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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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Comissão da Verdade — Os arquivos demonstram o que Mino Carta fez em verões passados. Ou: O entusiasta da ditadura e da Oban

Paulo Henrique Amorim, o notório, de braços dados com Mino Carta, da mesma estatura, escreveu ao menos uma verdade na vida para exaltar o seu amigo, a saber: “Como é de conhecimento do mundo mineral, quem fez a VEJA, quando podia ser lida, foi o Mino Carta. O Robert(o) lia a Veja na segunda feira, […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 08h47 - Publicado em 25 Maio 2012, 06h05

Paulo Henrique Amorim, o notório, de braços dados com Mino Carta, da mesma estatura, escreveu ao menos uma verdade na vida para exaltar o seu amigo, a saber:

“Como é de conhecimento do mundo mineral, quem fez a VEJA, quando podia ser lida, foi o Mino Carta. O Robert(o) lia a Veja na segunda feira, depois de impressa, porque o Mino não deixava ele dar palpite ANTES de a revista rodar.”

De fato, nunca houve dúvidas de que era Mino quem mandava. Era Mino quem decidia. A função de patrão, para ele, era pagar as contas de seu brilho incomparável.

Hoje Mino é um “progressista”, um verdadeiro guia a orientar o jornalismo de esquerda. E odeia VEJA, como é sabido. Cumpre, então, deixar claro quais eram as escolhas do chefe inconteste enquanto esteve no comando da revista — aquela na qual ele não deixava Roberto Civita dar palpite. Enquanto escrevo, assobio mentalmente: “Esses moços, pobres moços, ah, se soubessem o que eu sei…”.

Na edição de 4 de fevereiro de 1970, a revista publicava uma reportagem, exaltada pelo diretor de Redação na Carta ao Leitor, devidamente assinada, sobre o famoso “roubo do cofre do Adhemar”. Na mesma edição, sob o pulso firme de Mino Carta, um outro texto detalhava os bastidores do desmantelamento dos grupos de esquerda.

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Com o seu conhecido porte imperial e a notória intolerância com os que pensam de modo diferente — tanto é assim que não deixava nem mesmo o patrão dar pitaco na revista —, Mino cantou as glórias da Operação Bandeirantes, conhecida por torturar prisioneiros. Seguem alguns trechos verdadeiramente encantadores da obra deste que é hoje um oráculo do jornalismo que se quer “progressista” e de esquerda — desde que devidamente recompensado pelo estado, é claro.

Peço que vocês leiam atentamente estes dois trechos, um sequência do outro, em que Mino Carta exalta a eficiência da Oban. Volto em seguida:

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Voltei
Como este mundo pode ser pateticamente engraçado! Duas das organizações que estão no radar deste Colosso de Rhodes do jornalismo no texto acima são  o Colina e a VAR-Palmares, justamente os grupos a que pertenceu Dilma Rousseff, que havia sido presa 20 dias antes da publicação da reportagem — 16 de janeiro. Em 1970, com Dilma na cadeia, Mino vestia uniforme e batia continência para “tranquilizar a nação”. Quarenta e dois anos depois, com Dilma na cadeira presidencial, Mino põe no peito a estrela do PT e…, bem, continua a bater continência para o poder. Que talento inigualável para servir!

Grave
Não deve lhes escapar um detalhe: Mino elogia a decisão da Oban, conhecida por torturar prisioneiros, de esperar algum tempo para anunciar as detenções. Será que ele não se perguntava por quê? Enquanto as prisões eram mantidas na surdina, o que será que ofereciam aos detidos? Sorvete Chicabon? Vocês merecem ler mais algumas coisas, tudo absolutamente disponível no arquivo digital de VEJA. Era o tempo em que Mino mandava!

Mino ironiza os presos
Leiam estes dois fragmentos na sequência. Na legenda da segunda imagem, explico as circunstâncias.

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Como vocês leram, trata-se do relato de prisão por engano de um tenor. Teve de cantar para provar que falava a verdade. Mino achou a situação espirituosa e a usou como metáfora: afirmou que os presos pela Oban tiveram de “cantar música completamente diferente”. Como ele se acha dono de um humor sutilíssimo, deve ter achado um chiste engraçado. Está na edição de 17 de abril de 1969
Como vocês leram, trata-se do relato de prisão por engano de um tenor. Teve de cantar para provar que falava a verdade. Mino achou a situação espirituosa e a usou como metáfora: afirmou que os presos pela Oban tiveram de “cantar música completamente diferente”. Como ele se acha dono de um humor sutilíssimo, deve ter achado um chiste engraçado. Está na edição de 17 de abril de 1969


Mino faz o elogio da Junta Militar

Sempre sem consultar ninguém, na mesma edição de abril de 1969, o hoje principal representante do “progressismo” elogia a Junta Militar e suas graves responsabilidades, inclusive a adoção da pena de morte.

Sempre sem consultar ninguém, na mesma edição de abril de 1969, o hoje principal representante do “progressismo” elogia a Junta Militar e suas graves responsabilidades, inclusive a adoção da pena de morte.

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Mino faz a apologia da democradura

Leiam os três textos em sequência. Na legenda do terceiro, explico as circunstâncias. Volto em seguida para encerrar.

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Notem que todo o encadeamento dado pelo maior gigante do jornalismo de todos os tempos flerta abertamente com a ideia de que a democracia, nos moldes tradicionais, não é muito adequada à realidade brasileira. Até porque o país tinha outra urgência: combater a subversão. Mino nunca foi partidário da ditamole. Ele gostava mesmo era de uma democradura.
Notem que todo o encadeamento dado pelo maior gigante do jornalismo de todos os tempos flerta abertamente com a ideia de que a democracia, nos moldes tradicionais, não é muito adequada à realidade brasileira. Até porque o país tinha outra urgência: combater a subversão. Mino nunca foi partidário da ditamole. Ele gostava mesmo era de uma democradura.

Voltei
A alguns desses trechos, o jornalista Fábio Pannunzio já deu destaque em seu blogue. A ditadura de Mino Carta em VEJA, felizmente, chegou ao fim nos primórdios de 1976, quando a revista, apesar da censura ainda vigente, inicia seu esforço para exercer a sua vocação original, penosamente distorcida pelo cesarismo cartiano. Refiro-me à defesa dos valores que a transformaram na maior revista do país e numa das maiores do mundo: a defesa da democracia e do estado democrático e de direito.

Algumas pantomimas só prosperam hoje em dia porque o passado de certos gigantes morais fica debaixo do tapete. O arquivo digital de VEJA já está há tempos no ar. O Estadão acaba de lançar o seu. É chegada a hora de revermos o passado de certos “progressistas” que andam por aí. Vocês nem imaginam quantas são as supostas “referências morais do jornalismo” que serviram de escribas entusiasmados do golpe militar de 1964. Alguns deles, ora, ora, pediriam mais tarde indenização ao estado porque supostamente “perseguidos”. E hoje, curiosamente, tentam esconder esse passado defendedo a revisão da Lei da Anistia. Eu, por exemplo, sou diferente: levei borrachada, fui fichado e sou contra a revisão. Mundo engraçado, né?

E para que não reste a menor dúvida: a censura impedia, sim, a publicação de muita coisa, mas não obrigava a publicar elogios. Os feitos por Mino Carta eram coisa de coração, de vocação, de gosto, de adesão a uma causa. E, como ele sempre fez questão de deixar claro, nunca deixou ninguém “dar palpite”. Foi obra de autor, como não cansa de se autoelogiar.

Acho que vou tomar gosto por esse negócio de “Comissão da Verdade”…
PS:  Como sou um homem justo, noto que Mino tinha uma qualidade naquele tempo: chamava terroristas de “terroristas” e terrorismo de “terrorismo”.
 
 

 

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