Inverno: Revista em casa por 8,98/semana
Imagem Blog

Reinaldo Azevedo

Por Blog Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

A vitória dessa tal “mídia”

Vocês podem imaginar o que aconteceu assim que o Senado decidiu manter o mandato do senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Houve uma revoada de petralhas para cá, a maioria colando um texto de um dos anões do jornalismo em que ele decreta que a vitória de Renan é a derrota da mídia — especialmente de VEJA, […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 20h25 - Publicado em 12 set 2007, 19h59
Vocês podem imaginar o que aconteceu assim que o Senado decidiu manter o mandato do senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Houve uma revoada de petralhas para cá, a maioria colando um texto de um dos anões do jornalismo em que ele decreta que a vitória de Renan é a derrota da mídia — especialmente de VEJA, Folha, Estado e veículos das organizações Globo. Qual a tese? Aquela, já lembrei aqui hoje, de Marilena Chaui e de Wanderley Guilherme dos Santos segundo a qual a mídia é um partido político.

Aliás, justiça seja feita, antes deles, quem escreveu um texto a respeito foi Octávio Ianni, já morto, expoente da sociologia de esquerda. Ianni chamava o “partido da mídia” de “Príncipe Eletrônico”, numa referência a Gramsci. Seu delírio consistia em ver nos meios de comunicação a versão, digamos, de direita do que o teórico comunista imaginava para um partido de esquerda.

Como a tal “mídia” não existe — e só uma teoria conspiratória de larápios —, é evidente que nem ganha nem perde o que nem tem um corpo definido ou um conjunto de interesses a defender. Mas, de fato, há os vitoriosos. Vencem, numa esfera miúda, contingente, os métodos que Renan Calheiros usa para fazer política. Nesse episódio, o Senado tem a clareza de suas explicações, o amor à legalidade de suas notas frias, o rigor de sua aritmética perturbada. Mas são, insisto, vitórias mesquinhas. A questão é bem outra.

O PT transformou o que é uma apuração objetiva de crimes cometidos contra a República e contra o mandato popular numa luta contra a imprensa, tornada, cada vez mais, inimiga do poder. Claro, há as exceções, os áulicos de sempre, até dentro dos veículos sérios. É há os pequenos palhaços assalariados, uma escória surgida junto com o governo petista. Revestem com pitadas de ideologia o que é uma variante do roub, assaltando, a um só tempo, o erário e a teoria política. Não são apenas beneficiários da malandragem; são também seus protagonistas, embora menores.

Eu estou chateado com o resultado? Claro que sim. Decepcionado? Um tanto. Surpreso? Não. Nas contas que fiz ontem, faltavam dois votos para cassar Renan. Eles não vieram — e quatro outros desertaram, com alguns se escondendo na abstenção. Imaginem só: abstenção em voto secreto! São aqueles que se acovardam até diante da própria consciência.

Continua após a publicidade

Ao contrário do que pregam os anões morais, a imprensa tem sido e continuará a ser vitoriosa nesse processo. Observem como emprego os verbos. Não estamos numa conta de chegada; não há um objetivo a ser alcançado. É mais do que compreensível que uma parte do Senado tenha decidido se fechar em defesa de Renan Calheiros: afinal, como deixou claro o senador Francisco Dornelles (PP-RJ), num discurso notavelmente cínico, os valentes estão defendendo a si mesmos. O que sei é que o jornalismo não vai se intimidar — e o próprio Renan continuará a ser personagem não do que os repórteres inventam, mas de sua própria e escandalosa biografia. E o mesmo vale para o petismo.

Lamento — isto sim — que uma parte da opinião pública possa ser tomada por certa apatia, afirmando um “não adianta; eles sempre se safam”, desistindo, então, da política como uma forma civilizada de resolução de conflitos. Isso, de fato, é ruim. O resto, meus caros, é do jogo. Eu mesmo alertei aqui há dias para a atuação dos petistas, votando contra Renan no Conselho de Ética e pedindo sessão aberta. Era só uma embaixadinha pra torcida. Como a disputa se acirrou na reta final, o presidente do Senado jogou a conta em cima do balcão, e só restou ao PT arcar com seus débitos.

O petismo é uma construção muito mais perigosa do que parece. A absolvição de Renan expõe, ainda outra vez, a real natureza do partido. E a parte do jornalismo que atua com desassombro, com amor apenas à notícia, evidenciou-o de forma insofismável. O lambe-botas do Planalto, como sempre, está errado. A mídia venceu.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 5,99/mês*
OFERTA INVERNO

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada edição sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.