrático” — a direção decide em nome do coletivo —, a decisão nem pôde ser contestada.

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A esquerda dinheirista de hoje evoca essa antiga moral revolucionária para se locupletar e se quer diferente dos demais ladrões. Mas não é! Se diferença há, ela está apenas em seu escandaloso cinismo.

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