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Ciro Gomes nos convida a ficar com o lado que abriga um “ajuntamento de assaltantes”?

Ai, ai… Ciro Gomes é mesmo um político singular. Hoje tirei o dia para tratar de singularidades… Karl Marx — sim, o velho barbudo e furunculoso, aquele… — tinha uma relação de amor e ódio com Ferdinand Lassale (1825-1864). Tinham lá suas diferenças sobre os rumos da social-democracia. Acho que foi num texto de Edmund […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 06h47 - Publicado em 26 fev 2013, 20h10

Ai, ai… Ciro Gomes é mesmo um político singular. Hoje tirei o dia para tratar de singularidades… Karl Marx — sim, o velho barbudo e furunculoso, aquele… — tinha uma relação de amor e ódio com Ferdinand Lassale (1825-1864). Tinham lá suas diferenças sobre os rumos da social-democracia. Acho que foi num texto de Edmund Wilson que li uma definição de Marx sobre o seu amigo-desafeto: “caos de ideias claras”. Marx era um bom frasista, e a expressão, admitamos, é boa pra chuchu. Quantas vezes, ouvindo alguém de quem discordamos no conjunto, podemos isolar verdades parciais, que, no entanto, não compõem um todo coerente?

Sempre adaptando a frase às circunstâncias, é evidente!, Ciro Gomes pode, na melhor das hipóteses, ser definido como um “caos de ideias claras”  — às vezes, também as ideias são confusas, é bom deixar claro.

Muito bem! Ele foi convidado a dar uma palestra a empresários baianos. Como é de seu feitio — informa Nelson Barros Neto, na Folha Online —, falou de tudo um pouco, enxergou o mundo de cima pra baixo e foi sentencioso. Reiterou que Eduardo Campos, governador de Pernambuco e chefe máximo de seu partido, o PSB, não está preparado para disputar a Presidência. E ele o fez onde? Na Bahia, maior colégio eleitoral do Nordeste, região em que Dilma perdeu prestígio e em que, por óbvio, Campos pretende crescer antes de tomar uma decisão. Ser um caos de ideias claras não quer dizer ausência de cálculo. Ciro estava trabalhando.

Muito bem. O que disse ele?

Afirmou que a presidente Dilma Rousseff, cuja reeleição ele apoia, dificilmente escapará de uma aliança com o PMDB de Renan Calheiros e Henrique Eduardo Alves. “Se escapar, eu quero o santo dela para trocar o da minha devoção. Eu não acredito que escape”, afirmou nesta terça, antes da palestra. Sobre o partido, ele já afirmou não faz tempo: “Hoje, quem manda no PMDB não tem o menor escrúpulo: nem ético, nem republicano nem compromisso público. Nada! É um ajuntamento de assaltantes”.

Muito bem! Lula já bateu o martelo e decidiu que Michel Temer será, de novo, o candidato a vice na chapa de Dilma. Então ficamos assim: a serviço da dupla Lula-Dilma, Ciro ataca um possível candidato de seu próprio partido em favor da coligação que engloba o que ele próprio chama da “ajuntamento de assaltantes”.  Para mostrar, no entanto, que não condescende com ninguém — o que é falso —, faz a crítica ao PMDB. Mesmo em companhia do “ajuntamento de assaltantes”, ele disse que a presidente está “qualificada para concorrer à reeleição”.

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Assim, leitor, você pode estar entre aqueles que concordam com Ciro no juízo que faz do PMDB, certo? Mas, quando ele se junta a Dilma, apesar disso, como concordar??? Quando ele acusa aquele partido, expressa uma opinião — que, admita-se, não é só dele. Quando, ainda assim, ele diz “é com essa que eu vou”, aí já nos propõe uma saída ética, não? “Mesmo com ajuntamento de assaltantes, estou nessa!” Alguma falha lógica no que escrevo?

Vamos seguir.

Segundo a reportagem, ele insistiu que Campos não tem propostas para o país. Marina Silva e Aécio Neves padeceriam do mesmo mal, embora ele reconheça nos três “todos os dotes e qualificações pessoais”.

Vamos tentando ver para onde nos leva o caos de eventuais ideias claras de Ciro Gomes. Ele certamente considera Dilma dotadas dessas mesmas virtudes pessoais. Como está com a presidente, suponho que entenda ter ela uma “proposta para o país”. Tá… Não obstante, terá, se reeleita, a exemplo do que ocorre hoje, sempre segundo Ciro, de dividir o poder com um “ajuntamento de assaltantes”. Disso deriva que, para podermos ter um governo viável (sempre acompanhando o Lassale de Sobral), é preciso que nos entreguemos a um “ajuntamento de assaltantes”. Seríamos, na visão de Ciro, reféns de criminosos mais ou menos como acontece nos morros e nas periferias das grandes cidades.

Adiante.

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Reserva estas palavras para Marina Silva:
“A Marina pegou o lugar que era nosso [do PSB]. Só por essa negação, essa ética católica, essa posição evangélica, enfim… Tem uma turma aí que está desacreditada da política. Ela quer explorar isso, né”.

Hannn… Marina, se levada a sério pela maioria do eleitorado, seria perigosa não por causa da “ética católica” ou “evangélica” (se é que sei do que fala Ciro), mas do que propõe (a parte compreensível ao menos) para o Brasil. É claro que ela explora o mal-estar provocado pelos pistoleiros — ocorre que os pistoleiros existem. Ou não?

Sobre Aécio Neves, diz que o tucano pretende “aproveitar a estrutura orgânica do conservadorismo brasileiro”. Como alguém que torce pela derrota do PT, exclamo: “Quem dera!!!” Nem Aécio nem o PSDB como um todo querem conversa com o “conservadorismo”. Numa democracia em moldes tradicionais, e a nossa não é, essa análise poderia fazer sentido, e não haveria mal nenhum nisso — partidos, em todos os países democráticos, se organizam para falar aos conservadores também. Mas esse não é o PSDB.

Até porque, se Ciro fosse colocar um pouquinho de economia em seus juízos de valor, teria de dizer quem são e onde estão os “conservadores” brasileiros. É o capital industrial? Os potentados estão com o PT (porque o PT está com o BNDES…). É o capital financeiro? Os outros potentados estão com o PT porque o PT oferece, sendo genérico e sintético, as melhores taxas. Quem são os “conservadores”, Ciro Gomes?

Nota-se, assim, como o dito, que o caos de ideias claras de Ciro Gomes abriga, também, ideias confusas.

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