Os homens estão perdidos: agora é tudo assédio sexual
Se você ainda oferece caronas a colegas de trabalho, saiba que é mais seguro brincar de roleta russa
Peço perdão ao leitor mais esclarecido, mas preciso lançar um osso de obviedade aos cães que vivem latindo e mordendo nas redes sociais: o lugar dos assediadores sexuais é na cadeia, ponto. As palavras abaixo não servem para defender criminosos com culpa comprovada no cartório. São apenas as constatações de um sujeito que está sofrendo ataques de riso a cada vez que abre os jornais.
Dito isto, vamos à pergunta que não quer calar: será que sou o único a perceber que esses escândalos sexuais made in Hollywood viraram palhaçada? Uma coisa é destronar um produtor de cinema que se valia do poder hierárquico para forçar atrizes a receber sexo oral (desculpe, mas já comecei a rir), outra bem diferente é processar tal ou qual ator por uma piadinha indecorosa dita há décadas num set de filmagem.
Mas quem se importa com o pessoal de Hollywood? Eles que são ricos que se entendam. O problema é que a onda do “tudo virou assédio” saiu de Los Angeles e se espalhou como uma pandemia mundial. Uma piscada involuntária ou um aperto de mão mais demorado se transformaram em motivo suficiente para acusações que podem destruir carreiras e enriquecer advogados.
É ridículo dizer o que segue num país como o Brasil, mas se você é um HBO, ou seja, um Homem Branco Ocidental, prepare-se que a temporada de caça está apenas começando. Empresários, médicos, executivos, comerciantes… de repente todos ficaram sujeitos à ressurreição de mal-entendidos capazes de se converterem em infâmia e danação — sem a necessidade de que as provas sejam apresentadas.
É por isso que os homens estão ficando cada vez mais cautelosos. Melhor: cada vez mais medrosos, ressabiados, covardes. Os chefes já não conversam com as secretárias em ambientes restritos, os professores deixaram de sorrir para as alunas, os dentistas passaram a filmar as consultas e até os oftalmologistas deixaram de olhar nos olhos das pacientes sem a proteção de instrumentos óticos.
Você ainda conta piadas de papagaio no escritório? Então deve ser o mais descuidado ou desinformado dos mortais. Ainda se atreve a dizer bom dia para a moça do café? Louco. Ainda dá ou aceita caronas? Meu amigo, é mais seguro brincar de roleta russa. E se você é aquele tipo de vendedor que cumprimenta as clientes com três beijinhos nas bochechas — pra casar! — pare com isso agora mesmo: alguma câmera deve estar registrando o seu atentado violento ao pudor.
Quem vai pagar essa conta, é claro, são as mulheres em idade reprodutiva que naturalmente desejam a proximidade dos pretendentes — agora distantes e confusos quanto ao que podem ou não fazer. É que os homens finalmente foram colocados no seu devido lugar. Por incrível que pareça, o puritanismo oportunista dos nossos dias está vencendo onde todas as ameaças medievais de castração fracassaram.
Felizmente, os instintos reprodutivos são poderosos em qualquer espécie e sempre dão um jeito de ultrapassar os obstáculos impostos ao acasalamento. Num futuro não muito distante, as mulheres transformarão lenços, pulseiras, anéis e outros adereços em mensagens subliminares. A partir de uma simbologia sexual secreta, darão um recado claro aos mais antenados:
— Pode chegar, cara, não vou bancar a histérica pra cima de você.