Alucinação assassina
Tomar o chá alucinógeno da seita Santo Daime quando se tem um transtorno psíquico, afirmam especialistas, é o mesmo que jogar gasolina sobre um incêndio. Tudo indica que foi o caso de Cadu, o assassino do cartunista Glauco e de seu filho Raoni Por Kalleo Coura e Renata Betti, na VEJA Montagem com fotos de […]
Tomar o chá alucinógeno da seita Santo Daime quando se tem um transtorno psíquico, afirmam especialistas, é o mesmo que jogar gasolina sobre um incêndio. Tudo indica que foi o caso de Cadu, o assassino do cartunista Glauco e de seu filho Raoni
Por Kalleo Coura e Renata Betti, na VEJA
Montagem com fotos de Christian Rizzi/AGP/Folhapress e Marcos Mendes![]() |
LOUCURA E MORTE Carlos Eduardo Sundfeld Nunes, assassino confesso do cartunista Glauco e de seu filho Raoni: alucinações levaram ao crime |
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Nos últimos três anos, Cadu, de 24 anos, vinha exibindo claros sinais de que estava sofrendo de distúrbios psíquicos. Esse período, segundo seu pai, Carlos Grecchi [pai de Cadu], coincide com o tempo que o filho começou a frequentar o Céu de Maria, igreja fundada por Glauco e pertencente à seita Santo Daime, que mistura elementos do cristianismo, espiritismo e umbanda e prega o consumo de um chá com efeitos alucinógenos como forma de “atingir o autoconhecimento e a consciência cósmica”. O comportamento de Cadu, diz Grecchi, começou a se transformar quando ele passou a fazer uso da dimetiltriptamina (DMT), o princípio ativo presente na beberagem consumida por adeptos da seita. Por diversas vezes, tanto Grecchi como os avós de Cadu ouviram o jovem dizer que era a reencarnação de Jesus Cristo. Também por diversas vezes os parentes flagraram o jovem rezando, numa ocasião debaixo de chuva forte, para plantas que ele dizia serem reencarnações de entidades religiosas.
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A DMT é proibida em quase todo o mundo. Ao lado do LSD e da mescalina, ela aparece na lista de drogas controladas na Convenção sobre Substâncias Psicotrópicas da Organização das Nações Unidas. Essa lista é seguida por 183 países, o Brasil incluído. A convenção, entretanto, não proibiu plantas ricas na substância, como a erva-rainha ou chacrona, que dá origem à beberagem do Daime. Isso permite a interpretação de que apenas a substância é proibida e a planta, que tem pequena concentração dela, não. No Brasil, em 1992, graças a uma campanha liderada por “ayahuasqueiros”, o Conselho Federal de Entorpecentes liberou o consumo do chá daimista “para fins religiosos”. Foi o primeiro de uma sucessão de erros que culminou com a consagração do chá como “bebida sagrada”, título concedido à substância alucinógena pelo estado brasileiro em janeiro passado. O advogado criminalista Fernando Fragoso considera a interpretação casuística. “Uma droga não deixa de ser droga se for consumida no meio de um ritual. A substância é lícita ou não é”, diz. A Associação Brasileira de Psiquiatria também já se manifestou contra a liberação do chá, sob o argumento de que não existem estudos suficientes para descrever em profundidade a ação no cérebro da DMT presente na beberagem.
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