Os militares são bons de narrativas, mas não somente eles, claro. Em meados dos anos 30 do século passado, um coronel de nome Olímpio Mourão Filho, integralista de carteirinha, escreveu uma peça de ficção sobre um complô comunista e judaico para tomar o poder no Brasil.
A peça tornou-se conhecida como O Plano Cohen. E serviu de pretexto para a instalação no país da ditadura militar do Estado Novo sob o comando do então presidente Getúlio Vargas que governava desde 1930. Governou até 1945, quando os militares o derrubaram.
O imaginativo Mourão Filho, já na condição de general, foi quem em 31 de março de 1964 comandou as tropas que desceram de Juiz de Fora sobre o Rio, deflagrando o golpe militar que deu ensejo a uma ditadura de 21 anos. Outra vez, para salvar a democracia ameaçada pelo comunismo.
À frente o general Hamilton Mourão(sem nenhum grau de parentesco com o Mourão que o antecedeu), os militares estão agora em busca de outra narrativa – essa, que possa salvá-los, e ao governo Bolsonaro, da culpa pelo crescimento acelerado da devastação da Amazônia, bem tão caro aos fardados.
Mourão, o vice, foi designado por Bolsonaro para descascar o abacaxi que poderá afugentar do país grandes investimentos internacionais. “O Brasil foi jogado nas cordas na questão ambiental”, admite Mourão. Só sairá das cordas, segundo ele, se apresentar resultados.
Por ora, Mourão ainda insiste em dizer que o Brasil “tem os melhores números” do planeta em matéria de preservação do meio ambiente (não cola, mas ele insiste). A culpa é governos passados pelo estágio atual da degradação da Amazônia (não cola também, mas ele insiste).
Quanto a Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, que perdeu a interlocução com os governos europeus, esse acabará sacrificado por falta de serventia. Salles não tem a mínima importância, nunca teve. Faz o que lhe mandam fazer. Deverá ser empregado em outro lugar.
Em breve, o governo terá de se preocupar com outra narrativa. O que dizer sobre seu fracasso no combate à pandemia? Atribuir o fracasso a governadores e prefeitos, não convence. À gripezinha, tampouco. Ao vírus chinês? A China é o maior parceiro comercial do Brasil. À esquerda? Ela está fora do poder.
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