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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

LUZES E TREVAS

Mais chatos e, às vezes, cretinos do que os defensores de Protógenes, só mesmo os que se atribuem o papel de procuradores da ciência na suposição de que eu estaria do outro lado. Estou rejeitando as boçalidades porque os supostos partidários da ciência são capazes de afirmar que o amarelo é azul. E nem mesmo […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 18h26 - Publicado em 11 dez 2008, 17h24
Mais chatos e, às vezes, cretinos do que os defensores de Protógenes, só mesmo os que se atribuem o papel de procuradores da ciência na suposição de que eu estaria do outro lado. Estou rejeitando as boçalidades porque os supostos partidários da ciência são capazes de afirmar que o amarelo é azul. E nem mesmo ficaram corados.

Num dos posts, escrevi: “Mandem-me as aspas de algum texto em que defendo que se trate o criacionismo como ciência”. E o que fez um tal TBC? Mandou este trecho de minha autoria: “Reitero: quero que o professor de biologia faça a melhor exposição possível, com todas as suas implicações, do darwinismo e do criacionismo, caracterizando as idéias que se criam em torno de cada uma das concepções”. Aí, empregando o que ele chama “lógica” (tadinho…), envia-me o seguinte:

Para usar a lógica, como você tanto gosta:
premissa 1- aula de ciência é pra tratar de ciência (não imagino que haja discordância aqui: aula de matemática é sobre matemática, de português sobre português, de ciência sobre ciência);
premissa 2 – deve-se tratar de criacionismo nas aulas de biologia (como você defendeu no trecho citado);
conclusão – criacionismo é ciência.
Já disse em outros comentários: que o criacionismo seja tratado em aulas de história, religião, sociologia ou outras áreas do humanismo – em ciência, não.
Publicar Recusar (TBC) 15:34

Comento
TBC, você não sabe o que quer dizer “premissa” e foi buscar silogismo onde não existe. Para que seu raciocínio se sustentasse, seria preciso que eu tivesse pedido ao professor de biologia que endossasse o criacionismo ou que o tratasse como ciência. Cadê? Onde? É o fim da picada!

Outro, chamado Diego, achou que poderia me nocautear assim:
Acredito que, de acordo com esse raciocínio, quem for estudar lingüística deve também aprender sobre a Torre de Babel.
Publicar Recusar (Diego) 14:44”

Comento
Só um professor de lingüística delinqüente se negaria a pensar a questão das línguas na Bíblia, uma referência permanente. Sim, Diego: o que você coloca como ironia pode e deve ser matéria de reflexão. Quando, naquela simbologia, Deus quis punir a arrogância, não separou os homens segundo a religião, os interesses, as posses, o sexo, a idade, a origem… Separou-os por meio da palavra. Sem contar, Diego, que a pior incomunicabilidade é aquela que se dá entre pessoas que falam a mesma língua.

Só um obscurantista militante, rematado, descartaria a enorme contribuição que as religiões — todas elas — têm a dar para a elucidação do mundo. “No princípio, era o verbo”… É a mais, como posso dizer?, perfeita divisa que a lingüística poderia adotar.

O que a estupidez militante não percebe — estimulados por alguns blogueiros que pretendem carregar a bandeira do ateísmo como se fosse a liberdade guiando o povo (coisa mais passadista, cafona até…) — é que as religiões expressam em conflitos simbólicos alguns dos dramas humanos que são atemporais.

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Qualquer militância — tenha viés ideológico, comportamental ou, sei lá como chamar esta dos que decidiram ser porta-vozes da Lei da Evolução (mais um pouco, chegaremos ao século 20…) — deixa as pessoas um tanto cegas. Não basta a contestação do que rejeitam: é preciso eliminar a dissensão. Um cientista das espécies que não aproveitasse a alegoria da Arca de Noé para refletir junto com seus alunos estaria desperdiçando a chance de pôr em perspectiva a diversidade do mundo. E abordar a questão não significa endossá-la.

Ah, é muito provável que Moisés não tenha aberto o Mar Vermelho e que Saul — depois Paulo — não tenha sido cegado por Deus e curado em seguida pela força intercessora de um crente. Ora, como poderia um “cientista” acreditar nisso, não é mesmo? Mas que ganho extraordinário teriam os alunos se um professor de história, em vez de negar a Bíblia com boçalidades supostamente racionalistas, conhecesse o seu conteúdo para lhes destrinchar os conflitos de natureza ética que lá são expostos em vez de tomá-la na sua literalidade, a exemplo de Saramago! Que viagem fantástica faria um mestre que decidisse destrinchar a geografia da Bíblia: não para endossar as suas incongruências, mas porque se chegaria — e se chega — a alguns dos palcos que marcaram dramas essenciais para o mundo contemporâneo.

Eu estou falando de civilização, não de militância. Reitero: um professor de biologia pode — e, a rigor, deve — abordar o criacionismo quando tratar da Teoria da Evolução. E tem, a meu ver, a obrigação de abordar o contexto histórico de cada uma das formulações. Isso é educação! O problema miserável é de outra natureza: falta à larga maioria preparo tanto para uma coisa quanto para outra. Quantos minutos demoraria para que a coisa caísse no puro proselitismo?

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Raramente li tanta boçalidade como ao abordar essa. Raramente vi tamanha manifestação de desonestidade intelectual, moral e ética. Raramente percebi tamanha determinação em contestar o que não está escrito. O ódio à religião é uma das formas de obscurantismo. Não por acaso, matou milhões quando erigido em sistemas políticos. Aí reagiriam um e outro: “Mentira! Não é ódio à religião. Você pediu que o professor de biologia ‘ensinasse’ (SIC) criacionismo”. E voltamos, então, à vaca fria, à depredação do debate e da inteligência, à mentira descarada como argumento.

E notem: esse debate não é novo. Na Grécia na Roma antigas, estavam lá alguns filósofos e poetas a negar a imortalidade da alma e os deuses. Houve quem os tenha usado para produzir monumentos como Ilíada e Odisséia (Homero) e Eneida (Virgílio); houve quem, como Lucrécio, os tenha negado (Da Natureza), sustentando que, se nossa alma fosse mesmo imortal, não deploraríamos tanto o fato de morrer. Não, o debate não é novo. Mas raramente ele foi tão ignorante.

E mais chatos ainda são alguns orgulhosos da própria ignorância, que pretendem sair do anonimato com seus bloguinhos irrelevantes, tentando pegar carona no debate. Pegam a bolsinha e vão pra avenida do mercado das idéias: “Vem comigo, benzinho, eu sou darwinista até debaixo de outro darwinista… Você sabe, lei da seleção… A minha direita é mais gostosa. Azevedo é criacionista, credo!. Serviço compreto é dois real…”

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