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Por Coluna
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Nóis avacaia

O Brasil tem 200 mil leis e uma capacidade infinita de avacalhar, esculhambar, escrachar. Quase tudo. E às claras.

Por Tânia Fusco
Atualizado em 27 fev 2018, 16h00 - Publicado em 27 fev 2018, 16h00

A piada é antiga, dos tempos da crise-golpe de 63/64. Um dos engraxates do aeroporto Santos Dumont, enquanto lustrava os sapatos do freguês, reclamava do sufoco, do desemprego, da carestia… Velho comunista, o freguês aproveitou pra fazer seu proselitismo: Calma, o comunismo vem aí para acabar com isso tudo. Você sabe o que é o comunismo, né?

O engraxate balança a cabeça e manda essa: Num sei o que é isso não, mas se vié, nóis avacaia!

O comunismo desfez-se antes de chegar por aqui. Seguimos à risca o salve do engraxate. Avacaiar o que vier pela frente. Aí cabendo preceito constitucional, leis que não colam e a imensa cara de pau dos do andar de cima – a turma que capitaneia o faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço. Sem distinção de gênero, hierarquia ou classe social, a prática contagia. Pode vir do vizinho ou de autoridade constituída.

O Brasil tem 200 mil leis e uma capacidade infinita de avacalhar, esculhambar, escrachar. Quase tudo. E às claras. Saco sem fundo, onde cabem mentiras, manobras, chantagens, desmandos, crimes, bandos, facções, violência e miséria social. Devidamente noticiadas. Com a versão do lado A e do lado B. Assim, como se fosse sério.

A esculhambação oficializou o faz de conta. Atravessou o samba da legalidade? Manda um desmentido. Qualquer um vale. Se for papo torto, manda o jargão: “conversa republicana”. Fez coisinhas como deixar remédios essenciais vencerem pra ganhar no descarte e na recompra, via advogado, garanta por escrito: “Nossos procedimentos seguiam as mais rígidas normas de governança”.

Colou? Não colou? Não tem a menor importância. Ultrapassamos o vai que cola. Fase vencida. A regra agora é sem regras.

Veio a telefonia celular, esculhambamos. Veio o call center, esculhambamos. Veio a companhia aérea de baixo custo, esculhambamos. O custo é alto, o serviço baixo. Recorde de queixas no Procon? Ah vá! Qual a consequência disso? Ne-nhu-ma. É o que temos para oferecer. Paga e não chia.

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Rapidinho, esculhambamos o Uber, por exemplo. Chegou ótimo. Não levou dois anos para perder a estrela de excelência no serviço. Entrou na seara da sorte. Ora um bom carro, um bom motorista. Ora nada disso. Carro cheiroso, balinha e água. Lembra? Só quando Deus ajuda.

Vez por outra, quando a avacalhação é muita, Ele até dá uma força. Foi Ele – só pode ter sido – quem afundou a lancha da avacalhação completa no Ministério do Trabalho que ameaçava ter no comando uma condenada em quê mesmo? Causa trabalhista. Duas, para não deixar dúvida.

Foram 48 dias com o Ministério à deriva. Tempo mais de suficiente para demonstrar a importância que as regulações do trabalho têm nos dias de hoje. Avacaimos. Enquanto isso, tchan, tchan, tchan, tchan, o governo, no modo egípcia, mandou tirar a faixa presidencial do boneco vampiro da Unidos do Tuiuti, a (escola de samba) vice-campeã do Carnaval carioca. Bora levar o sofá pra fora da avenida, que estamos gestando uma intervenção federal no estado. E, consequentemente, um novo ministério. Agora vai!

O general interino da Defesa? Diz que já se enroscou no TCU. Mas a sentença final diz que foi de boa-fé. Pronto. Bora ao próximo causo. Vai que é fake news?

Fake News? Nova rendosa modalidade de esculhambar em meio eletrônico. Rapidinho. Eficiente. A ignorância ajuda muito. Deixa rolar a eleição pra ver só o poder de fogo das news fakes. Avacaiação made in Rússia que elegeu até o chefe do mundo.

Por aqui, houve tempo de tudo acabar em samba. Depois acabava em pizza. O nóis avacaia fermentou tanto que rende enredo – historinha contada passo a passo, – pra Escola de Samba. Dispensa pesquisa. Só olhar em volta e relatar a bagunça. Foi nesse embalo que, no sambódromo do Rio de Janeiro, Tuiuti e Beija-Flor, a campeã, alegorizaram a desgraceira nacional. Violência, corrupção, intolerâncias, impostos excessivos, abandono de doentes, bala perdida, assaltos – de colarinho ou camiseta regata -, facções criminosas – presas e soltas – vieram em alas de ratos com malas e bolsos cheios de dinheiro, autoridades vampiras em trajes de gala, indignos monstros devoradores de esperança.

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No menu da avacalhação, os patos amarelos da FIESP vieram como marionetes. Não são? Com fantasias de madamas e senhores de fino trato o samba carnavalizou, avenida afora, o bando dos guardanapos na cabeça que saqueou o Rio de Janeiro.

Nada era fake news.

Cuíca e tamborim choraram o Brasil avacaido de dar dó, onde pouca coisa merece confiança. Sem distinguir o oficial do oficioso, nosso momento desconfiança alcança dos rótulos de alimentos industrializados aos procedimentos e sentenças judiciais. Será? É o mote. Suspeitamos, inclusive, do fundo do poço. Cada vez que, parece, chegamos nele, nova modalidade de avacalhar faz mais funda a cacimba do Brasil.

Fosse o general chefe da segurança do Rio de Janeiro nem temia Comissão da Verdade. O que mete medo mesmo é nossa progressiva capacidade de avacaiar.

Tânia Fusco é jornalista, mineira, observadora, curiosa, risonha e palpiteira, mãe de três filhos, avó de dois netos. Vive em Brasília. Às terças escreve sobre comportamentos e coisinhas do cotidiano – relevantes ou nem tanto 

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