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Por Coluna
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“Maricas empoderadas” (por Mary Zaidan)

Bolsonaro também foi derrotado em sua narrativa obscurantista

Por Mary Zaidan
Atualizado em 23 nov 2020, 10h28 - Publicado em 22 nov 2020, 09h00

A eleição de 30 transexuais e travestis, 24 gays, 20 lésbicas e 7 bissexuais para vereador em todas as regiões do país alegra, conforta e não deixa dúvidas: a retrógrada, machista e homofóbica agenda comportamental do presidente Jair Bolsonaro definitivamente não emplacou. Vitória comemorada com bom-humor e fina ironia pelo presidente da Aliança Nacional LGBTI+ Toni Reis: “as maricas estão empoderadas”.

A frase foi a única referência que o ativista fez ao presidente, sem nem mesmo citá-lo nominalmente, na entrevista ao Congresso em Foco, um dia depois do primeiro turno das eleições municipais. Reis atribuiu o sucesso aos avanços obtidos junto ao STF, “que garantiu a identidade, o casamento, o combate à discriminação”, à repercussão do assassinato de Marielle Franco, que fez “nascer muitas Marielles”, e até ao papa Francisco, que descriminalizou a união homoafetiva.

Ainda que seja fruto de anos de luta árdua, o crescimento acentuado de LGBTI+ nos parlamentos municipais – o número de eleitos foi três vezes superior ao de 2016 – é mais um revés para o já tão derrotado Bolsonaro. Aponta com precisão que sua ojeriza aos gays e as piadinhas bestas têm efeito nulo ou até mesmo avesso ao que ele gostaria. Algo que, como homofóbico assumido, o presidente deve ter dificuldade para processar e compreender.

Bolsonaro não inventou a homofobia. Tampouco está só nesse delito hediondo. Mas chama atenção a insistência dele em se declarar homofóbico.

“Seria incapaz de amar um filho homossexual” ou “não vou dar uma de hipócrita aqui: prefiro que um filho meu morra num acidente do que apareça com um bigodudo por aí. Para mim ele vai ter morrido mesmo”, ou ainda “ter filho gay é falta de porrada”, são afirmações que não precisam de tradução para tipificar o crime.

“Eu tenho imunidade para falar que sou homofóbico, sim, com muito orgulho, se é pra defender as crianças nas escolas”, disse em 2013, acrescentando que os LGBTs não teriam “sossego” com ele. Na época, reclamava de dois homens e duas mulheres se beijando em público, em frente de “ nossos filhos menor de idade (sic)”.

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A imunidade parlamentar salvadora não se aplica ao presidente da República. Sem meias palavras isso quer dizer que Bolsonaro pode ser punido por homofobia, crime que em junho de 2019 o Supremo equiparou ao racismo, tornando-o inafiançável e imprescritível.

Bolsonaro sabe disso.

Na fatídica reunião ministerial de 22 de abril, a baixaria e as agressões reveladas foram tantas que pouca importância se deu a uma frase dita pelo presidente: “Eu tenho certeza que vão me condenar por homofobia, oito anos por homofobia”.

Certamente devido ao temor expressado pelo capitão, a Advocacia-Geral da União entrou, em outubro, com recurso no STF questionando o entendimento da Corte sobre homofobia. Estranhamente, a AGU levou um ano e quatro meses para se movimentar. E o fez poucos dias antes de Bolsonaro reincidir na homofobia explícita – a brincadeira de mau gosto com o cor-de-rosa do guaraná Jesus, que o faria virar “boiola igual maranhense”.

Na cola do presidente e apoiado por ele, o cambaleante e desesperado Marcelo Crivella, que disputa o segundo turno no Rio,  achou por bem escancarar sua homofobia. Chamou de “viado” o governador paulista, demonstrando que não ouviu ou não entendeu o berro das urnas.

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Chefe de um governo política e economicamente desgovernado, Bolsonaro perdeu peso e densidade nas eleições municipais, sendo derrotado também em sua narrativa obscurantista. Restaram-lhe as “melhores qualidades masculinas”, elogio-chacota feito pelo espertíssimo Vladimir Putin ao ver o presidente brasileiro sem pai nem mãe após a derrocada de Donald Trump.

Os brasileiros escolheram o progresso e a diversidade. Melhor: boa parte dos vereadores LGBTI+ eleitos diz não querer transformar seus mandatos em nichos de gênero. Pretendem, claro, continuar lutando contra a intolerância e a discriminação, mas têm bandeiras variadas que vão do meio ambiente à mobilidade urbana, moradia e até saneamento básico. O mesmo se escuta de mulheres e negros, maiorias que ainda são minonitárias.

A pluralidade venceu. Mas não há espaço para descuido.

 

Mary Zaidan é jornalista 

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