O grande cartunista argentino Quino já nos contava da luta de sua heroína Mafalda para salvar o mundo. Ela bem que se esforçou mas, coitadinha de nossa amiguinha, o mundo estava pra lá de Marrakesh quando ela iniciou sua batalha.
É pena, mas o mundo tão lindo, com paisagens e habitantes tão simpáticos, está dismilinguindo aos poucos.
O americano cor de cenoura, Donald Trump, diz sempre que quer fazer a America great again. Mas pegou o caminho errado para tal feito e a America que já foi great sim, hoje está mínima. Tem dinheiro, tem. Tem armamentos, tem. Mas onde está o povo americano, aquele gigante que redigiu os mais belos documentos oficiais do mundo?
Basta ler uns poucos capítulos da História dos Estados Unidos para ver a diferença brutal entre os personagens de ontem e os de hoje. Vou dar um pequeno exemplo: a casa de Thomas Jefferson, ‘Monticello’, no estado da Virginia, uma elegante mansão no alto de uma colina, que foi sua residência e sede da fazenda que ele administrava e onde lia, estudava e escrevia, numa biblioteca maravilhosa.
Por acaso Trump mora em lugar tão singelo, mas de tanta beleza? Não. Trump mora tal qual o tio Patinhas num triplex novaiorquino que é forrado do chão aos tetos de ouro puro. O apartamento já foi filmado de todos os ângulos e só o que vemos lá é luxo em tudo, até nos inúmeros aparelhos de TV. Uma breguice de fazer dó. Não vi por lá nem uma estante de livros…
E quem foi o amigo dileto que ele conquistou desde que assumiu a Casa Branca? Ora, quem poderia ser senão seu admirador e aspirante a parceiro, Jair Bolsonaro?
Quando um diz mata, o outro diz esfola. E ainda não fizeram nada mais estrondoso porque Bolsonaro é o primo pobre. Mas isso em breve será resolvido, pois a America minúscula que vem por aí igualará os dois amigos. Que juntos, vivendo então no ultra brega Mar-a-Lago, em Palm Beach, na Florida, farão do mundo um espaço tão triste, tão insuportavelmente triste, que até o coronavirus fugirá de lá. Assim espero.
Trump e Bolsonaro gostam de brigar com a Imprensa. Gostariam que ela fosse sua agência de propaganda. Enquanto não conseguirem isso, continuarão lutando contra as palavras. Querem que a Imprensa só fale uma verdade: a deles. Até lá pretendem não mais falar com a Imprensa.
Quanto a nós, só nos resta pedir socorro à Mafalda…
Maria Helena Rubinato Rodrigues de Sousa é professora e tradutora, escreve semanalmente para o Blog do Noblat desde agosto de 2005.