Sente-se cercado de inimigos. Diz que tem inimigos no exterior e aqui, e que os locais são os piores. É por isso que desconfia de todo mundo – da ex-mulher a parentes complicados da mulher atual.
Suporta um emprego que jamais acreditou que poderia ser seu, que jamais quis e que só disputou para ajudar os filhos a se elegerem. Seu sonho era aposentar-se e ir curtir o resto da vida.
É obrigado todos os dias, inclusive nos fins de semana, a decidir sobre assuntos que pouco entende ou que ignora por completo. Que martírio! E ainda zombam da sua falta de conhecimentos.
Nunca gostou de ler. Gostava de palavras cruzadas. Orgulha-se de ter criado algumas e de tê-las visto publicadas. Foi treinado para obedecer, não para dar ordens. E ordens sempre gritadas.
Apesar de viver protegido por dezenas de agentes de seguranças, e de morar num palácio blindado contra qualquer ameaça, guarda um revólver na mesinha de cabeceira da cama ao alcance da mão.
Não tentaram matá-lo uma vez? Por que não tentarão novamente? Seu ofício é contrariar interesses – menos os da sua família. Daí o inseparável colete a prova de balas. Daí o paranoico que se tornou.
Sofre de insônia crônica. Atravessa madrugadas no apertado closet do quarto. Enquanto a mulher dorme e ronca baixinho, ele vasculha as redes sociais para saber o que falam a seu respeito.
Que vida! Que alma atormentada! Por que simplesmente não pede as contas e vai pescar? Desde que não seja em área proibida. Por sinal, onde está Queiroz, melhor pescador do que ele?