De bobo, Temer não tem nada. Conserta relógio usando luvas de boxe. De refratário ao que se passa fora da caixa onde vive em berço esplêndido, tem de tudo – como, de resto, os demais políticos de sua geração.
Não pode ser bobo quem conspirou com êxito para derrubar uma presidente, assumir seu cargo, aprovar medidas impopulares no Congresso, e safar-se de duas denúncias de corrupção.
Mas avesso à vida real é de fato o presidente que recebe em audiência empresário encrencado com a Justiça, tem como assessor deputado da mala e nomeia para ministra do Trabalho cidadã de reputação duvidosa.
Salve, Temer! – por ter posto na Polícia Federal um diretor-geral para chamar de seu. Em compensação, como esperteza em excesso engole o esperto, ele arrisca-se a ser alvo de mais uma denúncia de corrupção.
Pois essa poderá ser a principal consequência da entrevista concedida por Fernando Segóvia à agência Reuters. Segóvia precipitou-se em inocentar Temer em inquérito conduzido pela Polícia Federal. Foi a segunda vez.
Não deveria tê-lo feito. Não poderia tê-lo feito. Primeiro porque o inquérito está longe de ser concluído. Segundo porque a Polícia Federal é um órgão do Estado, não do governo, e assim deve se comportar.
E assim tem-se comportado há tempos, constrangendo uma Justiça lerda por natureza e cega por conveniência, animando os que desejam que a lei seja aplicada a ricos e pobres, negros, pardos e brancos.
Culpa de Segóvia, estamos de acordo, afilhado de José Sarney, Renan Calheiros e outros nomes do PMDB. Mas culpa original de Temer, incapaz de entender que o país mudou apesar dele e dos seus semelhantes.