Ex-presidentes da Palmares repudiam nomeado que nega existir racismo
Ex-dirigentes do órgão fazem manifesto crítico à indicação de Sérgio Camargo e suas opiniões como a defesa do fim do movimento negro
Desde que fui criada, em 1988, a Fundação Cultural Palmares teve nove presidentes. Três já faleceram. Cinco deles assinam manifesto de repúdio às falas do novo ocupante do cargo, o jornalista Sérgio Nascimento de Camargo.
Se trata de um militante de direita que nega o racismo, que defende o fim do movimento negro e que já declarou que a escravidão foi benéfica para os afrodescendentes, como mostrou O Globo.
O manifesto será divulgado nesta quinta. Um dos organizadores dessa manifestação, Zulu Araújo, que presidiu a fundação entre 2007 e 2010, no governo Lula, está indignado com os pensamentos de Camargo.
“Nosso manifesto é uma mobilização contra as opiniões do novo presidente. O movimento negro é um símbolo de conquistas, de uma luta que gerou a Fundação Palmares, nascida no ano do centenário da abolição da escravatura, em 1988. Foi um reconhecimento por parte do Estado da importância da comunidade negra, que seus valores e manifestações culturais sejam respeitados. Foram 300 anos de escravidão e temos ainda sequelas graves. O combate ao racismo está assegurado em decisão da ONU, de sua conferência de 2001”, disse Zulu Araújo ao Radar.
E criticou as declarações de Sérgio Camargo.
“A declaração de negar o racismo no Brasil, negar a descriminação, negar as conquistas alcançadas ela comunidade negra vai de encontro aos princípios civilizatórios. Contraria os princípios elementares dos direitos humanos. Não é uma mobilização contra a nomeação. Não cabe a nós indicar, mas ao presidente Bolsonaro, que indica quem quiser. Mas temos que brigar para que as conquistas alcançadas sejam consolidadas.
Além de Zulu Araújo, irão assinar o manifesto Carlos Moura, Dulce Maria Pereira, Elói Ferreira e Hilton Cobra. Todos ex-presidentes desde 1988. Os três que já faleceram são Ubiratan Araújo, Adão Ventura e Joel Rufino.