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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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O petismo identifica seus inimigos

Caso a petista Dilma Rousseff vença a eleição, banqueiros, industriais, comerciantes, estudantes, trabalhadores não têm muito a temer a não ser a incompetência, o loteamento de cargos, a falta de planejamento — a mesma que hoje já provoca gargalos na infra-estrutura — e outras coisinhas do país real. Já a liberdade de imprensa tem muito […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 14h12 - Publicado em 19 set 2010, 08h45

Caso a petista Dilma Rousseff vença a eleição, banqueiros, industriais, comerciantes, estudantes, trabalhadores não têm muito a temer a não ser a incompetência, o loteamento de cargos, a falta de planejamento — a mesma que hoje já provoca gargalos na infra-estrutura — e outras coisinhas do país real. Já a liberdade de imprensa tem muito a temer. Eles estão naquela fase que o camarada José Dirceu chama “acúmulo de forças”. E, tendo as condições, tentarão desfechar o golpe.

Aquele discurso de Dirceu na segunda-feira da semana passada a sindicalistas da Bahia não saiu da sua cachola, do nada. Reflete uma cultura interna. Se bem se lembram, o deputado cassado e “chefe da quadrilha do mensalão” vê um certo abuso no exercício da liberdade de expressão no país. Para ele, a “mídia” está alinhada com o “poder econômico” — ele só não disse, e nem poderia, qual “poder econômico” não está hoje alinhado com o governo Lula e com a candidata Dilma. O PT alimenta a fantasia de que essa tal “mídia” — excluindo-se aqueles setores que o governo hoje financia, é evidente — tem uma agenda política, o que a transformaria num partido de oposição.

Ontem, no comício em Campinas, Lula vociferou:
“Eu queria pedir para você Dilma e para você Mercadante, não percam o bom humor, deixa eu perder. Eu já ganhei. Se mantenham tranqüilo porque, outra vez, nós não vamos derrotar apenas os nossos adversários tucanos; nós vamos derrotar alguns jornais e revistas que se comportam como partido político e não tem coragem de dizer que têm partidos políticos, que têm candidatos; que não tem coragem de dizer que candidatos, que não são democratas e pensam que são democratas. Democrata é este governo que permite que eles batam.”

De imediato, cumpre lembrar que há, sim, veículos que, claramente, têm candidata: Dilma. São aqueles aquinhoados com a publicidade oficial numa proporção muito superior a seus leitores, telespectadores, ouvintes ou internautas. Os áulicos são hábeis em puxar o saco e levar a grana, mas são ruins de serviço e não conseguem a adesão do público. Imagino a irritação dos petistas, e de Lula em particular, ao constatar que a revista mais lida, a TV mais vista, os jornais mais lidos etc são aqueles que buscam fazer um trabalho independente. Independente do quê? Do poder de turno, ora essa! Para Lula, a independência é “partidarismo”. Queria as empresas de comunicação viciadas na verba oficial de publicidade, a exemplo do que acontece com suas revistas sem leitores, suas TVs sem telespectadores, seus rádios sem ouvintes.

Todos os veículos que hoje deixam Lula furioso são os mesmos que fizeram críticas contundentes a governos passados, o que certamente colaborou para a ascensão do petismo. É do jogo.  Naquele tempo, Dirceu, o Babalorixá e demais petistas consideravam que os repórteres cumpriam a sua obrigação. O presidente afirmou outra coisa curiosa, aí referindo-se aos jornalistas: “Não existe neutralidade”. Digamos que não. Então eles sempre teriam um lado, inclusive o “lado petista” — nesse caso, ele não reclama… Registro à margem: lembrem-me de escrever um texto demonstrando que o que costuma faltar à imprensa é justamente ter um lado — no caso, o lado certo. Sigamos.

O generoso
Lula acredita que é ele quem nos concede licenças de cidadania. Como é? O governo permite que a gente bata nele??? Errado, presidente! Estupidamente errado! É a Constituição! Vossa Insolência bem que tentou instituir a censura no Brasil, mas a sociedade rejeitou. Sim, vocês vão tentar de novo, sabemos.

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Lula também se referiu à VEJA de modo oblíquo: “Existe uma revista que não lembro o nome dela. Ela destila ódio e mentira.” E Lula demonstrou que só tem amor no coração nestes termos: “Essa gente não me tolera. Mesmo lendo pesquisas de opinião pública, mesmo vendo que tem apenas 4% que acham o governo ruim e péssimo. Deve ser na casa do Serra e na casa do Alckmin”. É um presidente da República falando, aquele que, até anteontem, era chefe de Erenice Guerra. Mais um pouco: “Se o dono do jornal lesse seu jornal ou o dono da revista lesse sua revista eles ficariam com vergonha do que estão escrevendo exatamente nesse momento”.

Ora, é claro que dá vergonha ter uma Casa Civil que abriga um lobby liderado pelo filho da ministra! É claro que dá vergonha saber que essa ministra se encontrava com os clientes de seu rebento. É claro que dá vergonha ter de ler que dinheiro vivo circula num ministério que fica a alguns metros da sala do presidente da República. É claro que dá vergonha saber que o marido de uma ministra usa o cargo da mulher para alavancar seus negócios privados.

A imprensa tem de se orgulhar de trazer esses fatos à Luz. Com 20% ou com 80% de popularidade, Lula é quem deveria se envergonhar. O fato de ele contar com ampla aceitação popular não torna virtudes os crimes de seu governo. O presidente foi e é fartamente elogiado por seus acertos. Ocorre que ele quer ser aplaudido também por seus erros.

No extremo da onipotência, teve tempo de acrescentar:
“Eles não se conformam que o pobre não aceita mais o tal do formador de opinião pública. (…). Nós somos a opinião pública e nós mesmos nos formamos.”
É evidente que se refere aos petistas. Mas digamos que estivesse mesmo falando dos “pobres”. Não! Ainda que maioria, eles não são a “opinião pública”. Uma coisa ou outra reflete uma concepção fascistóide de poder, a mesma que o leva a tratar como inimigos ou cidadãos de segunda categoria os que consideram “péssimo” o seu governo.

Minimizar crimes
O que Lula está querendo é minimizar os crimes descobertos na Casa Civil, no coração do poder, no ministério que tem tentáculos e ramificações em todas as áreas da administração pública. Trata-se de uma operação para jogar a sujeira debaixo do tapete, como já se faz hoje na investigação das invasões de sigilo.

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Para encerrar
Caso Dilma vença a eleição, é a imprensa que vai decidir o tamanho da sua liberdade:
ficará com aquela que lhe faculta hoje a Constituição, que Dirceu considera excessiva, ou cederá à pressão oficial, fechando os olhos a desmandos para que, em retaliação, o governo não tente impor restrições ou fazer pressões de outra natureza? Não custa lembrar que a autocensura é pior do que a censura porque nem dá ao outro — ao ogro — o trabalho de ser bruto. A sujeição voluntária é sempre a mais aviltante.

O pacote de maldades está quase pronto. Franklin Martins se encarrega de transformar em projetos de lei propostas das tais conferências, que reuniram brucutus ideológicos, ressentidos profissionais e profissionais ressentidos. O alvo é um só: a liberdade! Lula, pelo visto, está convencido que ela é uma tolice e uma desnecessidade quando a maioria apóia o governo.

No caso de vitória da criatura eleitoral de Lula, preparem-se para fortes emoções. Naquela conversinha de Erenice Guerra com Silas Rondeau (vejam posts abaixo), ela expressou o inconformismo do governo com o Ministério Público e com o Judiciário também.

É isto: imprensa, Judiciário, Ministério Público, oposições, os 4% da população mais o Tribunal de Constas da União deixam Lula irritado. É preciso dar um jeito nessa gente! É o que se tem feito à farta hoje na América Latina, a exemplo dos arreganhos fascistóides que se vêem na Argentina e que tanto deixam Franklin Martins excitado. Naquele filme que exibi aqui sobre o sequestro de Charles Elbrick, ele gargalha quando fala da possibilidade de matar o embaixador americano. Imaginem, então, se for para matar só a liberdade…

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