“Que no futuro haja uma literatura cibernética me parece uma hipótese melancólica. O livro é necessário. É conveniente não ver a literatura como um jogo combinatório. Convém pensar que todo texto tem que estar respaldado pela emoção, caso contrário não tem nenhum valor… Alguém quando abre um livro e o lê com amor e generosidade, então ressuscita Heráclito, Quevedo e Emerson também…Uma biblioteca é como um gabinete mágico que está cheio de espíritos que dorme nos livros…”
Belo conselho de Jorge Luis Borges em seu pequeno ensaio Os escritores e as Palavras, no livro Textos Recobrados (1956-1986) da editora Emecê.
Acredito que não sou exceção, mas ouço de vários escritores e amigos o prazer que se tem de manter comprando livros impressos. As cores, o cheiro, a textura do papel, as anotações feitas no próprio texto, o carinho e o cuidado em tê-los, guardá-los, classificá-los, e vê-los na biblioteca como uma população maravilhosa em estado de disponibilidade.
Quando se abre um livro, acontece um encontro mágico com o autor, com a relação que se estabelece, emocionalmente. É uma conversa, um diálogo, na palma das minhas mãos, carregando comigo tocando meu corpo, olhando e me fascinando com a estética de toda sua diagramação, como um ato artístico e não como letras virtuais na tela insensível de um aparelho eletrônico.
Os autores não estão mortos, os autores estão em “estado de dicionário”, como poetou Carlos Drummond. Estão vivos no momento que abro as folhas, que converso através do papel mágico que emite sensações, emoções, sentimentos e que se que somos dois – uma parceria afetiva.
Um livro impresso, quando se está lendo, é como um corpo de mulher sendo acariciado, apalpado, adentrando em suas entranhas e sentindo o cheiro e o perfume.
Quando estou a olhar minha biblioteca, às vezes entro num estado de transe e prazer amoroso e estético de ter todos aqueles com que converso e aprendo junto a mim. Livro não se empresta, um livro não se manda por email, livro ou se o tem consigo ou é um objeto morto, esquizofrenizado, onde a tecnologia perde o contato com a afetividade e a estética. Estética no sentido de sentir a experiência onde se apreende o clima emocional da dupla.
Um livro é como uma rosa que afago suas pétalas e cuido. O livro impresso é uma comunhão amorosa com seu autor e o sentimento que estamos conversando pele a pele.
Carlos de Almeida Vieira é alagoano, residente em Brasília desde 1972. Médico, psicanalista, escritor, clarinetista amador, membro da Sociedade de Psicanálise de Brasília, Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e da International Psychoanalytical Association