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Reinaldo Azevedo

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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

A Ucrânia acorda para o seu ódio

Uma crise com a violência que se vê na Ucrânia não explode da noite para o dia. Há por lá menos desejo de se integrar à Europa do que rancor da Rússia, que foi, afinal de contas, o centro do império soviético. Mesmo depois da desintegração desse império, o país nunca deixou de ser uma espécie […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 04h24 - Publicado em 21 fev 2014, 06h55

Uma crise com a violência que se vê na Ucrânia não explode da noite para o dia. Há por lá menos desejo de se integrar à Europa do que rancor da Rússia, que foi, afinal de contas, o centro do império soviético. Mesmo depois da desintegração desse império, o país nunca deixou de ser uma espécie de satélite russo. E velhos ódios ficaram guardados, para explodir agora.

Poucos países pagaram um preço tão alto para construir a antiga União Soviética. Entre 1930 e 1933, calcula-se que pelo menos 3,5 milhões de ucranianos morreram de fome em razão da política de coletivização da agricultura empreendida por Stálin. A Ucrânia era considerada uma espécie de celeiro dos soviéticos. Os relatos da fome nesse período são aterradores.

Há até uma palavra para designar o que se chama de “holocausto ucraniano”: holodomor, que significa “extermínio pela fome”. No livro “A Corte do Czar Vermelho”, Simon Sebag Montefiore transcreve telegramas de agentes de Stálin enviados ao país que, entre relatos burocráticos, afirmam chegar a aldeias em que toda a comunidade estava morta. Estima-se que o ditador mandou nada menos de 350 mil ucranianos para campos de trabalho forçados. Uma lei para punir camponeses que roubassem alimentos foi criada pensando na Ucrânia: atendia pelo simpático nome de “Apropriação Indevida de Propriedade Socialista”.

Stálin estava convencido de que os ucranianos buscavam sabotar o seu esforço e deslocou para o país um enorme contingente de agentes da polícia política. O resultado foi trágico. O tirano determinou um bloqueio à Ucrânia, e a região estava proibida de receber qualquer alimento de outras regiões. Aos mesmo tempo, os camponeses não podiam cruzar a fronteira do país em busca de comida.

“A Rússia atual não é a União Soviética”, dirá alguém. Mas é evidente que é a sua herdeira. Se o estopim das manifestações foi a recusa do presidente do país, Viktor Yanukovytch, de levar adiante o seu plano de integração à Europa, o que há, de verdade, é uma reação à condição de eterna submissa da Rússia.

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Um país não sai de uma relativa paz para uma situação de guerra civil se ódios antigos não restam ainda vivos nas consciências. É o que se viu, por exemplo, no desmantelamento da Iugoslávia. Repúblicas que até então pareciam viver em paz resolveram reciclar dissensões seculares.

Noto — e isto precisa ser dito — que também os protestos fugiram do controle, e há táticas de luta que podem, sem favor, ser chamadas de terroristas. Não parece que os líderes de oposição estejam se comportando também da forma mais responsável. De todo modo, não se vislumbra uma saída civilizada para o governo — este ou outra que venha a assumir — que não passe por uma maior independência em relação à Rússia.

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