O que é melhor? Juntarmos todos – inclusive os que, até ontem, estavam em lado oposto – para organizar uma força única, capaz de dizer não às ameaças à democracia? Ou continuar resmungando – cada um no seu quadrado, na caixinha das redes sociais – enquanto o fascismo avança sustentado pela santa ignorância somada à má intenção?
Segundo o dicionário, convergência é a condição do que caminha para o mesmo ponto ou objetivo. As manifestações do final de semana, puxadas pelas torcidas organizadas dos times de futebol – rivais eternas nas pelejas esportivas – foram surpreendentes exemplos de convergência possível.
Trouxeram reação e esperança nesse momento escuro da nossa História, quando uma direita violenta e babona ameaça barbarizar 35 anos de suado exercício de democracia.
Não achamos a democracia no lixo. Foi duro conquista-la. Mais difícil ainda é mantê-la.
#somos70%.
Na semana de explosão de indignações, fomos lembrados que, juntos, somos maioria. E viralizou a mensagem #somos70%. Somos. Nesse grupo podem estar até os que ajudaram a eleger presidente. Figura que, demonstra, não tem qualificação nem discernimento sequer para exercer mandato de síndico. (Com todo respeito aos síndicos. Figuras fundamentais na convivência social dos condomínios. A comparação é só métrica. Uma função é muito maior do que a outra).
Erraram os que, por N motivos, deram voto de confiança a quem não merece. Erramos muitas vezes no caminho e na solução. Mas podemos estar juntos para impedir mais desditas. A História – a nossa e a do mundo – ensina: em momentos cruciais, só a união de muitos, sem sectarismos, é capaz de mudar rumos, barrar desgraças. No momento, a tormenta força a nossa porta. Temos que receber e aceitar as “conversões” para a causa da democracia. Elas não significam assinar carteirinha no mesmo partido, ou rezar no mesmo terço.
Podemos construir uma aliança ecumênica, que junta desiguais na mesma causa. É hora de congregar como já fizemos outras vezes na memória recente – na campanha por anistia, no final dos anos 70, no movimento Diretas Já, que começou em 1983 e contou com o empenho fundamental de um “convertido”, o senador alagoano Teotônio Vilela, antes apoiador da ditadura.
Em parceria com antigos adversários políticos, Teotônio, doente, rodou o país na jornada das Diretas Já. A proposta foi derrotada no voto dos parlamentares, mas a campanha uniu e levou o povo pras ruas. Antecipou o fim da ditadura militar.
A História ensina a quem quer aprender.
#Somos70% de brasileiros indignados. Corintianos, são-paulinos, palmeirenses, santistas, flamenguistas… Tamujunto.
Congregando:
- Homenagem e respeito aos profissionais da Saúde que oferecem até a vida no trabalho contra a pandemia.
- Luto e solidariedade às famílias dos 30 mil brasileiros mortos da covid.
- Respeito e solidariedade pelo movimento antirracista dos americanos, que já alcançou 140 cidades. Black lives matter. Vidas dos negros importam. Lá e aqui.
- Emoção com imagens dos policiais que se ajoelham, somando indignação pelo racismo resistente e institucional da sociedade americana.
Tânia Fusco é jornalista