Cara Mônica Bergamo,
Jamais desconfiei de seu esforço de reportagem, o que lhe rende uma página de muito e justo prestígio na Folha. Também louvo-lhe o esforço. Embora eu fale com muita gente, prefiro o telefone. Você sabe como são os políticos: cada um tem suas próprias teorias conspiratórias, isso quando não estão fazendo de conta que seu […]
É evidente que seu texto trata de um tema que está em todas as rodas políticas. Posso discordar do resultado da apuração, mas jamais considerei o tema irrelevante. No que respeita à questão geral, reitero o ponto de vista expresso na minha contestação de sábado: a arquitetura do que você chama “acordo informal” desmorona com a tramóia do dossiê fajuto. Convenha: a reeleição de Lula estava garantida, considerávamos todos nós: jornalistas, políticos da oposição e da situação, eleitores. Havendo então o “acordo”, melhor seria deixar que as coisas seguissem o seu curso.
Como, a meu juízo, este acordo nunca existiu — há pessoas do PT e do PSDB que o negam com veemência; dignas, também estas, de credibilidade, certo? —, os petistas tentaram dar um golpe na eleição de São Paulo, com efeito na política nacional. Afinal, aquele que lideraria a oposição — José Serra — estaria em severos apuros. Você sabe que não acato a versão de que se tratava apenas de uma trama do PT paulista. Os indícios gritam em outro sentido: por que há tanta gente do entorno presidencial metida na conspiração?
Repare: fosse este um romance policial, seria forçoso observar que o dossiê elimina a principal suspeita do detetive. Ou precisamos achar uma explicação para ele. No que respeita, agora, ao terreno da lógica, tenho uma consideração a fazer. Não ignoro que a reeleição de Lula possa, em tese ao menos (e só em tese), favorecer eventuais pretensões presidências de José Serra ou de Aécio Neves. Mas estaríamos diante de um desses casos clássicos que servem para ilustrar a diferença entre “correlação” e “causalidade”.
Não é porque facilite, que estamos, então, autorizados a concluir, que tudo foi urdido para que se chegasse a tanto. Alckmin só é o candidato do PSDB porque quis — e como quis! Não foi empurrado a tanto. Para que aquele Tratado de Tordesilhas político de que alguns dão fé pudesse ser verdadeiro, o ex-governador de São Paulo deveria ter sido, desde o começo, o Bel’Antonnio da história. Basta que recuperemos a disputa interna havida no PSDB para a escolha do candidato à Presidência, e chegaremos à conclusão fácil de que não era.
Em seu texto, você reitera que o acordo existe, ainda que me “desagrade”. Veja: pessoalmente, a questão me é absolutamente irrelevante. Assim como você falou com pessoas que asseguram a sua existência (e eu também), há as que o negam. Estamos diante de duas histórias verossímeis, críveis. Mas só uma é verdadeira. Eu acredito, aí falando como analista, que a verdade é contrária ao que sustenta a sua reportagem. A minha, vá lá, crença acolhe o conjunto dos fatos, incluindo o dossiê. A sua, entendo, só faz sentido caso o excluamos da história.
Agradeço o seu e-mail. E creio que podemos estar inaugurando uma vereda nova no jornalismo: a discordância cordial, em que duas razões se confrontam sem se deslegitimar. Um beijo do
Reinaldo