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Exemplo americano (por André Gustavo Stumpf)

Se Trump age como macaco em loja de louça na mais tradicional democracia do mundo, imagine-se Bolsonaro em 2022

Por André Gustavo Stumpf
Atualizado em 18 nov 2020, 19h44 - Publicado em 10 nov 2020, 13h00

A eleição presidencial dos Estados Unidos de 1876 foi a vigésima-terceira no país. Samuel J. Tilden venceu Rutherford B. Hayes na votação popular, mas obteve 184 votos no Colégio Eleitoral enquanto Rutherford chegou a 185. Vinte votos do Colégio Eleitoral não foram contados. Esses vinte votos estavam na disputa em três estados: Flórida, Louisiana e Carolina do Sul.

Cada partido, então, informou que seu candidato tinha vencido. Os vinte votos eleitorais foram no final atribuídos a Rutherford após uma briga judicial e política, que lhe concedeu a vitória com 185 votos.

A guerra civil havia terminado recentemente. Abraham Lincoln, reeleito, foi assassinado no Teatro Ford em Washington. Na eleição seguinte o escolhido foi Ulysses S. Grant, que fez um governo difícil, cujo mérito foi perseguir os índios e matar os bizões (uma espécie de búfalo), que constituíam a principal fonte de proteínas dos índios.

Os nativos foram exterminados em consequência da política de privá-los de seu alimento. Naquele momento, as tropas do norte, que tinham vencido a guerra, ocupavam alguns estados do sul. A escravidão tinha sido extinta e os direitos do negro restabelecidos.

Na eleição de 1876 surgiu o advogado Samuel J. Tilden com o melhor discurso e propostas objetivas para reerguer o país. O problema era a sua origem. Ele pertencia ao lado derrotado na guerra da secessão. A contagem dos votos foi interrompida. Representantes dos dois partidos, republicanos (que dominavam o norte) e democratas (que administravam o sul) se reuniram num hotel em Washington e negociaram durante vários dias. Foi feito o acordo.

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O republicano foi declarado vencedor da eleição, tomou posse e governou sem problemas. Em troca, seu governo retirou as tropas do sul, as autoridades anteriores à guerra reassumiram seus cargos e os negros perderam seus direitos. Na prática, foi criado o apartheid nos Estados Unidos.

Só a partir das grandes manifestações ocorridas nas principais cidades norte-americanas nos anos sessenta do século passado a segregação racial nos Estados Unidos passou a ser contestada a partir da forte ação de personagens como Martin Luther King. Há uma espécie de jeitinho norte-americano. Quando as coisas se complicam dentro do país eles sabem negociar como se fossem mineiros.

Abraham Lincoln, que era um contador de piadas, sabia negociar. Para aprovar o fim da escravidão ele comprou, com benesses e empregos, votos na oposição. Parece o momento atual.  A vitória de Joe Biden foi anunciada pelas grandes redes de televisão, que fizeram projeções a partir do que havia sido apurado depois de contados mais de 140 milhões de votos.

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No ano 2000, após guerra judicial, George W. Bush venceu Al Gore na Flórida por uma diferença de 570 votos. A decisão da Suprema Corte foi estranha. Concedeu prazo curtíssimo para acabar com a confusão. A recontagem foi interrompida. Os juízes não entraram no mérito.

A ainda maior economia do mundo trabalha com sistema de apuração de votos arcaico e anacrônico. A estrutura do processo eleitoral remonta ao início do país. O Colégio Eleitoral é consequência do poder dos grandes proprietários de terras, todos escravagistas. O objetivo era manter o poder nas mãos deles, garantir a democracia livre, o capitalismo assegurado e impedir que outros sistemas de governo contaminassem o país.

Foi o país imaginado pelo grupo branco, anglo-saxão e protestante, WASP na sigla em inglês. John Kennedy foi o primeiro presidente católico nos Estados Unidos.

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Este sistema criou o maior país do mundo, líder inconteste do Ocidente. Nos últimos tempos vive um confronto com a China, segunda maior economia, que hoje possui classe média com mais de 400 milhões de pessoas. Maior do que a da Europa e a da América do Norte. Dentro dos Estados Unidos, as minorias falaram claramente. Negros, latinos e outras cidadanias votaram contra as políticas discricionárias de Donald Trump.

Para nós, brasileiros, fica o exemplo. Donald Trump tumultuou as apurações. Seus advogados recorrem a todas chicanas possíveis e impossíveis para evitar a declaração de um vencedor.

Se Trump age como macaco em loja de louça na mais tradicional democracia do mundo, imagine-se o que Bolsonaro fará na apuração das eleições presidenciais brasileiras em 2022. Aqui a apuração da eleição presidencial dura pouco mais de seis horas.

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O presidente brasileiro já está preparando um decreto para fazer com que a eleição volte a ser realizada por cédula. É o início da confusão anunciada. O exemplo norte-americano vai se multiplicar no continente.

André Gustavo Stumpf é jornalosta e escreve no https://capitalpolitico.com/

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