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Por Coluna
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Sai prá lá, sísifo

O povo brasileiro se sente em eterno recomeço.

Por Ricardo Noblat
Atualizado em 20 Maio 2018, 16h04 - Publicado em 20 Maio 2018, 16h04

A vida é um eterno recomeço. Fosse escolher a lenda mitológica que mais se assemelha à sua vida, provavelmente o povo brasileiro colocaria a história de Sísifo entre as preferidas. Sísifo conseguiu se livrar da morte duas vezes, sempre blefando. Não cumpria a palavra empenhada, até que Tânatos veio buscá-lo em definitivo. Como castigo, os deuses o condenam impiedosamente a rolar montanha acima um grande bloco de pedra. Quase chegando ao cume, o bloco desaba montanha abaixo. A maldição de Sísifo é recomeçar tudo de novo, eternamente.

O povo brasileiro se sente em eterno recomeço. Quando acha que as coisas estão se normalizando, aparece mais um desastre. Nosso habitante se vê numa ilha ameaçada por escândalos, corrupção desbragada, favorecimentos, ausência de critérios racionais, impostos, feudos, deterioração dos serviços públicos, falta de continuidade nas administrações.

O sistema de vasos comunicantes acaba impregnando a alma nacional, inviabilizando aquele espírito público, fonte do fervor pátrio, que Alexis de Tocqueville constatou em A Democracia na América (1835), encantado com os valores da alma norte-americana: “existe um amor à pátria que tem a sua fonte principal naquele sentimento irrefletido, desinteressado e indefinível que liga o coração do homem aos lugares onde nasceu. Confunde-se esse amor instintivo com o gosto pelos costumes antigos, com o respeito aos mais velhos e a lembrança do passado; aqueles que o experimentam estimam o seu país com o amor que se tem à casa paterna”.

Que amor à Pátria pode existir em espíritos tomados pelo pavor, pela violência, pelo estado de guerra civil do Rio de Janeiro, pelos assaltos nas capitais e cidades do Norte e Nordeste, pela marginalidade incorporando bandos de menores? Que espírito público pode vingar em nossa América Latina quando na vizinha Venezuela as multidões não têm mais o que comer e fogem aos montes para nosso país? O que diria desse Nicolas Maduro o grande libertador Simon Bolívar, que retratou o sofrido continente: “não há boa fé na América, nem entre os homens nem entre as nações; os tratados são papéis, as constituições não passam de livros, as eleições são batalhas, a liberdade é anarquia e a vida um tormento. A única coisa que se pode fazer na América é emigrar”.

O povo quer sentir estabilidade e segurança nas ruas e no emprego. Estabilidade que permita divisar com nitidez a linha do horizonte. Há 13 milhões de desempregados. Como divisar clareza a apenas 5 meses da eleição, sem sinais do que pode ocorrer?

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A chama telúrica, que liga as pessoas ao lugar em que nasceram, está quase se apagando. Daqui a um mês teremos a catarse coletiva da Copa do Mundo. E se perdemos? Serão dias de mais amargura. Vamos continuar a ver governos de todas as instâncias usando míseros tostões para administrar massas falidas.

Rezemos para afastar a maldição de Sísifo.

Gaudêncio Torquato, jornalista, é professor titular da USP, consultor político e de comunicação Twitter@gaudtorquato 

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