O título acima é do clássico livro de John Steinbeck, de 1961, antes de receber o Prêmio Nobel de Literatura. Que, por sua vez, puxou a expressão da peça Ricardo III, de Shakespeare. Em sua obra, o magistral escritor norte-americano descreve o mundo de um homem atormentado pelos dilemas impostos pelo dinheiro e pela moral, o protagonista Ethan Hawley, empregado de uma mercearia, casado, dois filhos, convivendo em uma comunidade de baleeiros e atormentado pela ideia de melhorar sua vida e a da família. Até onde vão os escrúpulos e a vida digna e honesta quando se trata de conseguir dinheiro? Um ser humano pode suportar a pressão de seu meio social sem romper com a ética da decência?
A lógica da pecúnia é pontuada com desencanto, a traduzir o dilema entre a trilha da ordem moral e o conforto material. O tema cai bem nesse momento em que o planeta enfrenta esta catástrofe considerada a maior dos últimos cem anos, em que os modos e costumes da vida contemporânea são submetidos às nossas consciências.
Afinal, tem sentido a competição entre as grandes Nações, em luta pelo ranking dos bens materiais, se nenhuma delas, com seus arsenais de guerra, consegue vencer um bichinho microscópico chamado Covid-19? Que adianta tanta grandeza se não se consegue sustar a corrente de milhões de pessoas infectadas e milhares de mortos? E o que dizer da política e suas disputas nos espaços dos Poderes?
São questões que batem nesse outono, prenunciando um inverno de desesperança e pleno de interrogações. A vacina está chegando ou ainda demora? O arsenal científico das Nações não tem resposta convincente? Quanta fragilidade em um mundo dominado por aparatos de poder.
Na falta de respostas, fenecem as esperanças. Há angústia e amargura diante das estatísticas de mortos, covas abertas, pessoas de máscaras nas ruas e um jeito esquisito de viver.
A sensação é de perda de rumos. Na área sanitária, o desastre da falta de equipamentos, UTIs esgotadas e os heróis do cotidiano – médicos e enfermeiros – confessando não dar conta da demanda.
Na economia, um paradoxo emerge com força. Desde o final dos anos 80, com a queda do Muro de Berlim, alinhou-se a régua econômica traçada pelo liberalismo, com as lições de Friedrich Hayek e Milton Friedman. Eles pregam o Estado mínimo, com maior mobilidade econômica e sem centralização excessiva, zelando pelo bom funcionamento do mercado e proteção à iniciativa privada. Liberalismo que se desenvolve a partir da Universidade de Chicago, onde Paulo Guedes estudou.
E quando pensávamos nessa pauta, com a promessa de privatização de cerca de 600 braços do Estado, surge a figura de John Maynard Keynes, o economista britânico que pontuou sobre a forte intervenção do Estado para garantir pleno emprego e controle da inflação. Nessa direção tateia um tal de plano Pró-Brasil. Qual será o porte do Estado brasileiro sob o comando de um ex-capitão do Exército cercado de generais?
Afinal, para onde vamos, com o risco de queda de 5% do PIB este ano e aumento desenfreado do desemprego? Não se sabe até quando vai a pandemia.
Daí a desesperança. Tememos que o vento frio do inverno apague a chama bruxuleante de nossa lamparina.
Gaudêncio Torquato é jornalista, professor titular da USP e consultor político