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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Não falta Hobbes à Inglaterra, certo? O que faltou foi clareza. Ou: A rebelião dos delinqüentes e as esquerdas

Chega a ser divertido acompanhar a imprensa britânica — só não é mais porque, afinal de contas, os delinqüentes daquele país provocaram um estrago e tanto em várias cidades, especialmente na cosmopolita e tolerante Londres. Por que digo isso? Porque a jornalistada que estava doidinha para encontrar desculpas sociológicas para os atos de vandalismo está […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 11h07 - Publicado em 11 ago 2011, 19h54

Chega a ser divertido acompanhar a imprensa britânica — só não é mais porque, afinal de contas, os delinqüentes daquele país provocaram um estrago e tanto em várias cidades, especialmente na cosmopolita e tolerante Londres. Por que digo isso? Porque a jornalistada que estava doidinha para encontrar desculpas sociológicas para os atos de vandalismo está se surpreendendo com o perfil das pessoas presas e que estão sendo processadas. Boa parte é gente de classe média, com emprego, vida boa. Não integram os tais grupos dos jovens desempregados e sem perspectiva de que falava a imprensa britânica, bovinamente seguida por alguns de nossos correspondentes. Às vezes, nada induz tanto ao erro como estar no lugar dos acontecimentos, não é mesmo? Especialmente se o observador se deixa encantar pelas “noites revolucionárias”. Eu,como de hábito, com todo respeito ao viajante, prefiro dar voltas à volta dos meus livrinhos, ali onde mora Virgílio, que recomendei hoje de manhã a Ricardo Mello, colunista da Folha.

É claro que os “sociólogos” ainda estão debruçados sobre os eventos, buscando uma razão de fundo e de fôlego que os explique, como se ela já não estivesse dada há muito tempo. Oh, Jesus! A terra que deu Thomas Hobbes à luz quer saber por que pacatos cidadãos podem se comportar como horda? Não! Tio Rei não acha que basta botar na rua o porrete do Leviatã, e o resto está resolvido. Mas acha, sim, que, se um estado exibe sintomas de fraqueza e de pouca disposição para fazer valer O LEGÍTIMO USO DA FORÇA DA DEMOCRACIA — e, pois, não sou um hobbesiano no prognóstico, só no diagnóstico —, as ditas massas partem para o pau.

E nós vivemos tempos em que as “rebeliões das massas” são consideradas manifestações saudáveis, evidências de que as sociedades precisariam de um novo modelo, que transcendesse a democracia representativa… A canalha intelectual inimiga do capitalismo e do consumismo — uma das sub-religiões surgidas com o desmoronamento do marxismo — estava lá, pronta para dizer que aqueles bandidos apenas cediam aos apelos de uma sociedade em que “ter é ser” (ou qualquer outra fala tão estupidamente pomposa e falsa quanto essa). Na cabeça dessa gente, se existe propaganda de tênis, iPod e iPhone, então todos têm o direito de ter o seu, comprando ou roubando.

O governo britânico, do banana David Cameron, demorou a agir e, por conseqüência, a polícia. Vai ver o primeiro-ministro não quis ser confundido, sei lá, com Bashar Al Assad ou com Muamar Kadafi, como se, num regime democrático, bandoleiros pudessem ser confundidos com cidadãos que têm o direito de se expressar e de se organizar para reivindicar a mudança das leis. Foram formas diversas, mas combinadas, de má consciência que permitiram que a crise tomasse proporções alarmantes. O governo se acovardou, e os formadores de opinião tentavam “entender” o movimento, buscando caracterizá-lo como, de algum modo, uma reação dos oprimidos.

Dois eventos contribuíram para mudar radicalmente a leitura: a foto de Amy Weston, que registra o momento em que mulher pula de um prédio em chamas (ver post desta manhã) e a morte de três paquistaneses, que tentavam defender seu comércio. Como, para a mentalidade politicamente correta européia, o imigrante é o oprimido nº 1, percebeu-se, então, que esse “oprimido” estava, vamos dizer assim, do outro lado… Eu já dei início ontem à contagem regressiva para que o Guardian, a BBC e o Arnaldo Jabor acusem a “direita racista e xenófoba” pelos distúrbios.

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Sim, afinal, esses idealistas — que acreditam, a exemplo de Rousseau, o quadrúpede, que as pessoas nascem naturalmente boas, mas depois são pervertidas pela direta… — sempre acham que há uma motivação virtuosa ou uma disfunção ideológica nos levantes; se não era um protesto dos oprimidos, como eles acreditavam (a BBC chamava a bandidagem de “manifestantes”), então deve ser algum rancor fascistóide inspirado pelos direitistas. Jabor vai nos explicar por que isso, de algum modo, nos leva a Bush e ao Tea Party.  Não imagino por quais diques da inteligência; ele acharaá um jeito… Eu sou mais simples: acho que, se a lei não se faz valer numa democracia, aquele seu vizinho pacato pode se transformar num ogro.

Chile
Dei uma passeada pelos jornais chilenos para saber a quantas anda a delinqüência dos “estudantes” por lá. Os jornais brasileiros tratam os meliantes como forças da resistência ao governo do “fascista” Sebastián Piñera. As coisas não são ditas assim, mas querem dizer isso. Pois bem. Eles apresentaram um “plano” de reforma da educação que, entre outros mimos, proíbe as instituições particulares de ensino de ter lucro. O governo, claro, recusou e os convidou para conversar. Não! Eles não querem! Negam-se ao diálogo. Consideram uma concessão inceitável. É na linha do ou dá ou desse. Agora a CUT deles anuncia a disposição de chamar uma greve geral e coisa e tal…

Enquanto isso, universidades e escolas do ensino médio seguem ocupadas, e líderes do movimento se dedicam com especial afinco em provocar confrontos com a polícia. Não existe risco nenhum de golpe de estado no Chile. Mas os que acompanharam a escalada de radicalização da extrema esquerda chilena — promovida, então, também pelo governo —, que resultou no golpe que derrubou Salvador Allende (que estava longe de ser um santo…), fica arrepiado.

É óbvio que isso tudo gera uma enorme perturbação para o governo de Piñera, mas os desdobramentos são incertos. Não é a maioria dos chilenos que está nas ruas promovendo a baderna. A esta altura, não serão poucos os críticos não exatamente do “conservadorismo” do presidente, mas de sua incapacidade de impor a ordem.

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