Consultoria de filha de ministro do TCU gera desconforto no tribunal
Cristiane Nardes criou Rede que oferece consultoria em compliance e governança, além de cursos a entidades e órgãos públicos
O ministro do Tribunal de Contas da União Augusto Nardes está no centro de um episódio de constrangimento para os colegas na Corte. Recentemente, ele passou a aparecer em vídeos e palestras virtuais de entidades e órgãos públicos como “embaixador” da Rede Governança Brasil.
O negócio foi criado pela filha do ministro Cristiane Nardes e tem um site que mostra vídeos do magistrado como garoto-propaganda. Na página são oferecidos serviços de consultorias em governança e compliance, além de cursos virtuais e presenciais “customizados às necessidades da sua instituição”.
“Somos uma Rede colaborativa comprometida em disseminar as boas práticas de Governança no Brasil e, por toda parte do mundo, de forma íntegra, ética, transparente e sempre com foco na sociedade”, diz Nardes no site.
Ministros da TCU revelam desconforto com a atuação de Nardes no negócio porque a filha tem buscado pessoalmente clientes. A aparente proximidade entre o TCU e a atuação no ramo de consultorias seria imprópria, na visão de ministros ouvidos pelo Radar.
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Clique e AssineNum grupo de WhatsApp criado por Cristiane com autoridades da CGU e do próprio TCU, contatos do pai naturalmente, Cristiane avisa a um representante do Tribunal de Contas de Minas Gerais que “já temos cursos à disposição pela PJ da Rede”.
Um dos “parceiros” que receberam proposta financeira e estabeleceram uma parceria institucional com o negócio da filha de Nardes é o Sindicato dos Servidores do Poder Legislativo Federal e do Tribunal de Contas da União (Sindilegis).
“O Sindilegis foi convidado pela fundadora da Rede, Cristiane Nardes, a apoiar o trabalho da entidade com capital intelectual e divulgação de ações e eventos relacionados a pautas de interesse do Sindilegis, como é o caso da reforma administrativa. Além de apoio com capital intelectual e na divulgação de ações e eventos, há contribuição simbólica mensal no valor aproximado de R$ 1.600”, diz a entidade.
Ao Radar, o ministro Nardes defendeu a atuação. “É um trabalho voluntário, ninguém recebe nada com isso. São cerca de 200 pessoas, todas voluntárias que querem encontrar soluções para o país. Eu não cobro pelas minhas palestras. Provavelmente você recebeu a informação de alguém que tem inveja”, diz o ministro.
Cristiane Nardes, por sua vez, disse que o pai defende boas práticas de governança há muito tempo em sua atuação. Sobre a oferta de serviços de consultoria e cursos, disse que responderia por e-mail.