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Reinaldo Azevedo

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Gore Vidal está gagá

O Brasil talvez seja um dos últimos países do mundo em que ainda se dá uma pagina inteira de jornal a Gore Vidal, a exemplo do que fez a Folha de S. Paulo nesta segunda. Além de não ter mais nada de interessante a dizer, está gagá. Por mais que se esforce, ele jamais conseguirá […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 6 jun 2024, 07h59 - Publicado em 12 fev 2007, 16h54
O Brasil talvez seja um dos últimos países do mundo em que ainda se dá uma pagina inteira de jornal a Gore Vidal, a exemplo do que fez a Folha de S. Paulo nesta segunda. Além de não ter mais nada de interessante a dizer, está gagá. Por mais que se esforce, ele jamais conseguirá produzir nada tão indecoroso quanto o artigo escrito logo depois dos atentados de 11 de Setembro. Procurem na Internet se tiverem curiosidade. Não será difícil de achar. Aos terroristas, quando muito, ele dirigiu algumas ironias. Já aos americanos… É indisfarçável: os corpos ainda fumegavam ou estavam perdidos sob os escombros, e o velho crítico do stablishment estava acusando George W. Bush. Quando o seu delírio chegou mais longe, acusou Roosevelt de ter provocado os japoneses, razão por que houve o ataque a Pearl Harbor. Há um autor, antiamericano militante, leitura obrigatória no Itamaraty, que tem no romancista Vidal uma de suas principais referências teóricas contra a política americana.
Vidal tinha graça quanto o mundo era um pouco mais seguro por causa da Guerra Fria, e se sabia que o desastre potencial final mantinha o mundo em equilíbrio. Tirar uma casquinha dos caipiras republicanos parecia uma coisa divertida. Os impérios sempre têm os seus críticos, que tanto seduzem os colonos da periferia. Mas esse mundo, de que os EUA eram o centro, também acabou. E a crítica de Vidal envelheceu. Falo isso até com certo desconforto porque gosto de alguns de seus livros: Myra Breckinridge (na edição que tenho; há uma com o título “Myron”), Criação, Juliano, De Fato e de Ficção, Palimpsesto. Alguns outros não consegui encarar até o fim: Lincoln, Washington, D.C., Império, livros, enfim, em que ele, como ficcionista, pretende ser historiador da América. De todo modo, havia uma provocante originalidade nas coisas que dizia, o mundo sempre visto do andar superior, com certo dandismo e esgar esnobe, um Oscar Wilde inatingível e inatingido pela moral vitoriana, embora com uma literatura inferior. Mas era uma personagem interessante.
Ficou bobalhão, como prova a entrevista publicada na Folha de hoje, em que ele e entrevistador fazem uma espécie de competição para ver quem consegue ser mais crítico a George Bush (íntegra aqui). Tornou-se a versão culta, elegante, do delinqüente Michael Moore, o que é uma pena.
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