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Caramba! Eu não sabia que o texto sobre o mega-hiper-super-PhD de Stanford faria tanto sucesso. Tá vendo, Mané? O que são os “journals” da vida, companheiro? Nada como o estrelato! Galdalf, leitor deste blog — que já me livrou de alguns “diabólicos azares”, como diria o poeta — conhece um tantinho as ciências matemáticas, como […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 08h35 - Publicado em 19 jun 2012, 16h58

Caramba!

Eu não sabia que o texto sobre o mega-hiper-super-PhD de Stanford faria tanto sucesso. Tá vendo, Mané? O que são os “journals” da vida, companheiro? Nada como o estrelato! Galdalf, leitor deste blog — que já me livrou de alguns “diabólicos azares”, como diria o poeta — conhece um tantinho as ciências matemáticas, como vocês verão. Leiam o que ele escreve. Volto em seguida.
*
Reinaldo, se eu tivesse tempo, gostaria de analisar o tal artigo do Mané para ver sua metodologia.

É um assunto que me interessa muito e ao qual dediquei bastante esforço em meu mestrado e doutorado. Estudei Matemática e História na graduação, e Administração (“ciência social aplicada”) no mestrado e doutorado. Tudo na USP.

Desde cedo me espantei com os furos metodológicos inacreditáveis em dezenas de artigos que por ali circulavam. Talvez pela minha formação matemática, os “números científicos” nunca foram capazes de me impressionar, a não ser pelos delirantes pressupostos presentes na maioria das pesquisas. Em outras palavras, habilidade com números eu sempre tive, de modo que, não sendo novidade, nunca tiveram para mim esse peso todo. Detalhe: hoje, entre outras coisas, dou aulas de estatística em cursos de pós-graduação.

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Decepcionado com os métodos quantitaivos, fui à FFLCH estudar Weber (com o Pierucci, que faz dobradinha com o Cohn – os dois maiores especialistas em Weber no Brasil; Pierucci supervisionou e escreveu a introdução e notas da nova edição brasileira da “Ética Protestante” e são prova de que ainda há vida inteligente na FFLCH). Weber foi a base da minha abordagem metodológica no doutorado.

Todo esse preâmbulo é para dizer o seguinte: as escolas de que o Mané tanto se gaba, especialmente Chicago, são notórias pelo seu radicalismo metodológico. Só estuda e publica lá quem faz profissão de fé positivista. Positivismo científico em ciências sociais, como você sabe, é a crença de que o único conhecimento científico válido é o que pode gerar inferência estatística a partir de dados quantitativos.

Acontece que, como o próprio Mané admite, são raríssimos os objetos de estudo sociológico que permitem este tratamento, que funciona bem na física, onde experimentos e variáveis podem ser controlados. São inúmeras as críticas feitas a essa abordagem, que raramente é usada na Europa, por exemplo. Infelizmente, o positivismo em ciência social é a “metafísica influente” ou, se preferir usar um jargão mais metodológico, o “paradigma dominante” (Kuhn) nos EUA e aqui também (nesse ponto os esquerdistas têm razão, ô povinho colonizado…)

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A sedução do positivismo é óbvia: dá ares de “ciência dura” à ciência social que, francamente, do ponto de vista científico, é muito pouco mais do que achismo (o próprio Mané o admite quando fala do possível consenso em ciência social; é impressionante ele dizer isso depois tanto “scientificity claim”; o moço, coitado, se contradiz demais…)

Ele evidentemente usou alguma técnica de estatística multivariada, provavelmente a mais básica de todas, a regressão linear múltipla. É o que se infere de sentenças como “X % de tal fenômeno podem ser explicado pela variável tal”. Muita gente séria na academia, além desse escriba aqui, nutre profundo ceticismo quanto à aplicabilidade dessas técnicas à ciência social, uma vez que esses estudos exigem a escolha a priori das variáveis a serem utilizadas. Mas Journals como os citados pelo Mané ignoram o mérito (ou a lógica) da pesquisa e checam apenas se o método estatístico foi feito matematicamente direitinho. Daí que não me espante que essas prestigiadas publicações aceitem trabalhos que chegam a conclusões muitas vezes surrealistas. Esses estudos raramente iluminam: ou geram conclusões óbvias ou surrealistas. De vez em nunca revelam algo intrigante que, após mais estudos, se mostra real.

Enfim, tudo isso só pra dizer o seguinte: o Mané pode ser apenas um idiota útil, sem a pretensão de ajudar os petistas. Conheço bem o ambiente. O cara tem que publicar, senão perde o emprego. Então “estuda” qualquer coisa que tenha um banco de dados quantitativo ao qual possa aplicar suas formuletas. Ele próprio admitiu que usou SP por ser o único estado que tem dados consistentes. Como todo cientista, conhece (ou deveria conhecer) as imensas limitações dos métodos quantitativos. Mas a vaidade falou mais alto. Como resistir a aparecer nos jornais com o resultado de sua pesquisa? Ele se defende dizendo que não é petista, e eu acredito. Petistas, tipo Marilena, usam “metodologias críticas” (= marxismo chulé). Ele é só um professorzinho positivista que tem que publicar pra manter o emprego, e que, por estar no lugar certo na hora certa (?), não resistiu à tentação de aparecer. Um idiota útil, enfim.

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Voltei
Sabem qual é a melhor coisa deste blog? Seus leitores! Até eu me surpreendo com vocês. Achei que o assunto fosse aborrecer, que quase ninguém se disporia a ler aquele troço imenso. O comentário de Galdalf é apenas um dos muitos que colocam o debate em termos qualificados. Por intermédio dele, reconheço o trabalho — sim, o trabalho! — de todos vocês. O esquerdismo chulé vigente em boa parte das ciências sociais brasileiras tem servido de biombo para muita embromação “do outro lado”. E esse “outro lado”, que acaba servindo ao lado de sempre — o poder —, pretende pôr números onde Marilena Chaui põe só ideologia, mas o propósito é o mesmo.

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