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Nascimento, dor e crescimento psíquico

Psicanálise da Vida Cotidiana

Por Carlos de Almeida Vieira
Atualizado em 28 fev 2018, 16h00 - Publicado em 28 fev 2018, 16h00

Quando nascemos, inevitavelmente, caímos numa terra estranha. Fica estabelecido que essa cicatriz tramática da separação será por toda a vida uma angústia a ser elaborada.

Somos anjos caídos, perdemos a ilusão paradisíaca e, a partir daí, procuraremos sempre resgatar através de empreendimentos, sonhos e realizações esse espaço da separação. A dor do nascimento é pavorosa, mas ela é aliviada se tivermos a sorte de sermos acolhidos por uma mãe ou por qualquer pessoa com função maternal. No colo, mamando, aparece a alegria, o prazer e uma nova tentativa de fusão com o “objeto perdido”. Somos condenados a procurar novas uniões com o mundo e nossos semelhantes.

Octavio Paz, poeta e crítico literário mexicano, em seu discurso ao receber o Nobel de Literatura, em 1990 escreveu: “O sentimento de separação se confunde com minhas recordações mais antigas e confusas: com o primeiro choro, com o primeiro medo. Como todas as crianças, construí pontes imaginárias e afetivas que me uniam ao mundo e aos outros”.

A função de viver é a busca do outro, o amor pelo outro, o conforto perdido no início. O indivíduo procura em toda a sua vida “um porto seguro”, alguma pessoa que ele acredite que estará sempre à sua disposição, pois a condição humana será sempre conviver com a eterna insegurança e possibilidade de sentimento de perda e falência psíquica. No entanto, podemos pensar que, crescendo e se desenvolvendo, criamos um aparelho mental, psíquico, que possa suportar, digerir e elaborar a angústia sem necessariamente enlouquecer ou ter necessidade de uma dependência patológica. Daí teremos de contar com uma força de vida, intrínseca, inerente, e com ela desenvolver a capacidade de trabalho psíquico, sozinho ou com a ajuda de outra pessoa.

Existem pessoas que têm ódio ao trabalho, tendência a ficar esperando ajuda sempre, preguiça de usar seus recursos psíquicos, medo de ousar no desconhecido, conviver com a incerteza – todos esses fatores terminam por levar essa pessoa a um estado latente, e às vezes, uma vida de colorido depressivo acompanhado de queixumes e raiva. Essas pessoas definitivamente não fazem nada para suportar a separação.

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Jean-Paul Sartre um dia escreveu (citado por Elisabeth Roudinesco): “O segredo de um homem não é o seu complexo de Édipo, e sim o próprio limite de sua liberdade, seu poder de resistência aos suplícios e à morte”.

 

Carlos de Almeida Vieira é alagoano, residente em Brasília desde 1972. Médico, psicanalista, escritor, clarinetista amador, membro da Sociedade de Psicanálise de Brasília, Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo e da International Psychoanalytical Association 

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