Relâmpago: Revista em casa por 8,98/semana
Imagem Blog

Noblat

Por Coluna Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
O primeiro blog brasileiro com notícias e comentários diários sobre o que acontece na política. No ar desde 2004. Por Ricardo Noblat. Este conteúdo é exclusivo para assinantes.

Estatizando o posto Ipiranga (Por Denis Lerrer Rosenfield)

O País precisa de segurança e reformas capazes de transmitir confiança

Por Denis Lerrer Rosenfield
Atualizado em 18 nov 2020, 20h02 - Publicado em 17 ago 2020, 13h00

Quem lê o noticiário fica com a impressão de que as eleições presidenciais serão realizadas em outubro deste ano, ou o mais tardar em nova data no primeiro semestre do próximo. É disso que se fala quando o atual governo tem apenas um ano e meio de duração e parece, na verdade, estar em seu final. O projeto que o elegeu, se é que se pode utilizar essa palavra, sinaliza para o seu esgotamento, com a pauta liberal saindo de cena.

O presidente só pensa em sua reeleição, atento à melhora de sua popularidade com iniciativas sociais como a bolsa pandemia, como se o Brasil não necessitasse de reformas, imerso que está numa crise fiscal, sanitária, social (desemprego) e econômica. É como se vivêssemos em dois mundos, o precocemente eleitoral e o do Brasil com mais de 105 mil mortos. É como se o descaso e a irresponsabilidade fossem coisas da vida!

Em vez de privatizações, estamos presenciando a estatização do posto Ipiranga. Pouco foi feito no atual governo, enquanto governos que não tinham projetos privatizantes, como o do ex-presidente Fernando Henrique, muito mais fizeram. Nesse sentido, não dá para entender ataques aos tucanos, pois estatizantes não foram. O discurso governamental é de privatizações, mas nada se traduziu em realidade. É, na verdade, um imenso desserviço prestado ao liberalismo, que perde uma chance histórica. Talvez demore para se recuperar se algo não for feito.

A tão propalada reforma administrativa, reiteradamente anunciada, então, nem apresentada foi. Não há pauta liberal sem reforma do Estado, com a eliminação de desperdícios, valorização do mérito, avaliação de desempenho, eliminação de funções pela inovação tecnológica, transparência, e assim por diante. É constrangedor.

No que diz respeito à reforma tributária, o governo restringiu-se a enviar um exíguo projeto de lei para embaralhar a discussão já bastante adiantada na Câmara dos Deputados e no Senado com as PECs 45 e 110, respectivamente. Ou seja, foram iniciativas dessas duas Casas, a primeira presidida pelo deputado Rodrigo Maia, de firmes convicções liberais, e a segunda pelo senador David Alcolumbre. E o fez de forma fatiada, anunciando novas medidas que eventualmente compensariam o aumento das alíquotas da união do PIS e da Cofins, criando ainda mais confusão. Apresenta um projeto com caráter de urgência sem ter urgência de enviar suas outras propostas! Ademais, o apresentado já está em discussão naquelas duas PECs.

Continua após a publicidade

Como se não bastasse, a iniciativa governamental tem como pano de fundo, se não razão de ser, a recriação da CPMF, um novo/velho imposto amplamente repudiado, regressivo e que incide cumulativamente, sempre prejudicando os mais pobres. E isso em nome destes, ao anunciar o Renda Brasil, ampliação do Bolsa Família do ex-presidente Lula. A criação de um novo imposto, em tudo oposto a uma proposta liberal, tem como finalidade criar condições para a reeleição do presidente Bolsonaro, retirando do PT a sua clientela nordestina. Não se trata de uma reforma tributária, muito menos liberal, mas de um projeto populista e eleitoral.

As duas PECs estão sob a relatoria do deputado Aguinaldo Ribeiro, que, sensatamente, já se manifestou contra a recriação da CPMF e se debruça, como deve ser, sobre as suas duas propostas, a que foi originariamente elaborada pelo economista Bernard Appy, hoje patrocinada pelo deputado Baleia Rossi, nela engajado, e pelo ex-deputado Hauly. São duas propostas sérias, em debate, às quais está sendo dada prioridade. Isso não significa que não devam ser aprimoradas, pois distorções estão também presentes, como a de um aumento da tributação da agricultura, da pecuária e do agronegócio, como tem sido pertinentemente criticado pelo presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária, deputado Alceu Moreira. A preocupação deveria ser não matar a galinha dos ovos de ouro.

O fundamental, porém, consiste em que a discussão está sendo travada, com os diferentes setores e interesses apresentando os seus argumentos, de modo que o Brasil possa sinalizar para os investidores e o mundo o seu compromisso com a simplificação tributária e, sobretudo, com a segurança jurídica. O emaranhado da legislação espanta qualquer um, onerando custos e estabelecendo a imprevisibilidade dos negócios. O País precisa de segurança e reformas capazes de transmitir confiança e também esperança no futuro.

Continua após a publicidade

Em certo sentido, temos uma oportunidade única. O Poder Legislativo está maduro para uma reforma tributária, até mesmo administrativa, enquanto o governo, que se apresenta como liberal, marca passo e permanece preso a uma pauta corporativa e eleitoral. Se o discurso da área econômica se harmonizasse com a defesa de posições liberais, como a do presidente da Câmara dos Deputados, o País teria chances de dar um salto para a frente, abandonando a sua inércia.

No momento, cabe à Câmara e, logo, ao Senado fazerem avançar a pauta liberal, mostrando ao País o caminho a ser seguido.

Denis Lerrer Rosenfield é professor de Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 9,90/mês*
OFERTA RELÂMPAGO

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada edição sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Ofertas exclusivas para assinatura Anual.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.