Edinho não sabe o que é impeachment, não sabe o que é ruptura institucional, não sabe o que é política
Creio que o país nunca foi comandado por uma safra de políticos tão ruins. São poucas as figuras que estão acima da linha da mais constrangedora mediocridade
Se a presidente Dilma Rousseff tivesse algum juízo, não teria como um de seus porta-vozes e homens-chave do governo um investigado da Operação Lava-Jato. Mas tem. Refiro-me a Edinho Silva, ministro da Comunicação Social. Isso, por si, já é um acinte e um esculacho.
Pior: ele ousa posar de pensador e de articulador político. Não se alça um ex-caixa de campanha a essa condição, por mais competente que seja. Questão de decoro. Mas assim são as coisas.
Edinho concede uma Folha entrevista à Folha e também ele, depois de Jaques Wagner, resolve falar por Michel Temer. Isso é perder a noção do ridículo.
E Edinho, como arremate dos males, diz sandices. Leiam esta pergunta e esta resposta:
O impeachment, além de uma questão jurídica, é também político. Qual vai ser a estratégia da presidente para conquistar apoio político e social com os índices de popularidade do governo tão baixos e base no Congresso fragilizada?
O impeachment é um processo jurídico. Você não pode provocar uma ruptura institucional em um país com uma justificativa política, por conta de uma crise política que você supera com negociação e com construção de uma agenda nacional que unifique o país. A presidente Dilma tem dito que o modelo do Estado brasileiro, que garantiu vitórias sociais e democráticas importantes, precisa ser reformado.
A resposta é de tal sorte absurda que nem errada chega a ser. Trata-se apenas de um apanhado de tolices. Pela ordem:
1: Se o impeachment fosse só um processo jurídico, a corte a decidir a questão seria o Supremo. Como ele é principalmente político, sem deixar de ser jurídico, quem julga é o Senado. Edinho estaria errado se estivesse falando a sério. Mas ele está apenas fazendo política ruim;
2: Impeachment não é ruptura institucional. Edinho não sabe o que diz;
3: Edinho afirma que não se provoca ruptura institucional “com uma justificativa política”. Sempre destacando que impeachment não é uma ruptura institucional, as rupturas institucionais, quando acontecem, são sempre políticas. No Brasil e no mundo;
4: O que o modelo do estado brasileiro tem a ver com os crimes de responsabilidade cometidos por Dilma?
5: Dilma cometeu os crimes seguindo as leis do estado ou desrespeitando-as?
Não menosprezem o fator subjetivo na crise que aí está. Creio que o país nunca foi comandado por uma safra de políticos tão ruins. São poucas as figuras que estão acima da linha da mais constrangedora mediocridade.
E produzem coisas como essa entrevista. Que, reitero, jamais poderia estar sendo dada por um investigado da Lava Jato.