“Intervenção na Líbia será de longo prazo”
Por Andrea Murta, na Folha: Não adianta a Otan (aliança militar ocidental) dizer que sua intervenção na Líbia vai durar algumas semanas. A esta altura, o envolvimento externo com o país vai perdurar por anos, afirma Robert Hunter, ex-embaixador dos EUA no órgão. Segundo Hunter, que serviu na Otan de 1993 a 1998, durante o […]
Por Andrea Murta, na Folha:
Não adianta a Otan (aliança militar ocidental) dizer que sua intervenção na Líbia vai durar algumas semanas.
A esta altura, o envolvimento externo com o país vai perdurar por anos, afirma Robert Hunter, ex-embaixador dos EUA no órgão.
Segundo Hunter, que serviu na Otan de 1993 a 1998, durante o governo Bill Clinton (1993-2001), e é analista sênior do “think tank” Rand, o problema é que até agora “nenhum dos países envolvidos na Líbia foi capaz de definir até onde estão dispostos a ir”. Leia a entrevista à Folha.
Folha – O que a intervenção na Líbia e a dificuldade de estabelecer o comando dizem sobre a identidade da Otan?
Robert Hunter – Toda vez que faz algo diferente, a aliança aumenta suas possibilidades de ação no futuro. A atuação no norte da África, em circunstâncias como as atuais, com razões mais humanitárias, vai além de sua experiência até agora. Estende a gama de regiões nas quais a Otan está disposta a considerar como válidas para atuar militarmente.
É similar ao que fizeram na Bósnia e em Kosovo, mas esses eram do lado “de cá” do Mediterrâneo, claramente na beirada da Europa. Desta vez há um mar inteiro no meio.
Sobre a dificuldade em estabelecer o comando, primeiro é preciso lembrar que a Otan é formada de indivíduos [países] sui generis.
Há vários fatores: 1) Não houve um ataque direto a nenhum país-membro; 2) não estava claro que haveria impacto estratégico e político caso não se fizesse nada; 3) há diferenças em como a situação afeta cada país; 4) a missão é limitada e não está claramente definida.
Por que há tanta dificuldade em fixar um objetivo claro?
Porque até agora todos os países envolvidos foram incapazes de definir até onde estão dispostos a ir. E não há entendimento sobre o que querem para o futuro de Gaddafi, que é a grande pergunta. Estão, portanto, lidando com uma resposta parcial.
Os EUA não exigem um mandato da ONU para agir, mas os demais sim, e isso resultou em uma definição muito estreita da missão, que ficou sendo “como proteger civis” e não “como ajudar rebeldes a vencer” ou “como impor um cessar-fogo” ou ainda “como nos livrar de Gaddafi”.
A limitação veio muito em razão da oposição da Turquia, que não quer ser parte de uma operação que vai matar muçulmanos, de propósito ou por acidente.
O quanto passar o comando dos EUA para a Otan realmente tira a operação das mãos dos americanos?
Claro que os EUA têm muita influência na Otan. Os dois maiores comandantes militares são americanos, assim como o líder do comando africano.
Mas precisávamos fazer isso porque os EUA têm uma reputação muito ruim entre os países árabes e para evitar que o Congresso diga que estamos, mais uma vez, indo ao resgate de gente que não tem nada a ver conosco.
Parte da decisão é para dar uma satisfação para o público americano.
A Otan já começou a discutir a ampliação da missão. O que isso significaria?
Em primeiro lugar, estão discutindo o que além da zona de exclusão aérea é necessário para cumprir o mandato da ONU de proteger civis. Mas pode ser também que estejam discutindo um mandato estendido de ação. Aqui