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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Em nenhuma democracia do mundo se tolera o que se viu ontem em SP, mas é o que quer a nossa imprensa. Ou: Portão arrancado, morteiros contra a PM e dois ônibus sequestrados. São as flores da “Primavera Brasileira”

O Movimento Passe Livre já está a merecer uma verdadeira antologia da estupidez. Leiam esta: “O comportamento da polícia foi muito diferente. Quando não há repressão, a gente consegue fazer um ato muito mais organizado, sem violência”. A fala é de um rapaz chamado Matheus Preis, um dos líderes da turma. Ele tem a seu […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 05h59 - Publicado em 18 jun 2013, 08h32

O Movimento Passe Livre já está a merecer uma verdadeira antologia da estupidez. Leiam esta: “O comportamento da polícia foi muito diferente. Quando não há repressão, a gente consegue fazer um ato muito mais organizado, sem violência”. A fala é de um rapaz chamado Matheus Preis, um dos líderes da turma. Ele tem a seu favor o fato de só ter 19 anos e uma longa vida pela frente para se recuperar das besteiras que diz. Quem não tem o direito de cair na sua é a imprensa. Mas cai. E de maneira miserável. O que Matheus está dizendo é o seguinte: desde que o grupo possa fazer o que bem entender, tudo certo. Se, no entanto, encontrar alguma resistência, aí… Mas que fique claro: a culpa, segundo ele, será sempre da polícia.

A fala do rapaz não e só estúpida. É falsa também. Ontem, a Polícia Militar, como vocês viram, se limitou a acompanhar os manifestantes. Fizeram o que lhes deu na telha, andaram por onde bem entenderam, ocuparam as ruas e avenidas a seu bel-prazer. Num dado momento, a coisa começou a ficar chata para os mais exaltados. Uma parte deles teve, então, a ideia de seguir para o Palácio dos Bandeirantes. Fecharam o trânsito na rua, que dá acesso ao hospital Albert Einstein. E começaram a forçar para derrubar um dos portões, o que acabaram conseguindo. Só não invadiram a sede do governo por causa das bombas de gás lacrimogêneo.

Ao longo do dia, foram tratados pela imprensa como poetas, como legítimos promotores de uma certa “Primavera Brasileira”. Muitos desses patriotas jogavam morteiros contra os policiais, que estavam do outro lado da cerca. Atenção: parte da avenida ainda está interditada. Um grupo continua em frente ao palácio, com suas indefectíveis mochilas nas costas. Isso lhes parece pouco? É verdade! Fizeram mais. Leiam trecho de reportagem da Folha:

(…)
Ainda no início da madrugada, manifestantes dirigiram dois ônibus biarticulados e usaram os veículos para bloquear a avenida. Os dois coletivos da linha 5119 (Terminal Capelinha – Largo São Francisco) foram guiados quando não havia mais passageiros.

O motorista de um dos coletivos disse que o ônibus dele e outro da mesma empresa seguiam pela avenida Morumbi quando foram bloqueados por manifestantes. Eles aguardaram e, quando pararam de ouvir barulho de bombas, decidiram seguir caminho imaginando que a via estava liberada.

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Ao se aproximar do palácio, foram cercados por manifestantes que exigiram que todos os passageiros saíssem do coletivo, inclusive cobradores e motoristas. O motorista de um dos ônibus, que preferiu não ter o nome divulgado, disse que foi agredido, teve a mão ferida por uma pancada e, após deixar o veículo, se refugiou dentro do Palácio dos Bandeirantes. Ele disse ter mostrado o crachá da empresa onde trabalha aos policiais para conseguir entrar no local.

Quando os ônibus foram esvaziados, manifestantes então assumiram a direção e subiram nas caçadas, bloqueando os dois sentidos da avenida Morumbi.”Nunca vi um aperreio que nem esse. Quando passei já estava voando pedra e bomba para tudo quanto era lado. Tinha muito passageiro, sorte que não ficou ninguém ferido”, disse Manuel Marcos, 46, motorista de ônibus há 22 anos.

Marcos disse ainda que em dias normais deixa o trabalho às 22h, “mas já são 1h20 e ainda estou aqui [na frente do palácio]. Amanhã às 13h, entro de novo”. A empresa Campo Belo, dona dos coletivos, enviou funcionários para manobrar os veículos e seguirem para o 34º DP (Vila Sônia), onde será feito um boletim de ocorrência.

Ambos os ônibus tiveram os extintores furtados e esvaziados na via. Um dos veículos ainda teve o para-brisa e retrovisor quebrados, enquanto o outro foi pichado.

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Voltei
Eis aí. Essa gente era cantada ontem em prosa e verso — a depender da emissora, vômito — nas televisões. Sequestro de ônibus, morteiros contra a polícia, derrubada de um portão… Agora mesmo, sete da manhã, o “Bom Dia, São Paulo”, da Globo, leva ao ar a entrevista de um rapaz que voltava do Palácio dos Bandeirantes, rumo a uma estação do metrô. Cinicamente, ele retirou do bolso um artefato já disparado de uma bomba de efeito moral para exibir: “É, estamos voltando do palácio, onde fomos recebidos com bombas, gás… Eu até trouxe uma lembrancinha, ironicamente chamada de bomba de luz e som…”. Ou por outra: ele queria invadir o palácio e ser recebido com flores…

Em nenhum lugar do mundo
Atenção! Em nenhum lugar do mundo uma polícia permite o que permitiu ontem a de São Paulo: o virtual colapso da cidade. Se alguém souber de algum exemplo, é só me contar. Protestos existem, sim, às pencas, mas em praças e áreas restritas. As democracias não permitem que coisas como o que se viram ontem ocorram porque direitos fundamentais são agredidos.

Mas não é esse o entendimento de, como é mesmo o nome dele? Matheus Preis. Também não é isso o que pensa a imprensa brasileira. A cidade pertence a quem a toma na marra. E fim de papo! Considera-se que os manifestantes já fizeram uma grande concessão ao não partir para o quebra-quebra — ao longo das passeatas ao menos.

Até quando vai? Vamos ver. Há um novo protesto marcado para a Praça da Sé nesta terça. Mais uma vez, suponho, se uma minoria conseguir impor a sua vontade à maioria sem ser atrapalhada por ninguém, tudo sairá às mil maravilhas.

Ou é assim, ou os nossos valentes jornalistas chamam a PM, que cumpre a lei, de fascista, e os fascistas que se impõem na base da truculência de as mais vistosas flores da Primavera Brasileira. Vamos ver se Elio Gaspari dá hoje a hora exata em que um manifestante jogou o primeiro morteiro contra os policiais que guardavam o Palácio dos Bandeirantes. Não! Ninguém me peça para condescender com isso. Eu não vou! Os manifestantes têm razão num particular: não é por 20 centavos. É por direitos. Pelo estado de direito.

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