Nada mais grave do que as revelações do ministro José Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal, em entrevista publicada na mais recente edição da VEJA. Em resumo, ele contou que entre abril e maio últimos houve uma tentativa de golpe para depor o presidente Jair Bolsonaro. Mas que ele interveio e junto com outros nomes de peso da República conseguiu abortar.
Isso não pode ficar assim. O ministro está obrigado a dar nomes aos bois. A nomear, por exemplo, o general que trabalhava com o presidente e que fez consultas para saber se o Exército poderia ir às ruas em defesa da lei e da ordem mesmo sem autorização de um dos poderes da República. E a nomear também os parlamentares e industriais que se envolveram no complô.
Toffoli deu a entender que foi sob a ameaça do golpe que adiou o julgamento no Supremo da ação que poderia acabar com a prisão em segunda instância, beneficiando Lula. E que mandou suspender os processos com base em informações fiscais obtidas sem prévia autorização judicial. Disso beneficiou-se o senador Flávio Bolsonaro, investigado pelo Ministério Público do Rio.
A preocupação com o golpe, segundo Toffoli, destravou na Câmara a aprovação da reforma da Previdência. E os que viam no parlamentarismo a melhor forma de governo a ser implantada com a deposição de Bolsonaro acabaram abandonando a ideia. Dito com outras palavras: por vias tortas, adotou-se a proposta de um pacto entre os três poderes sugerida por Toffoli à época.
Saudemos, pois, a vitória da sensatez, embora não baste. Certamente, essa não foi a intenção do ministro, mas ao negar-se a fazer um relato detalhado sobre o perigo que o país atravessou, ele protege criminosos em potencial e deixa gente inocente sob suspeita. Convenhamos: não é a melhor forma de se fazer justiça nem de se prevenir contra outras aventuras do gênero.
De resto, não custa repetir, o distinto público tem o direito de saber.