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Por Coluna
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Kit de sobrevivência (por Hubert Alquéres)

É a velha política novamente

Por Hubert Alquéres
Atualizado em 30 jul 2020, 18h58 - Publicado em 29 abr 2020, 10h00

Bolsonaro entrou no modo “sobreviver é preciso”. Com o ministro do Supremo Celso de Mello autorizando abertura de inquérito contra ele, mais de 31 pedidos de impeachment na gaveta de Rodrigo Maia e podendo ser atingido ainda por outros dois inquéritos, o presidente partiu para reforçar a sua linha de defesa.

Assim como Michel Temer se livrou no Congresso de dois processos por meio de uma ampla base parlamentar, Bolsonaro faz um movimento na mesma direção. Abre as portas para o Centrão adentrar solenemente em seu governo. Em um primeiro momento no segundo escalão, lembrando que alguns dos órgãos loteados valem mais do que muitos ministérios. O FNDE que o diga.

É a velha política novamente. Sem o apoio dessa turma, dificilmente um pedido de impeachment prospera ou uma CPI é instalada.

Bolsonaro cuidou também de proteger outro flanco com as nomeações dos novos diretor-geral da Polícia Federal e ministro da Justiça. Para o primeiro escalou o delegado Alexandre Ramagem, que assume o cargo sob a suspeita de ser sensível a eventuais ingerências do presidente na corporação.

Para o Ministério da Justiça escolheu o atual Advogado-Geral da União, André Mendonça. Muitos veem nessa escolha uma concessão aos militares, que temiam um recrudescimento da crise se o indicado fosse alguém da copa e cozinha do presidente. Mendonça tem bom trânsito no Supremo e currículo para o cargo.

O terceiro movimento foi cuidar de seu front interno para evitar uma nova guerra intramuros, dessa vez entre intervencionistas e liberais. Bolsonaro arbitrou a disputa em favor da agenda de Paulo Guedes. Corretamente o Ministro da Fazenda defende as atuais medidas de impacto como sendo emergenciais, com data para terminar. Elas envolveram recursos da ordem de mais de meio trilhão de reais nas áreas fiscal, trabalhista e creditícia, como o auxílio de R$ 600 a trabalhadores informais, além das ações relacionadas ao INSS, o FGTS, o salário desemprego, o crédito da Caixa e Banco do Brasil ou a redução das despesas públicas de estados e municípios

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Alguns fatores jogam a favor da estratégia do presidente. Rodrigo Maia percebeu o movimento no Congresso. Quanto mais se aproxima o término de seu mandato na presidência da Câmara, menor é o seu poder de aglutinação. O Centrão começa a orbitar em outra direção. Daí a postura refratária de Maia a pedidos de impeachment ou de CPI.

Há ainda a resiliência de sua base social, como indica a mais recente pesquisa do Datafolha que mostra índices nada disprezíveis de apoio e confiança no presidente e em seu governo. O sentimento pró-impeachment também não é predominante na sociedade. Há consciência do quanto essa opção é traumática e difícil de se concretizar em meio a uma pandemia.

A outra alternativa, a renúncia, é risível. Só serve como agitação e propaganda da oposição. Chance zero de acontecer.

Mas há fatores que podem enfraquecer a estratégia presidencial. Os três inquéritos em curso são uma caixa de pandora. Não se sabe ainda o que eles vão revelar e se têm força para desgastá-lo. Serão os fatos que determinarão o humor da sociedade e, em última análise, do próprio Congresso.

O embarque do Centrão também tem desvantagens, sobretudo por sua voracidade em termos de cargos. Topa blindar o presidente, mas na situação em que ele seja refém do seu apoio. Ao atraí-lo para seu ninho, Bolsonaro trai o discurso da antipolítica que tanto encantou seu eleitorado cativo. O risco é perder parte desse apoio.

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Na economia, a disputa está longe de se encerrar. A afirmação de Guedes, de que o crescimento econômico do Brasil no próximo ano vai surpreender o mundo, tem a mesma credibilidade de outro dito seu. No começo de março o ministro dizia que o Brasil ia crescer durante a pandemia. Hoje já se estima uma queda do PIB de mais de 5%. Como sua premonição dificilmente se realizará, a pressão dos “intervencionistas” voltará com força.

Já na PF, as resistências da corporação serão imensas, se o novo diretor geral adotar uma linha não republicana.

Por certo, são questões de longo prazo. Mas, como dizia John Maynard Keynes, a longo prazo estaremos todos mortos. Para Bolsonaro interessa o aqui e agora.

 

Hubert Alquéres é professor e membro do Conselho Estadual de Educação (SP). Lecionou na Escola Politécnica da USP e no Colégio Bandeirantes e foi secretário-adjunto de Educação do Governo do Estado de São Paulo  

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