Inverno: Revista em casa por 8,98/semana
Imagem Blog

Reinaldo Azevedo

Por Blog Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura

A sociologice no debate sobre a violência e os números virtuosos de São Paulo: assassinato de crianças e adolescentes caiu 78,2% em dez anos

Elogiei hoje de manhã um texto do jornalista Vinicius Mota, publicado na Folha. Ele critica a tendência ao que eu chamaria “sociologice” quando o tema violência entra em pauta. Cita dois casos em particular: o atirador do cinema, nos EUA, e o publicitário morto pela PM em São Paulo. Ambos se prestam, ele observa, à […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 08h19 - Publicado em 23 jul 2012, 19h45

Elogiei hoje de manhã um texto do jornalista Vinicius Mota, publicado na Folha. Ele critica a tendência ao que eu chamaria “sociologice” quando o tema violência entra em pauta. Cita dois casos em particular: o atirador do cinema, nos EUA, e o publicitário morto pela PM em São Paulo. Ambos se prestam, ele observa, à generalização indevida. O primeiro seria expressão da “cultura das armas” da sociedade americana; o segundo refletiria a militarização indevida da PM. Abrem-se, então, as veredas para as críticas e as sugestões dos ditos “especialistas”, sempre empenhados, como sabemos, na reengenharia social.

Com propriedade, Mota observa: “Não foi o militarismo que matou o empresário paulista nem a cultura das armas que massacrou no Colorado. Foram indivíduos, plenamente responsáveis pelo que fizeram.” Eis o ponto. Os dias são propícios a uma cultura que expropria os indivíduos de suas responsabilidades. É curioso: a era da afirmação das identidades, das culturais locais, grupais, idiossincráticas às vezes, convive com o desejo de soluções globais e definitivas, que transformariam o cidadão num resultado exato de algumas operações quase matemáticas. Na vertente benigna, trata-se de uma tolice; na maligna, voltamos às tentações totalitárias de sempre.

Não há sociedade perfeita o bastante que possa impedir o surgimento do atirador do Colorado ou da Noruega — país apontado como dos sonhos por muita gente — a menos que passemos a perseguir o “Admirável Mundo Novo”, de Aldous Huxley, com a administração de doses cavalares da droga “Soma” para toda a população. Livres dos empecilhos da religião, da ética e das escolhas pessoais, um remédio daria conta do recado, e estaríamos todos livres dos dilemas. Todas as distopias que tratam de um mundo totalitário passam, por óbvio, pelo fim das vontades e das escolhas. Totalitários de direita e de esquerda — estes com mais dedicação à causa — estão certos de que o mal do mundo está na pluralidade de vontades.

Nos Estados Unidos, voltou o debate sobre a restrição à venda legal de armas. Ás vésperas da eleição, o tema ocupará a pauta por algum tempo e não dará em nada. Não é a cultura da arma que está arraigada na sociedade americana, mas outra: a de que o indivíduo tem o direito de se proteger; ninguém pode fazer isso em seu lugar — nem o estado. A defesa pessoal, no caso, se distingue das políticas de segurança pública. A pergunta óbvia, de resposta não menos óbvia, é esta: esse individualismo fez bem ou mal aos Estados Unidos? O mau uso que se pode fazer do direito de ter uma arma é razão para que ele seja extinto? Ora…

No caso da Polícia de São Paulo, nada mais despropositado e contrário à evidência dos fatos do que o fuzilamento… de que a PM está sendo alvo! É claro que houve erro dos soldados — dos indivíduos — em Santos e na capital, resultando em duas mortes. Embora esteja claro que houve, sim, resistência à abordagem, os desdobramentos são inaceitáveis. E o são também para a corporação: os homens envolvidos estão presos, acusados, em princípio, de homicídio doloso. E estão presos, entre outras razões, PORQUE NÃO SEGUIRAM AQUILO QUE APRENDERAM NA ACADEMIA.

Continua após a publicidade

Será que a Polícia Militar de São Paulo está fora de controle e deve ser vista como fator de intranquilidade? Não estou aqui para arbitrar sobre achismos e esferas de sensações. Isso pode ser matéria que interessa aos psicólogos, eventualmente aos sociólogos. Essa polícia tem um histórico, refletido nos números da segurança pública. Em 10 anos, segundo o Mapa da Violência, o número de homicídios por 100 mil habitantes no Estado de São Paulo caiu 67% — de 42,2 para 13,9 (hoje, está abaixo disso). A queda não se deu apenas em números relativos, não! Em 2000, houve 15.631 assassinatos no Estado; em 2010, 5.745 — queda, pois, de 63,2 em números absolutos.

É evidente que isso é reflexo de uma política de segurança e de uma polícia que passou a operar com mais eficiência — ainda que muitas possam ser as deficiências. Confundir essa polícia com a de estados em que a violência aumentou de maneira brutal é um desserviço aos fatos e uma agressão clamorosa à verdade. Ocorre que a “sociologice” não gosta disso, não! Quantas vezes vocês não leram por aí que a queda no número de homicídios havida no Brasil — queda pequena — se deve, por exemplo, à Lei do Desarmamento? Ora, por que ela teria tido um efeito fantástico em São Paulo, mas não no Nordeste?

Ao citar a região, chegamos a um outro aspecto importante do debate, que Vinicius também lembrou em seu texto. Um dos clichês sobre a violência é este: “quando a economia piora, o desemprego cresce, e a desigualdade aumenta; reza o axioma, a violência sobe. Se as armas estão à disposição e o cinema valoriza a brutalidade, compõe-se então o caldo do capeta.” E Mota emenda: “Todos esses fatores atuam de 2008 para cá nos Estados Unidos, que atravessam uma das piores agruras econômicas de sua história. No entanto a criminalidade atingiu, nesse período recente de desemprego, o mais baixo patamar em 40 anos”.

Continua após a publicidade

O descolamento entre índices de violência e a realidade econômica (menos emprego ou mais, menos crescimento ou mais) também se verifica no Brasil. O Nordeste brasileiro chegou a crescer em ritmo chinês (a China antes da crise…), certo? O desemprego caiu, a renda aumentou etc. Ainda que se tenha partido de um patamar muito baixo, a melhoria foi evidente. Pois bem: o único estado nordestino que assistiu a uma redução no número de homicídios por 100 mil entre 2004 e 2010 foi Pernambuco — e, ainda assim, o número ali é escandaloso: 38,8 por 100 mil . Nos demais estados, houve elevação — brutal em alguns casos. A Bahia saltou de 16 para 37,7; Alagoas, de 35,7 para 66,8. Na verdade, a queda se deu em apenas 8 estados — aumentou em 19. Desses oito, ela foi significativa apenas em São Paulo, Rio e Pernambuco. O que se tem claro, aí sim, e os “especialistas” odeiam esta verdade, é que uma polícia maios eficiente, que prenda mais, está diretamente ligada à diminuição do número e do índice de homicídios. São Paulo, já lembrei aqui, tem 22% da população do país e 40% da população carcerária. Prender dá trabalho e é caro, mas salva vidas.

Eu não quero que vocês acreditem em mim. Como toda gente, tenho cá minhas convicções e valores, questionáveis, falíveis etc. Acreditem em quem faz pesquisa a sério, como é o caso do Mapa da Violência. Se vocês clicarem aqui, terão acesso à tabela sobre número de mortos de crianças e adolescentes (zero a 19 anos) nos vários estados. Em 2000, houve em São Paulo 2991 ocorrências; em 2010, 651 — queda de 78,2%. Atenção! A taxa caiu apenas em cinco estados. No Pará, aumentou 367,4%; em Alagoas, 220,3%; na Bahia, 477,3%; em Minas, 80%. Vejam a tabela. Está na página 50 do mapa. Em mortos por 100 mil, o número paulista é ainda mais significativo: queda de 76,1%.

Será mesmo que está tudo errado com a política de segurança pública de São Paulo e com a sua polícia? Ora, não estou aqui a sugerir que não se façam as críticas devidas ou que nada há a ser feito, que essa polícia atingiu o estado da arte. Isso é besteira! Mas vamos devagar aí. Ouvido dia desses sobre os números de São Paulo, Pedro Ambramovay chutou:  seriam virtuosos por causa do… PCC!!! Prêmio Nobel da Paz para Marcola!!!

Continua após a publicidade

O PT, partido ao qual pertence boa parte dos críticos da segurança pública de São Paulo, pode pôr em prática as suas teses de segurança pública. A Bahia é um evidência e tanto de sua eficiência. Jaques Wagner chegou ao poder em 2007: havia 23,5 homicídios por 100 mil. Em 2010, 37,7 — aumento de 60,4%. As crianças e adolescentes assassinados eram 8,6 por 100 mil; em 2010, 23,8, um crescimento de 176%. Não só existe uma explosão da violência como, fica claro, ela atinge especialmente os jovens no estado. Nessa faixa, o aumento de homicídios é brutalmente maior do que a média. A economia baiana cresceu bastante no período, e os petistas puseram em prática as suas teorias de segurança pública. O resultado está aí.

Não dá para debater sem dados; é impossível discutir segurança pública — ou qualquer outro assunto — na base do puro impressionismo e do preconceito  — especialmente os ideológicos.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 5,99/mês*
OFERTA INVERNO

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada edição sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.