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Blog do jornalista Reinaldo Azevedo: política, governo, PT, imprensa e cultura
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A disputa de 2014 e o que diz um analista. Ou: A opinião que ignora ou distorce os fatos não passa de mera torcida — na melhor das hipóteses. Ou ainda: Segundo os números, desempenho do PSDB unido é ainda pior do que dividido

As pessoas podem dizer: “Odeio marrom; é uma cor feia”. Trata-se de uma opinião. Nas democracias, ela é livre. Cada um tem a sua. Agora atentem para esta frase: “Lindo este céu sem nuvens! É de um marrom cintilante!”. Não cabe questionar o emissor sobre a primeira parte da mensagem — é opinião. Já a […]

Por Reinaldo Azevedo Atualizado em 31 jul 2020, 05h38 - Publicado em 12 ago 2013, 15h23

As pessoas podem dizer: “Odeio marrom; é uma cor feia”. Trata-se de uma opinião. Nas democracias, ela é livre. Cada um tem a sua. Agora atentem para esta frase: “Lindo este céu sem nuvens! É de um marrom cintilante!”. Não cabe questionar o emissor sobre a primeira parte da mensagem — é opinião. Já a segunda traduz, quando menos, um problema de percepção. Sem nuvens, o céu se mostra azul. A opinião é livre, sim, mas não é discricionária. No Estadão de hoje, José Roberto de Toledo escreve texto opinando sobre a pesquisa Datafolha. Ok. Fale o que quiser. Mas decidiu chamar o azul de marrom. Aí cabe correção objetiva.

Vamos ver. Numa abordagem obviamente hostil a Serra, o que é rotineiro nos textos isentos de Toledo (opinião é opinião…), escreve:
“Emissários de José Serra fizeram gestões junto aos institutos de pesquisa para incluir o nome do ex-governador nas sondagens de intenção de voto, apesar de o PSDB já ter, teoricamente, escolhido Aécio como candidato.”

Eu não sei, talvez ele saiba, o que quer dizer “teoricamente escolhido”. A “escolha teórica” seria aquela que ainda não foi, mas que será feita? A “escolha teórica” seria aquela que ainda não se deu de fato, de sorte que, nesse caso, realidade e teoria, numa nova e surpreendente revolução científica, se oponham? Ou “realidade teórica” é aquela que corresponde às expectativas e desejos de quem escreve? Não sei se as tais gestões existiram. Caso tenham acontecido, isso me parece mais do que justificável. Se o Datafolha testa três cenários com o nome de Joaquim Barbosa, por exemplo — que não será candidato nem na teoria nem no fato —, haveria de explicar por que excluir o nome de Serra. Afinal, a) ele jamais declarou que não vai disputar; b) o PSDB ainda não definiu o seu candidato, a não ser naquele plano que Toledo chama “teórico”. Sigamos com seu texto. Agora vem um trecho que é mesmo do balacobaco.

“Quando as gestões foram feitas ainda não havia estourado o escândalo da formação de cartel e pagamento de propina envolvendo metrô e trens urbanos paulistas. Resultado da pesquisa: o lançamento simultâneo de Aécio e Serra (caso este saia do PSDB para disputar a Presidência por outra sigla) seria um abraço de afogados. Um tiraria votos do outro, submergindo as chances dos dois de chegar ao segundo turno.”

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Quanto azul tornando marrom num trecho tão curto! Vamos ver:
1: as notícias sobre o suposto cartel, ainda que possam ser potencialmente ruins para todo o PSDB, foram arquitetadas para atingir o partido em São Paulo. Os que manipulam os vazamentos estão interessados é na disputa estadual;
2: supondo que impactaram a pesquisa, deveriam, pela lógica, ter atingido mais Serra do que Aécio. Não obstante:
a) nos cenários em que ambos aparecem como candidatos de partidos diferentes, o paulista está numericamente à frente do mineiro: 14% a 10% quando Dilma é candidata (e sem Joaquim Barbosa); 9% a 8% quando Lula é candidato, com Joaquim Barbosa.
b) para que a hipótese tolediana se justificasse, seria forçoso que, mesmo nesses cenários, Serra estivesse atrás de Aécio.
c) mais importante: como o nome de Serra foi incluído no levantamento com óbvia má vontade, o Datafolha, de maneira injustificada, deixou de testar um cenário, plausível ao menos, em que seria ele o candidato tucano. Ele chega a aparecer, sim, como o nome do partido, mas junto com o de Joaquim Barbosa, que não vai disputar. Vamos ver? Este é o cenário que a imprensa considera o mais provável. Reparem:

CENÁRIO 1
Dilma – vai de 30% para 35%
Marina – vai de 23% para 26%
Aécio – cai de 17% para 13%
Campos – vai de 7% para 8%

Como se nota acima, não está aí a suposição aloprada de que Joaquim Barbosa possa se candidatar. Pergunta-se a Toledo: o caso dos trens terá tido aí algum impacto? É preciso responder a essa pergunta.

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O Datafolha poderia ter feito o óbvio, o tecnicamente correto — já que não cabe ao instituto adivinhar o que vai fazer o PSDB, certo? Deveria simplesmente ter testado esse mesmo cenário com o nome de Serra. Não o fez. Mas optou por isto aqui, que chega a cheirar a provocação:

CENÁRIO 6 – Serra como candidato tucano, mas com Barbosa
Dilma – 32%
Marina – 21%
Serra – 15%
Joaquim Barbosa – 11%
Campos – 5%

Epa! Nesse caso, Serra aparece como o candidato tucano, sim, só que o ministro do Supremo também disputaria. Estou enganado, ou Serra, com Barbosa, tem um desempenho superior a Aécio sem Barbosa? Como justificar, diante dos números, aquela conversa de Toledo sobre os trens? Pergunta-se ao opinador: por que a denúncia do suposto cartel teria impactado menos a candidatura de Serra do que na de Aécio, hein? Também é preciso responder a essa pergunta.

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Abraço de afogados?
Toledo chama de “abraço de afogados” a possibilidade de que Aécio e Serra venham a disputar a eleição por partidos distintos. Suponho que esteja se referindo à divisão de votos e coisa e tal. Mas então voltemos de novo ao Cenário 1, que Toledo e boa parte da imprensa consideram o mais plausível:

CENÁRIO 1
Dilma – vai de 30% para 35%
Marina – vai de 23% para 26%
Aécio – cai de 17% para 13%
Campos – vai de 7% para 8%

Como se nota, Aécio está com 13%. Vamos republicar o aloprado Cenário 6, em que Serra é o candidato tucano, mas com Barbosa:

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CENÁRIO 6 – Serra como candidato tucano, mas com Barbosa
Dilma – 32%
Marina – 21%
Serra – 15%
Joaquim Barbosa – 11%
Campos – 5%

O tucano paulista aparece aí com 15%. Toledo há de admitir que Aécio não precisa da candidatura de Serra para se afogar. Faltasse argumento, há outro que desmoraliza a análise. É o Cenário 5. Vejam:

CENÁRIO 5
Dilma – 32%
Marina – 23%
Serra – 14%
Aécio – 10%
Campos – 6%

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Como se nota acima, mesmo disputando com Aécio, Serra (14%) consegue um desempenho numericamente superior ao do tucano mineiro (13%) quando disputa sozinho. Nem um nem outro, nas hipóteses testadas, têm um desempenho brilhante, mas a tese do “abraço de afogados” é desmoralizada pelos números.

Toledo tem o direito de não gostar de Serra e de achar que ele não deve ser candidato. Mas não tem o direito de torcer os fatos e de chamar isso de opinião ou de análise. Tem o direto de achar que o tucano paulista não pode disputar a eleição, mas não tem o direito de acusá-lo de dividir os tucanos quando Aécio, sozinho, consegue ter um desempenho pior do que o do próprio Serra quando os dois são candidatos.

Encerrando…
“Ah, o Reinaldo, que é serrista, está querendo que seja o seu candidato o nome do PSDB…” Cada um diga o que quiser. A minha suposta ou real preferência não tem importância. Quero que digam onde estão os furos da minha análise — apontei onde estão os da análise de Toledo.

Com Serra ou Aécio, gostaria que o PSDB vencesse, sim, a disputa — e ninguém tem o direito de duvidar disso. Acho que a derrota do PT seria positiva para a democracia e considero, como diria Camões, que Marina Silva é um caso de “dano maior do que o perigo”. Dado esse contexto, estou, no entanto, pessimista. Do jeito como estão as coisas, o PSDB não precisa nem se dividir para perder a eleição. É bem provável que seja até mais fácil garantir a vitória de Dilma estando… unido! Unido à moda tucana! Ou não é isso que estão a mostrar os números. Ou o PSDB volta à prancheta ou já pode começar a cuidar das divisões de… 2018. Acreditem: já dá para antecipá-las. 

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