Lula e Obama concedem entrevistas coletivas no mesmo dia: um derrotado honra a democracia, e um vitorioso a avilta
Vocês sabem que não tenho a menor simpatia por Barack Obama porque sou “republicano”. Já afirmei que ele tem certo sotaque político terceiro-mundista, o que nada tem a ver com o seu pai queniano, obviamente. É que ele, mais do que qualquer dos presidentes americanos, demonstrou certo gosto por demonizar o antecessor, o que é […]
Vocês sabem que não tenho a menor simpatia por Barack Obama porque sou “republicano”. Já afirmei que ele tem certo sotaque político terceiro-mundista, o que nada tem a ver com o seu pai queniano, obviamente. É que ele, mais do que qualquer dos presidentes americanos, demonstrou certo gosto por demonizar o antecessor, o que é caminho certo para a perdição. Tivesse me ouvido — é ironia, viu, petralha? Petralha é burro e precisa de piada com faixa amarela de advertência para não tropeçar e cair de boca —, estaria agora em melhor situação. Foi brincar de demiurgo, vejam lá… Quando as circunstâncias favorecem esse tipo de demagogia, como no Brasil, bem; quando elas conspiram contra, o sujeito dá com os burros n’água. Adiante.
De toda sorte, há uma diferença brutal de civilidade política entre o presidente americano e o presidente brasileiro. Obama tomou a maior surra em muitas décadas nessa eleição de meio de mandato. Na Câmara, foi o vexame de que já se falou aqui. Nos governos estaduais, não foi menor: contam-se agora 31 governadores republicanos, 18 democratas e 1 independente. A exemplo de Lula, ele também deu uma entrevista coletiva.
Atenção! Vou especificar as circunstâncias: derrotado, humilhado, desenxabido, Obama concedeu uma coletiva. No Brasil, vitorioso, triunfante, orgulhoso, Lula fez o mesmo. Obama chamou para si a responsabilidade da derrota e disse que precisava dos republicanos para governar. E admitiu a “surra”. Ele admitiu. Em Banânia, este escriba apanhou de muita gente porque afirmou ontem que seu governo tinha sido “humilhado”. As normalistas politicamente corretas não aceitam que um jornalista escreva sobre o presidente americano o que ele fala sobre si mesmo. É o fim da picada!
Obama, que poderia demonstrar ressentimento — e certamente estava ressentido —, não disse uma só palavra de crítica aos republicanos; nada! É bem verdade que andou dando declarações infelizes em várias rádios antes do pleito. Mas vá lá… Estava um tantinho desesperado. Sabedor do resultado, resignou-se porque é esta a exigência das instituições americanas. Por aqui, Lula, que poderia estar de bem com a vida, não é?, por ter conseguido eleger seu poste eleitoral, soltou os cachorros nos oposicionistas. O que quer que tenha dado errado em seu governo — e, pelo visto, ele só admite um probleminha na saúde — é culpa exclusiva dos que se opuseram a ele no Congresso, onde, admite, aprovou tudo o que bem quis.
Entenderam a diferença entre alguém que se sabe obrigado a prestigiar a democracia — ou não tem mais futuro político — e alguém que sabe que pode fazer pouco dela porque, no fundo, acabará sendo irrelevante? Se, mesmo antes da eleição, Obama tivesse dito sobre os adversários 10% do que Lula falou ontem no Brasil, não governaria mais. Não obstante, existe nos EUA uma oposição dura, vibrante, contumaz, que não deixa chocados os americanos, não! Eles sabem que cabe à oposição… opor-se!!!. Os republicanos deixam assustados, curiosamente, alguns brasileiros! “Meu Deus! Vai que o Brasil, um dia, ainda acabe sendo uma democracia como aquela, né? Já imaginaram que desastre não seria?”
Há certo debate que não pode ser feito de cócoras ou com as duas mãos no chão. Tem de ser com a coluna ereta.
Ainda que Obama não tenha se comportado como se comportou por gosto, a opinião pública, que se expressa numa imprensa realmente plural, e a cultura institucional a tanto o obrigam, ganhe ou perca. Por aqui, acham normal que a vitória excite a fúria do algoz.