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Reinaldo Azevedo

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O MENINO DO MEP. OU: SILVIO TENDLER PARA MINISTRO DA PIADA

Algumas conclusões se podem tirar do caso “Menino do MEP”. A primeira e mais óbvia é que o Lula não poderia mesmo processar César Benjamin: a conversa aconteceu. Se o publicitário Paulo de Tarso, aquele que tem contrato de R$ 300 milhões com o governo, disse que não se lembrava do fato e discordava do […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 16h20 - Publicado em 29 nov 2009, 07h40

Algumas conclusões se podem tirar do caso “Menino do MEP”. A primeira e mais óbvia é que o Lula não poderia mesmo processar César Benjamin: a conversa aconteceu. Se o publicitário Paulo de Tarso, aquele que tem contrato de R$ 300 milhões com o governo, disse que não se lembrava do fato e discordava do “conceito” (???) do texto de Benjamin, o cineasta Silvio Tendler, numa entrevista extremamente agressiva, atacando o articulista, confirmou o relato. Só que ele diz que tudo não passava de uma “piada”. Já volto a esse ponto. Sigamos nas coisas que são dadas. Outra evidência é que Franklin Martins, desta vez, perdeu o rebolado: mostrou-se perdido, sem reação possível. E, bem…, ficamos sabendo que o “Menino do MEP”, afinal de contas, existiu.

Voltemos agora a Tendler, já que sua entrevista se tornou uma chave para entender essa história. Em entrevista a um site, afirmou o valente, atacando César Benjamin:
“Era óbvio para todos que ouvimos a história, às gargalhadas, que aquilo era uma das muitas brincadeiras do Lula, nada mais que isso, uma brincadeira. Todos os dias o Lula sacaneava alguém, contava piadas, inventava histórias. A vítima naquele dia era um marqueteiro americano. O Lula inventou aquela história, uma brincadeira, para chocar o cara… Só um débil mental, um cara rancoroso e ressentido como o Benjamin, guardaria dessa forma dramática e embalada em rancor, durante 15 anos, uma piada, uma evidente brincadeira…”

Fazendo documentário, Tendler parece bem melhor em matéria de ficção. Eu não sei se Lula tentou estuprar ou não o “Menino do MEP”, o que sei, agora com certeza, pela voz de um amigo e defensor, é que ele disse que tentou. Segundo Tendler, era uma piada, que Lula fazia para chocar o americano, a “vítima do dia”. Huuummm… Quem será que vertia para o inglês a “história engraçada”? A propósito, Tendler fica nos devendo uma explicação: por que aquilo era engraçado? O que há de graça numa tentativa de estupro, ainda que fosse inventada? E por que a “vítima” era o americano? E, bem, não custa informar: outras pessoas já ouviram esse mesmo relato. Parece que há certa predileção por brincadeiras dessa natureza e sempre com a mesma personagem: o “Menino do MEP”.

Alguns homens são dados a conversas meio cafajestes. Mas saibam as mulheres que não são usuais relatos, mesmo inventados, de tentativa de “pegar” um “companheiro”. À força, então, é absolutamente impensável até como piada. Eu nunca ouvi. Não tive esse estranho privilégio de Tendler. Acho que a esmagadora maioria dos leitores não tem notícia de algo parecido. Admita-se que, num rasgo de humor à moda Lula, ele tivesse dito algo como: “Pô, eu tava lá sem mulher e tentei pegar um companheiro, mas ele resistiu…” Ok, piada, todos ririam — lá entre eles, claro! Vocês sabem: esse tipo de coisa que provoca gargalhadas em Silvio Tendler.  Mas não! A história tinha uma personagem, que efetivamente estava na cela: o “Menino do MEP”. “Menino” que outros presos também tinham na memória — especialmente os próximos a Lula. Um sindicalista lembrou, 29 anos depois, que o agora presidente acertou uma bolada de basquete no rapaz. Outro sabia seu nome. Um terceiro tinha em mente suas características físicas.

Assim, resta evidente que Cesinha narrou a verdade em seu artigo. O máximo de que pode ser acusado é de não ter aquele refinado senso de humor de Silvio Tendler, que gargalhou ao ouvir que o interlocutor tentara estuprar alguém na cadeia. Por alguma razão, a coisa lhe pareceu engraçada.

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Num outro trecho de sua entrevista, indaga o cineasta: “E você acha que, se isso fosse, soasse, verdadeiro, todos nós não ficaríamos chocados? Todos ali da esquerda, com amigos presos, ex-presos e tudo mais, você acha que nós ouviríamos aquilo com tom de verdade, se assim fosse ou parecesse, e não reagiríamos, não ficaríamos chocados?”

Que coisa! Chocado estou eu! Vejam que moral superior tem o esquerdismo! “Como homens de esquerda”, eles ficariam chocados porque os amigos — também de esquerda, entende-se — estavam presos.  Compreendo. Se a pessoa “abusada” fosse “de direita”, isso faria alguma diferença? Mais: por acaso, inexistem molestadores de esquerda? Aí não dá! A moral de muitos esquerdistas condescende com milhões de cadáveres. Por que não poderia condescender com um estupro? Lula até podia estar brincando, como assevera Tendler, mas a suposta superioridade moral da audiência não tem nada a ver com isso. E não posso deixar de reverenciar, uma vez mais, a memória de Tendler para as piadas de Lula. Trinta anos depois, tem a história e as circunstâncias na ponta da língua.

Os petistas passaram os últimos dias, entre indignados e perplexos, tentando arranjar uma boa justificativa para a coisa toda. A mais desastrada, acho eu, é a de Silvio Tendler. Mesmo pessoas que não são ligadas ao partido falam em “baixaria”, perguntam se faz sentido publicar aquele artigo e indagam se não há mistura entre vida privada e vida pública. Se eu considerasse tratar-se de assunto pessoal, seria o primeiro a ignorar o caso.

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Ocorre que isso nada tem de “pessoal”. Quase todos os presos que estavam naquela cela  — Lula inclusive — recebem pensão como vítimas da ditadura militar. A do presidente, sem dúvida, é a mais indecente. Aquele evento ajudou a criar a rede de mistificações que deu a Lula a Presidência da República, trajetória que será coroada com o tal filme. São os próprios esquerdistas que sustentam que se construía lá uma parte da história do Brasil e da moral profunda do “presidente operário”. NÃO HÁ RIGOROSAMENTE NADA DE PRIVADO NESSE IMBRÓGLIO. Nada!

Quem mantém certa relação privada, mas aí é com o filme, é Silvio Tendler, tio de um dos roteiristas, Daniel Tendler, que é casado com Júlia Barreto, filha de Fábio, diretor de “Lula, O Filho do Brasil“.

Eu sei que os neo-aristocratas brasileiros ficam irritados com o fato de haver quem entenda que o Brasil é uma República, não lhes concedendo os direitos especiais de que gozavam os antigos aristocratas. Pois é! República é assim mesmo: existe para expor seus podres continuamente. E o faz para que possa continuar a ser uma República.

Lula deve nomear Silvio Tendler para o Ministério da Piada e da Gargalhada.

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