A mais alta corte de justiça do país tem um problema: quem, ali, se dispõe a ser o relator do pedido de habeas corpus que poderia libertar o líder religioso João Teixeira de Faria, vulgo João de Deus, acusado de abusar sexualmente de dezenas de mulheres no seu templo em Abadiânia, Goiás?
O ministro Gilmar Mendes, sorteado para ser o relator, abdicou da tarefa. Declarou-se suspeito por “problema de foro íntimo”. Gilmar consultou-se várias vezes com João de Deus, tornou-se seu amigo, aproximou-o de figuras importantes da República e do mundo empresarial. Considerava-o capaz de operar milagres.
Fora Gilmar, há mais 10 ministros no Supremo Tribunal Federal, em tese todos aptos a relatarem o pedido de habeas corpus. Mas pelo menos 8 deles também frequentaram o consultório de João de Deus. O ministro Luiz Roberto Barroso foi lá se tratar de um câncer. Por curiosidade, foram lá os ministros Dias Toffoli e Luiz Fux.
Se o exemplo de Gilmar for seguido pelos ministros atendidos por João de Deus, só restarão dois para se encarregar do caso. Por ora, desconhece-se a identidade deles.