Moro se move: Bolsonaro e Berlusconi no mesmo saco (Vitor Hugo Soares)
Moro mira na cabeça do atual mandatário do Palácio do Planalto
Ao eleger Correio Braziliense, do DF, para a mais recente e contundente entrevista exclusiva, o ex-juiz federal Sérgio Moro – condutor e símbolo maior da Lava Jato – optou por um espaço restrito, mas ressonante, para defesa da cria e dos que, na força-tarefa, em Curitiba, a ajudaram crescer e frutificar no combate à rapinagem (pública e privada). Foi além: agregou sinais que apontam para a decisão de ir adiante e direto ao ponto. Nesta conversa, caprichou na aplicação de seus reconhecidos dotes de estrategista, do jogo de xadrez e suas regras que puxam mais pela argúcia e inteligência, ao se move r no tabuleiro da política e do poder atual no País, em geral, e de Brasília em particular. Sem perder de vista o relevante e essencial foco internacional, que sempre foi um de seus fortes.
De saída, reagiu contra os ataques de múltiplos personagens – da política, da justiça, do governo, dos negócios e dos negociantes, – e de interesses, ultimamente direcionados contra a mais eficiente operação de combate a corruptos e corruptores já vista por este lado de baixo da linha do Equador. A mais recente, a censura, do Conselho Nacional do Ministério Público (por 9 a 1), ao procurador Deltan Dallagnol, em acolhimento a uma queixa do notório Renan Calheiros (MDB-AL), de que o ex-coordenador da força-tarefa, no Paraná, teria atuado nas redes sociais, de forma a contribuir para sua derrota na tentativa de se reeleger presidente do Senado.
A decisão impede, por um ano, que Dallagnol receba promoção, em sua carreira profissional no Ministério Público. Algo indignante, que deve doer como chicotada na pele e na alma do atingido. Mas o pior e grave, sem duvida, é a nódoa irreparável que esta insólita medida causa na imagem e na história do MP e, por extensão, na PGR: inovadora, independente e gloriosa criação da Constituição cidadã (no dizer de Ulysses Guimarães) de 1988.
Antes disso, na entrevista ao CB, Moro tratou de fazer estragos na defesa adversária, mirando na cabeça do atual mandatário do Palácio do Planalto. “De sopapo” (no dizer soteropolitano), deu o mote da conversa e produziu lance retórico ousado, que resultaria no título da exclusiva, na edição e no seu principal aviso. Comparou o presidente Jair Bolsonaro, no caso do desmonte da Lava Jato, ao ex-mandatário italiano, Sílvio Berlusconi, no arraso e sepultamento da operação Mãos Limpas, na Itália, após ter a bandeira anti – corrupção e crime organizado decisiva na sua eleição: “Apenas uma promessa”, assinala o ex-ministro da Justiça na manchete da exclusiva.
“Na Itália, o governo Berlusconi foi eleito com essa bandeira e agiu contra a Operação Mãos Limpas. Berlusconi é, hoje, um dos políticos com imagem mais associada a irregularidades. Aqui, o atual governo também foi eleito com a bandeira da defesa da Lava Jato e do combate a alianças com políticos envolvidos em irregularidades, mas tudo indica que tenha sido também apenas uma promessa de campanha”, sugere Moro. Quase um xeque-mate de enxadrista que conhece os atalhos e segredos deste jogo milenar. O resto a conferir com o tempo, senhor da razão e, desde quinta-feira, 10, com o ministro Luiz Fucs – de afirmativo e desassombrado discurso anticorrupção e de independência – na presidência do STF, depois da saída de Dias Toffoli, tão opaca e melancólica quanto sua passagem pelo comando do Supr emo. Que o vento levou em Setembro.
Vitor Hugo Soares é jornalista, editor do site blog Bahia em Pauta. E-mail: vitors.h@uol.com.br