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Dicas para o homem comum, o classe-média, não ser vítima do bullying jornalístico

Dei em outro post algumas dicas para alguns especialistas que navegam na contra-corrente da metafísica influente (e, pois, quase sempre com a verdade) se proteger do jornalismo que os quer usar apenas como o “outro lado” que justifica uma tese. estúpida. E prometi algumas orientações para que também o homem comum possa se proteger de […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 11h48 - Publicado em 31 Maio 2011, 21h14

Dei em outro post algumas dicas para alguns especialistas que navegam na contra-corrente da metafísica influente (e, pois, quase sempre com a verdade) se proteger do jornalismo que os quer usar apenas como o “outro lado” que justifica uma tese. estúpida. E prometi algumas orientações para que também o homem comum possa se proteger de jornalistas. Preciso explicar algumas coisas, claro! O que chamo “homem comum” é aquele coitado de classe média que subiu um tantinho na vida e pode, inadvertidamente, topar com um desses amigos do povo que estão fazendo reportagem de comportamento e tendência para as edições de domingo. Então vamos ver.

Leitor, você é aquele ser desprezível que mora num bairro bom; que ganha a vida com o suor do seu rosto; que tem prazer em andar num carro bacana porque, afinal, fez por merecer; que se esforça para manter os filhos numa boa escola; que junta uma grana para viajar para o exterior a cada três, quatro anos e que NÃO TEM EMPRÉSTIMO SUBSIDIADO DO BNDES? Cuidado! O amigo pode ser vitima do bullying da imprensa esquerdopata, de  um golpe conhecido como “Boa Noite, Laura!”, que é a variante jornalística do “Boa Noite, Cinderela”. Quando acordar, já lhe levaram a reputação.

E quando isso ocorre? Sempre que houver alguma questão que sugira um confronto entre ricos e pobres. Sim, querido leitor de classe média:  os “ricos”, para essa turma, não são aqueles milionários ou bilionários que estão à sua esquerda e financiam as ONGs verdes e socialistas e votam no PT. Esses são “companheiros”. O inimigo público do pobre é… VOCÊ! Quando aquela figura estranha encostar de bloquinho na mão perguntando sobre o incômodo de os mendigos usarem a praça como dormitório, diga que “não”. Poderiam até dormir na sala do seu apartamento; é que falta espaço… Ouse: “Dormir ao relento é um dos direitos que igualam ricos a pobres, já que as moradias confortáveis não podem igualá-los”. Repita o raciocínio, que tem alguma complexidade, porque a pessoa que o entrevista não entendeu direito.

Cuidado nos aeroportos! O golpe “Boa Noite, Laura” vai tentar saber, como quem não quer nada, se você não sente saudade do tempo em que as salas de embarque eram menos cheias e se cumpriam, quase sempre, os horários. Um ser normal diria “sim”, e isso seria tomado como evidência de seu preconceito contra o povo, que agora anda de avião. Poetize:  não há conforto que pague a alegria da comunhão de classes — a B, a C e a D, já que a “A” não responde a esse tipo de indagação porque tem avião ou aluga jatinho.  Tente outra frase de efeito: “Já que, infelizmente, são tantas as desigualdades na terra, que, ao menos, o céu nos faça a todos iguais”. Repita.  Ela não entendeu de novo. Ensaie uma análise que apele à infraestrutura: “Precisamos de mais investimento neste novo Brasil”.

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A praia também o expõe ao bullying jornalístico. Nunca dispare coisas como “Farofeiro enche o saco!” ou “Porra! Por que eles não tocam essa música na praia que os pariu?!” Isso tem cheiro de intolerância de classe. A professora Heloísa Ramos poderia até ver uma variante do “preconceito lingüístico”. Conceda que o som é até bem animado e que o funk da cachorra, da cadela e da vaca tem a sua poesia. Seja enigmático:  Tati Quebra-Barraco é mais complexa do que parece. E pare por aí porque também não é bom exagerar.

Se quiserem meter uma estação de metrô na porta do seu prédio, afirme que isso é bom, que essa história de propriedade é uma etapa superada da civilização; que você acredita na “função social da propriedade, à qual a nossa Constituição se refere seis vezes, lembra?” A pessoa fará de conta que sabe do que se trata. Por conseqüência,  o MST é um movimento justo e pacífico, e o certo é haver invasões de propriedades privadas urbanas também.

Se lhe perguntarem se há empregada doméstica em sua casa, responda como Marilena Chaui fez um dia: “Não, querida(o), eu não levo a luta de classes pra dentro de casa”. Com aquela resposta, ela evidenciava não saber o que é “luta de classes” nem na acepção marxista, mas o jornalista que vai entrevistá-lo, com certeza absoluta, também não sabe.  Citar Marilena pega bem.

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Se o indagarem sobre cotas raciais nisso e naquilo, ainda que você seja um ser humano normal, desses democratas que acreditam que todos devem ser iguais perante a lei, minta. Afirme que o caminho mais curto para a igualdade é promover a desigualdade. Se quiser, pode até apelar a alguns ministros do Supremo, que andam dizendo que é preciso tratar desigualmente os desiguais.

Eu poderia passar a noite aqui a dar dicas. Os temas são inesgotáveis. Sob nenhuma hipótese revele gostos e hábitos de consumo, por exemplo. Se disser que gosta de tomar um Prosecco de vez em quando, vão tratá-lo como um cafona pretensioso e ignorante, porque quem é do riscado tem dinheiro é para tomar champanhe de… Champagne!  Não sendo um daqueles contemplados com juros subsidiados do BNDES, petistas roxos, eventuais contratantes dos serviços de consultoria de Antonio Palocci, você não tem dinheiro para certas extravagâncias.

Bem, queridos,  a essa altura, o agente do “Boa Noite, Laura!” está furioso porque a pauta está caindo, e domingo é dia de publicar essas matérias mais descontraídas, de comportamento e tendências. Terão de pegá-lo de algum jeito. Eu os protegi até aqui da pecha de “reacionários”. Nervoso, o ser que o entrevista tentará em seguida provar que, bem…, algum dinheiro você ganhou, mas é um ignorante! Aí virá a tentativa para desqualificá-lo intelectualmente. Mas esse terá de ser outro post.

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