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Aquele abraço

Lula fez ontem a sua pantomima anual com os catadores de papel e moradores de rua de São Paulo, ocasião em que foi testado o protótipo de um carrinho elétrico para substituir o tradicional e pesado carrinho de mão do “povo em situação de reciclagem”, para usar uma terminologia ao gosto da turma. Com Lula […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 20h02 - Publicado em 23 dez 2007, 06h02
Lula fez ontem a sua pantomima anual com os catadores de papel e moradores de rua de São Paulo, ocasião em que foi testado o protótipo de um carrinho elétrico para substituir o tradicional e pesado carrinho de mão do “povo em situação de reciclagem”, para usar uma terminologia ao gosto da turma. Com Lula é assim: a carrocinha ganha motor; o inferno tem ar condicionado; o purgatório tem uma janelinha para o inferno. Ontem um petralha perguntou: “Você não se cansa de falar mal de Lula?” Não. Enquanto Lula não se cansar de ser Lula.

Ele falou de temas nacionais (veja abaixo), como a CPMF. Disse que não foi ele quem criou, mas que a contribuição era importante pra Saúde; que não se sentiu derrotado; que não ficou nervoso, essas coisas. Tudo mais ou menos previsível e dentro do roteiro. Esse é o Lula para consumo institucional. Mas também estava presente o Lula não-institucional, aquele que abraçou o padre Júlio Lacelotti, da Pastoral do Povo da Rua. E mandou bala: “A gente não tem de ter vergonha de um amigo. Companheiro é coisa tão sagrada, que a gente constrói ao longo de muitos anos, de muita solidariedade”.

É… Eu estou enganado ou a fala de Lula sugere haver, sim, motivos para “ter vergonha do amigo”, mas esses motivos são superados pela condição de “companheiro” de Júlio Lacelotti? Não. Eu não estou enganado. A fala do presidente me parece bem mais deletéria do que se ele simplesmente declarasse a inocência do padre e ponto final: “Estou aqui porque tenho a certeza de que o companheiro é inocente”. E pronto. Amigos podem fazer essas coisas.

Mas não foi isso o que Lula fez, não. De fato, ele repetiu o mesmíssimo comportamento que teve com mensaleiros e aloprados: não importa o que tenham feito, são “companheiros”, e aos “companheiros” são facultadas licenças vedadas aos demais homens. São seres especiais, que transitam acima das leis e da moralidade que servem aos outros. Bem pensado, esse é o político que se declara “metamorfose ambulante”, do partido que tem uma opinião quando é oposição e outra quando é situação. O poder do PT decorre, em suma, de sua absoluta, escancarada e monumental amoralidade.

Na semana passada, lendo o noticiário sobre o leilão para a operação dos celulares 3G, ocorreu-me que tudo se fez, desta feita, sem protestos, sem chiadeira, sem mobilização. Os tontons-macoutes estão recolhidos. De fato, o PT aderiu, como sabem às privatizações, mas com uma desculpa: as deles são muito melhores do que as do governo FHC… Sim, é preciso ter uma cara-de-pau imensa para adotar esse padrão de política sem corar.

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Volto a Júlio Lancelotti. O sacerdote já dá, de novo, o ar de sua graça, como um verdadeiro messias do “povo em situação de rua”. A atuação continua a mesma: em vez de ajudar a Prefeitura a encaminhar as pessoas que não têm casa aos albergues, a reivindicação estúpida, reacionária e politiqueira é para que ocupem o espaço público. O padre vai, assim, se livrando de uma história incrivelmente esfarrapada por conta de seu alinhamento ideológico com a esquerda e com o petismo em particular. Afinal, ele é um “companheiro”. E os companheiros podem tudo — inclusive declarar uma suposta extorsão de R$ 30 mil, que depois viram R$ 80 mil, que se transformam em R$ 150 mil… Em moeda sonante… Ah, sim, o ex-amigo do padre afirma ter recebido uns R$ 800 mil.

O “companheirismo”, como a gente vê, é um redutor de moralidades. Redimido, Ricardo Berzoini, o chefe dos aloprados, confirma o comando do PT. Lancelotti volta ao palanque. Os mensaleitos voltam à Câmara. José Dirceu é um gigante da consultoria. Lulinha é um próspero empresário da mídia. O abraço em Lancelotti, de fato, foi o encontro da fome com a vontade de comer. Ambas saciadas pela República dos Companheiros.

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