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Não podia esperar o dia em que a boa sorte ia acabar, diz Moro

'Ao invés de ficar esperando o retrocesso, decidi avançar', afirmou, em sua primeira aparição pública desde que aceitou o convite para ser ministro

Por Guilherme Voitch Atualizado em 30 jul 2020, 20h11 - Publicado em 5 nov 2018, 22h41

Em sua primeira aparição pública desde que aceitou o convite do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), para assumir o Ministério da Justiça, o juiz Sergio Moro disse que não podia mais “ficar esperando o dia em que a boa sorte da Operação Lava Jato e do juiz Sergio Moro iria acabar”. A declaração foi dada em um congresso de energias renováveis, em Curitiba.

O juiz afirmou que, ao aceitar o convite do presidente eleito, “não ficaria mais na expectativa de que o fim desse bom trabalho iria chegar, mas sim, ao invés de temer o retrocesso, avançar. Essa é a razão da minha decisão”, disse a um público de cerca de 700 pessoas.

Muito aplaudido, Moro fez um balanço da Operação Lava Jato e dos momentos tensos em que, segundo ele, achou que todo trabalho chegaria ao fim. O magistrado lembrou, por exemplo, a decisão do ministro Teori Zavascki, que em maio de 2014 mandou soltar presos da operação.

“Fiquei muito frustrado e não cumpri todo o expediente. Pensei: ‘Poxa, tudo foi inútil’. Eu estava ciente de que o ministro era grande magistrado. Tive humildade em redigir um ofício alertando para o fato de que estavam sendo soltos os mais variados perfis. Lavadores de dinheiro, traficantes de drogas. Redigi um oficio não muito esperançoso e fui embora antes de acabar o expediente. Para minha surpresa o ministro foi sensível e reviu parcialmente sua decisão. O dia estava salvo.”

Moro lembrou também dos depoimentos prestados pelo ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e da decisão de torná-los público durante o período eleitoral de 2014. “A opção que tomamos na Lava Jato desde o início foi: não vamos esconder nada. Não íamos esconder segredos sombrios de agentes públicos corruptos. Contingencialmente era período de eleição e houve muita polêmica. Aquele foi um point of no return (ponto de não retorno). A partir dali não podíamos mas voltar atrás”, afirmou.

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O magistrado confirmou que vai focar seu trabalho em dois pontos: o combate à corrupção e o enfrentamento ao crime organizado. Moro também disse que sua presença no ministério pode “desanuviar o ambiente e acabar com certos receios infundados”. O magistrado não citou quais receios seriam esses, mas fez uma defesa da democracia em seu discurso, afirmando que a corrupção se combate com mais democracia, e não com menos. “Com a corrupção sistêmica há um abalo na confiança das pessoas. Talvez isso explique certa frustração de parte dos brasileiros com a democracia. Isso se resolve com a sanação de vícios dentro da própria democracia. A democracia é o único regime no qual esses escândalos podem vir à tona”, afirmou.

O futuro ministro também rebateu as críticas de que teria quebrado sua palavra de não entrar para a política ao aceitar o convite de Bolsonaro. “Eu me vejo entrando em cargo predominantemente técnico e vou trabalhar com aquilo que conheço. Mantenho válida a promessa de que não disputarei cargos eletivos.”

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