O jovem trompetista Theo Croker foi encontrar na China a característica musical que marca seu jazz. Foi morando na cosmopolita Shangai que ele incorporou a salsa, o rock, o funk e o blues à sua música. Tocando em bares e boates da noite chinesa, esses diferentes gêneros faziam parte de seu repertório, acrescidos ainda dos modernos sons eletrônicos e das rimas do hip hop.
“Por muito tempo eu fui um purista do Jazz”, explica Croker. “Saindo dos Estados Unidos, pude ver como as pessoas interagiam com esses diferentes tipos de música. Comecei a prestar mais atenção e a me abrir mais para essas influências.”
O jazz na vida de Theodore Croker vem do berço. Ele é neto do legendário trompetista Doc Cheatham, com quem aprendeu as primeiras lições do instrumento aos 11 anos. O pequeno Theo ouvia em casa, com o avô, os mais importantes discos do jazz e também acompanhava o velho Doc aos concertos em que tocava, ou assistia, nos últimos anos de vida do avô, que morreu em 1997.
“Doc era um solista único e até hoje eu estudo a maneira como ele tocava o trompete”, conta Theo Croker, falando do avô. “Ele tinha um improviso muito livre, mas bastante melodioso e acessível aos ouvintes. Seu fraseado era simples, mas apenas na aparência. Quando vamos transcrever e tentar tocar os solos de Doc Cheatham, vemos o difícil e elaborada que era a sua música”.
Theo Croker formou-se no prestigioso Conservatório de Oberlin, em Ohio, em 2006, orientado pelo trompetista Donald Byrd. Chegou a lançar um primeiro álbum solo The Fundamentals (2007), sendo logo convidado para uma temporada em Shangai. Acabou ficando na China por sete anos, tornando-se muito conhecido na tevê local, por comandar a banda do programa de entrevistas de maior audiência na região.
Foi a cantora Dee Dee Bridgewater quem o descobriu na Ásia e o levou de volta aos Estados Unidos, como arranjador e líder de sua banda. Ela produziu o primeiro disco da nova fase de Theo Croker AfroPhysicist (2014). Bridgewater participa na faixa Moody’s Mood for Love. No álbum seguinte, Escape Velocity (2016), também produzido por Bridgewater, Croker leva seu jazz mais para os caminhos da espiritualidade, como no tema Meditations.
O trabalho mais recente de Theo Croker é o álbum Star People Nation (2019) em que ele aprofunda sua receita de jazz com funk, R&B, hip hop e música eletrônica. “Tudo o que eu estou misturando, vem da mesma raiz, é tudo música negra”, ressalta Croker. “Eu não quero fazer uma música que é ouvida apenas por idosos brancos. Eu quero falar para a minha geração e para os mais novos, para a comunidade que me fez crescer, que é a comunidade negra”.
Produtor, compositor, vocalista, além de trompetista, Theo Croker, aos 35 anos é uma das estrelas em ascensão do jazz neste 2021. No vídeo a seguir vemos sua apresentação com o tema This Could Be (For The Traveling Soul), que está no álbum Escape Velocity.
Flávio de Mattos é jornalista e escreve aqui sobre jazz a cada 15 dias. Dirigiu a Rádio Senado. Produz o programa Improviso – O Jazz do Brasil, que pode ser acessado no endereço: senado.leg.br/radio