Cheiro de mofo
O Brasil é especializado em explicar o passado enquanto inventa desculpas para justificar o presente.
A coisa deve estar feia. Para todo mundo. Tão feia que a gente pode sentir o alivio com a chegada da Copa do Mundo. Ter uma desculpa para ignorar a manada de elefantes que habitam nossa sala de estar todos os dias não dá uma sensação boa.
E faz tempo que a gente não lê os jornais com alguma satisfação. E até ignora um pouco as páginas político-policiais. Até jogo ruim serve. Ajuda também que os jogos sejam em outros países. Evita lembrança triste. E, acima de tudo, desvia a atenção dos nossos erros na organização de 2014. os eventos que nós mesmos promovemos no passado. Pelo menos por enquanto.
Aliviados mesmo estão os candidatos das próximas eleições. No país que agora faz questão de não fazer mais sentido, ficar escondido é vantagem eleitoral. Nos trópicos, quanto menos o candidato fala, mais sucesso faz. E quanto menos a gente sabe dele (ou dela), mais palatável ele fica.
Para os candidatos, 30 dias sem falar em política ajuda. E quanto mais curta a campanha, melhor. Nessas novas eleições, não tem novidade entre os candidatos. É uma cédula eleitoral que já vem embolorada por nomes velhos.
As ideias, então, nem se fala. Ou melhor, não contam. E quando vem, sobram platitudes presas em uma realidade que não é mais. Independente da ideologia, inclinação, ou afiliação partidária, o que nos une é a certeza de que a gente não sabe mesmo o que está fazendo.
O brasileiro tem estranho patriotismo. Ofende-se com críticas, mesmo que justificadas. Na roda de bar, defende o verde-e-amarelo com paixão e energia. E só. Se pudesse, a maioria mudaria de país.
Segundo o Datafolha (https://www.msn.com/pt-br/noticias/brasil/datafolha-62percent-dos-jovens-querem-deixar-o-brasil/ar-AAyLqh9 ), 42% da população adulta mudaria de país se tivesse a oportunidade. Entre os jovens, o número sobe para 62%.
Estamos perdendo jovens, cérebros, escolarizados. Gente que seria necessária para reconstruir o desastre com o qual nos acostumamos. E quase não enxergamos. Por boas e obvias razoes, diga-se. Compreenderam que o Brasil é velho precoce. Não inspira futuro. Apenas cheira a mofo.
O Brasil é especializado em explicar o passado enquanto inventa desculpas para justificar o presente. Se não fosse ruim o suficiente, repete erros passados para, no futuro, explicar o amanha o que deu errado ontem. E isso não será o suficiente.
Somos exterminadores de futuro.
Elton Simões mora no Canadá. É President and Chair of the Board do ADR Institute of BC; e Board Director no ADR Institute of Canada. É árbitro, mediador e diretor não-executivo, formado em direito e administração de empresas, com MBA no INSEAD e Mestrado em Resolução de Conflitos na University of Victoria. E-mail: esimoes@uvic.ca .