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Por Coluna
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Fim de novela

O terror da realidade que nos aperta

Por Tânia Fusco
Atualizado em 30 jul 2020, 19h18 - Publicado em 19 nov 2019, 12h00

São meses e meses das mocinhas e dos mocinhos sofrendo bola nas costas, desacertos atrás de desacertos, dos vilões e vilãs viloniando em alta voltagem, até que chega o fim e tudo vai se acertando. Bons virando o jogo e se dando bem, casamentos em série, maus pagando seus pecados – na cadeia ou no cemitério, agora, também na Igreja, com bíblia. Tudo nos conformes. Sem surpresas.

A fórmula é mais velha do que Matusalém. Previsível, repetida à exaustão. Por isso mesmo, cada vez mais, tropeçando e caindo na armadilha do já-vi-esse-filme-antes. Déjà vu.

Mas o Brasil ainda é um país de noveleiros que, embora ensaiem paixão e migração para as séries – mais curtas, mais contundentes -, mantêm o hábito (vício?) de acompanhar o desenrolar das novelas no ar. Ainda que seja para reclamar dos inverossímeis ali postos. São poucos os nativos que, ao menos uma vez, não parem pra dar uma espiadinha no rumo das histórias parceladas em capítulos.

Melhor produzida, mais sofisticada na qualidade técnica e na apresentação, até encurtada, a novela brasileira, no entanto, já decepciona mais do que agrada. Está em crise. E tenta resistir usando a mesma receita do capitalismo – aplica um neoliberalismo aqui e ali pra continuar sobrevivendo. Mas a sobrevida de ambos não espanta o fantasma do prazo de validade em alerta amarelo – estão caducando, perdidos na urgência e na desfaçatez da vida digital.

(Só lembrando: dólar bateu 4,20).

A imaginação criativa dos autores não consegue mais surpreender um público acostumado a vilanias corriqueiras da vida real. Qualquer dos bandidos reais é muito mais cruel, ágil, surpreendente e abusado do que os ofertados nas novelas. Tem milícia em novela? Não. No máximo, pinta bandido chinfrim, família de justiceiros do interior, como a de A Dona do Pedaço onde, providencialmente, uns dão cabo dos outros e os que sobram se redimem por amor.

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Qualquer menino de primário sabe que redenção de bandido profissa mesmo só acontece em novela. Imaginou um miliciano, por puro amor, entregando a cadeia completa dos colegas que mataram Marielle e Anderson? Não rola. É coisa de novela.

Pense o Queiróz, o sumido mais célebre da República, confundindo final de ano com fim de novela e, arrependido, finalmente aparecendo para revelar, tintim por tintim, como e pra quem “fazia dinheiro”? Só em novela.

Seria possível o véio da Havan, vestido de Papai Noel, aproveitar o espírito de Natal para anunciar que vai distribuir aos pobres o mesmo que já investiu em fake news? Não vai rolar.

Que novelista seria capaz de criar um batalhão de polícia – modelo chileno – treinado para dispersar manifestantes com tiro no olho? (Diferente na Bolívia?) Quem teria imaginação para, na ficção, perpetrar um “dia do fogo” e disparar queimadas país afora?

Juiz de novela combinaria por zap dar uma rasgadinha na Constituição? Não monta. Não rende.

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Não há novela que concorra, supere ou alivie o terror da realidade que nos aperta. Não há novelista capaz de ajeitar um final feliz para tantos protagonistas do mal – pesados, folgados e soltos entre nós. Os inverossímeis reais superam qualquer ficção.

PS.: “Temos duas vidas. A segunda começa quando você percebe que só tem uma”. Atribuído a Mário de Andrade.

 

Tânia Fusco é jornalista 

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