Que ninguém se iluda, ou então nada seremos
A vocação nazista de Roberto Rego Pinheiro, codinome Roberto Alvim, agrada Bolsonaro

Em 1995, no Colégio Militar de Porto Alegre, oito cadetes elegeram Hitler como a personalidade que mais o impressionaram ao longo da história. Criticados pela imprensa, Jair Messias saiu em defesa dos “garotos”. Militar da reserva, em seu segundo mandato como deputado federal, classificou a predileção dos cadetes como “apenas gracejo, brincadeira”. De lá para cá, só piorou. Na sessão de impeachment de Dilma, ao votar, Bolsonaro teve o descaramento de citar o nome do degenerado torturador Brilhante Ustra.
E Alvim caiu. Não há o que comemorar. A vocação nazista de Roberto Rego Pinheiro, codinome Roberto Alvim, agrada Bolsonaro. O discurso extremista do agora ex-Secretário de Cultura reflete rigorosamente o pensamento do presidente. Bolsonaro conhece bem Alvim. Adorou a idéia da “próxima década (da cultura) heróica e nacional … profundamente vinculada às aspirações urgentes de nosso povo”, declarada em vídeo por Alvim.
O ex-secretário de Cultura era um bom aluno. No mesmo dia em que publicou seu vídeo – cópia cola de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda de Hitler – recebeu, ao vivo, rasgados elogios do Capitão. “Agora temos, sim, um secretário de Cultura de verdade. Que atende o interesse da maioria da população brasileira, população conservadora e cristã”.
O texto declarado por Bolsonaro é parecido ao recitado por Alvim-Goebbles. Os dois falam em “interesses da maioria da população brasileira”, como se deles dependesse o que, como, quando, onde a “maioria” dos brasileiros podem ver, ouvir, e aplaudir a arte no Brasil. Declaram a censura. Covardemente. Mas a arte, Capitão “.. não é um espelho do mundo, é sim, uma ferramenta para consertá-lo.” no poema de Vladimir Maiakóvski.
O valentão Capitão não mudou de opinião da noite para o dia sobre Alvim, o Secretário de Cultura “de verdade”, ou os “ideais de Goebbles ou de Hitler”. Que ninguém se iluda. Bolsonaro não resistiu às pressões. Teve que demitir o secretário depois do ricochete da comunidade judaica internacional. Adorador de Benjamin Netanyahu, ficou sem opção.
Saiu Alvim. Restaram fantasmas e desenredos. Certamente menos tóxica, Regina Duarte não terá fiança da grande parte da classe artistica. E dificilmente resistirá às intimidações, à compressão do poder. Corre o risco de sair destruída. Regina não parece ter o sangue de barata que corre nas veias de Sérgio Moro.
Regina deve saber que Não é Roberto Alvim que assina as idéias de Goebbles, como disse antes de ser demitido. É Bolsonaro. São seus filhos. São seus assessores mais próximos. São ministros. O pensamento nazista impera no governo.
A repercussão nacional e internacional do texto de Alvim nos dá vigor. A vigilância permanente da sociedade civil nos dá folego. Partiu de uma advogada anonima a identificação do plágio nazista, imediatamente jogado na mídia pelo Site “Jornalistas Livres”.
A vigilia não é só necessária, é vital. “Você não pode deixar ninguém invadir o seu jardim para não correr o risco de ter a casa arrombada”, de novo, do poeta russo Vladimir Maiakóvski, morto aos 36 anos, em 1930.
PS: Enquanto nos distraimos com Alvim, uma dezena de denúncias de “mal feitos” pipocam dentro e fora do Palácio, com quem detem a informação e a torna pública… Cadê o presidente da Casa da Moeda, que destituiu toda a diretoria para nomear um amigo por $ 40 mil? Eduardo Zimmer Sampaio e o amigo nomeado são vizinhos de Bolsonaro no Condominio Vivendas da Barra. Cadê o Flavio Bolsonaro? Cadê o Queiroz? Quem mandou matar Marielle? O que é “veremos lá na frente”?
Veremos. Vigilantes. Prevenidos.
Miriam é jornalista