Rondônia foi premiada com um secretário de Educação que é uma figura extraordinária! Você, leitor, leu a lista de livros que ele queria que fossem recolhidos das escolas estaduais? Ainda bem que algum funcionário mais atilado percebeu que aquela lista era uma bofetada no país!
Com o argumento de que os livros listados tinham conteúdo inadequado às crianças e adolescentes, o secretário Suamy Vivecananda Lacerda de Abreu não teve pejo em incluir em seu memorando livros como “Memórias Póstumas de Brás Cubas” e “Os Sertões”, duas das maiores obras literárias assinadas por brasileiros!
Curiosamente, o secretário, apesar de confirmar a existência do documento, declarou que o mesmo não passava de um rascunho! Segundo o secretário, foram técnicos que redigiram o “rascunho” cujo teor ele não aprova, apesar de tê-lo assinado. Mais curioso ainda: para defender os técnicos, o secretário disse que eles foram levados a agir devido a uma denúncia que os livros continham palavrões!
Gostaria que o senhor Lacerda de Abreu mostrasse em qual capítulo, em quais páginas tanto de “Os Sertões” quanto de “Memórias Póstumas”, seus honoráveis técnicos encontraram palavrões.
O mesmo digo de “O Processo”, de Franz Kafka e de “Contos de terror, de mistério e de morte”, de Edgar Allan Poe, dois clássicos da literatura universal que também figuravam na lista da secretaria.
Segundo a indefectível lista, 19 livros de Rubens Fonseca, 8 de Carlos Heitor Cony e 3 de Nelson Rodrigues também deviam ser recolhidos. Bem, nesses podemos encontrar, aqui ou ali, palavras de baixo calão que não destoam. e sim enriquecem, o tema escolhido pelo autor. São livros que só honram nossa literatura. Mas cá pra nós, seria o caso desses livros serem adotados por escolas básicas?
Francamente, senhor secretário Suamy Vivecananda Lacerda de Abreu. Parece que tudo em sua secretaria deve ser revisto. A começar pela escolha dos técnicos.
A lista, ainda bem, foi cancelada e os livros nela contidos não serão recolhidos. Torço para que façam parte da Biblioteca Pública Estadual de Rendônia.
Nem por isso a notícia deve ser ignorada. Ao contrário, devemos falar muito nela, para que nunca mais isso se repita, em nenhuma Secretaria de Cultura de nenhum estado brasileiro.
Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa é professora e tradutora, escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005.