O jogo da Seleção, ainda ruim, e a cascata de que seria melhor pegar a Holanda. Os números desmentem essa bobagem de maneira cabal
Já que alguns comentadores de futebol falam besteiras espantosas sobre política, eu, que comento política, procurarei dizer coisas sensatas sobre futebol. O Brasil melhorou bastante no segundo tempo, com a saída de Paulinho e a entrada de Fernandinho, que fez um dos gols. Pois é… Paulinho, cuja ausência desmontou o meu Corinthians, não está bem. […]
Já que alguns comentadores de futebol falam besteiras espantosas sobre política, eu, que comento política, procurarei dizer coisas sensatas sobre futebol. O Brasil melhorou bastante no segundo tempo, com a saída de Paulinho e a entrada de Fernandinho, que fez um dos gols. Pois é… Paulinho, cuja ausência desmontou o meu Corinthians, não está bem.
A Seleção jogou direitinho, vamos ser sensatos, a partir da segunda metade do segundo tempo, com Ramires no lugar de Hulk, outro que ainda não se encontrou. A melhor formação é a que encerrou o jogo, com Neymar no time, é evidente (foi substituído por William). O craque brasileiro foi o melhor em campo.
O que incomoda? A mim, o de sempre nas três partidas: não consigo ver as jogadas que compõem o repertório de Felipão. A Seleção Brasileira depende excessivamente do talento e do brilho inegáveis de Neymar. E não me venham com a cascata de que assim é porque, como o jogo converge pra ele, nada mais acontece. Errado! É o contrário: como nada acontece, o jogo converge pra ele. Fred fez gol, sim, mas a sua atuação foi medíocre. Ainda se faz notar mais pelo bigode.
Em primeiro lugar na chave em razão do saldo de gols, o Brasil enfrenta o Chile. Numa entrevista no fim do ano, Felipão afirmou que preferiria outra seleção, nem que fosse a Holanda, porque o jogo dos chilenos “não se encaixa” com o do Brasil. Não entendo o que quer dizer. Tudo sempre pode acontecer no futebol, inclusive a Espanha sofrer um vexame histórico, mas só a esfera mística explica por que o Brasil deveria se assustar mais com o Chile do que com a Holanda — que é o que aconteceria se o Brasil tivesse ficado em segundo.
Vamos ver:
a) nosso histórico contra os chilenos é muito melhor;
b) no confronto direto, a Holanda bateu o Chile nesta segunda por dois a zero;
c) jogador a jogador, a seleção holandesa é muito melhor.
“Ah, mas o Brasil pode perder do Chile…” Até pode. Tudo pode. Se isso se der, não saberemos o que teria acontecido contra a Holanda porque estaremos fora. Entre amistosos e jogos da Copa, os brasileiros já jogaram 11 vezes com os holandeses. O resultado impressiona. Querem ver?
Em Copas do Mundo, ganhamos duas (1994 e 1998) e perdemos duas (1974 e 2010). O saldo de gols nesses quatro jogos, no tempo regulamentar, é favorável à Holanda: 7 a 5. Nota: em 1998, o Brasil venceu nos pênaltis (4 a 2) porque empatou no tempo regulamentar. Isso quer dizer que, no jogo propriamente, o Brasil tem apenas uma vitória, e a Holanda, 2.
Houve sete amistosos entre os dois países: quatro empates, duas vitórias do Brasil e uma da Holanda. Considerados os noventa minutos dos 11 jogos, os dois países têm, portanto, três vitórias cada um, com cinco empates. E cada time marcou 15 gols.
E contra o Chile?
Bem, o Brasil já jogou 66 vezes contra o Chile. Venceu 46 partidas (70%), empatou 13 (20%) e perdeu 7 (11%). Em Copas do Mundo, encontraram-se três vezes: o Brasil venceu as três. A nossa Seleção marcou 154 gols (73%) e tomou 57.
Assim, misticismo à parte (Felipão até usa agasalho num calor escaldante porque é amuleto, diz ele…), não há por que preferir enfrentar a Holanda nas oitavas de final em vez do Chile. Essa história de que, com esse resultado contra Camarões, o Brasil acaba enfrentando uma seleção que Felipão considera “muuuito difícil” tem cheiro de cascata, né? Pode até valorizar uma eventual vitória, mas não faz o menor sentido.
“Ah, é, Reinaldo Azevedo? E se perder?” Bem, se perder, ficará claro que Felipão é melhor como místico do que como técnico. Simples.