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Por Coluna
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Calça nova

Bolsonaro parece ter sentido o cheiro de queimado no partido

Por João Bosco Rabello
Atualizado em 30 jul 2020, 19h22 - Publicado em 19 out 2019, 10h00

Reza o folclore político que, certa feita, em palanque de campanha, o ex-governador de São Paulo Adhemar de Barros bateu a mão no bolso e exclamou: “No bolso dessa calça nunca entrou dinheiro do povo!” Ao que um bêbado de comício (sempre ele) gritou da multidão: “Calça nova, hein, seu Adhemar!”

O episódio reflete, como poucas sínteses, a sabedoria popular que desconfia de promessas e enredos de mudança típicos de campanhas políticas. O “novo”, cantado por sete mares, geralmente fica no arquivo de discursos depois que a eleição acaba. Mais das vezes, é uma ilusão a que o eleitor se agarra em tempos difíceis.

A história mostra que a fórmula populista das grandes promessas eleitorais tem como carro-chefe o combate à corrupção, a melhoria da vida da população e o expurgo dos maus políticos. É possível dizer que em tempos tecnológicos, com a informação fora do controle político, as falsas promessas acabam se materializando – não por virtude, mas por flagrantes da vida real.

A se confirmarem as suspeitas de manipulação do fundo partidário no PSL, pelo qual se elegeu o presidente da República, temos que, pelo menos na campanha, o discurso vitorioso era como a calça nova do ex-governador paulista. Ironia pura, o primeiro flagrante põe em xeque justamente a legenda presidencial.

É provável que outros escândalos surjam, com a mesma distorção de finalidade do Fundo Partidário acusada no PSL reproduzida em outras legendas, sugerindo mais desgastes à classe política no momento em que esta assume um confronto aberto com as autoridades investigativas, contestando seus métodos e seu caráter justiceiro.

O que importa no momento é que o presidente da República e seu partido se engalfinham para ver quem sai como vilão de um enredo pouco nobre e avesso à plataforma saneadora de um governo que alçou à condição de corregedor geral da política o ex-juiz símbolo da Lava Jato, transformado em adversário por uma campanha presidencial antecipada.

Se já abrandara seu discurso de combate à corrupção depois das investigações abertas contra o filho e senador Flávio, o presidente Bolsonaro agora fica mais distante ainda da parceria com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, cuja Polícia Federal cumpre ações capazes de expor as vísceras do PSL.

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Bolsonaro parece ter sentido o cheiro de queimado no partido, investindo contra o presidente da legenda e de seu líder no Senado pouco antes de a investigação da Polícia Federal se materializar em operações de busca e apreensão nos endereços do partido e de seus dirigentes.

Para quem se dispôs a governar distanciado do Congresso, temeroso de se contaminar com a velha política, não deixa de ser curioso testemunhar o presidente da República vivenciar esse risco justamente com o seu partido.

O episódio ocupa as atenções políticas e submete mais uma vez o governo a uma pauta negativa que insiste em ocupar o vácuo da inoperância política. Favas contadas, a reforma da Previdência já não causa o impacto de antes e a área econômica dá sinais de não ter uma hierarquia na execução de sua política.

Já não quer saber da reforma tributária e acena agora com a reforma administrativa – um desafio imensamente maior que a da previdência, com potencial mobilizador das corporações muitas vezes multiplicado. Para a primeira, o governo nem deveria ter dado bola. A segunda, é de longo prazo.

Permanece a percepção, ainda que possa não ser completamente justa, de que falta ao governo uma agenda política e econômica clara, contexto em que a segunda se impõe à primeira – fato infelizmente recorrente no cenário brasileiro. Embora existam avanços, com leilões na área de infraestrutura e índices de melhora, o discurso de mudança de modelo passa a percepção de lentidão, da imagem do copo meio cheio, meio vazio.

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Assim, o governo chega próximo do final do primeiro ano de mandato sem que a economia saia do patamar conceitual, indiferente às atribulações do curto prazo em que se contorcem a sociedade e os mercados.

Com as preocupações já voltadas para as eleições municipais, que permearão segundo ano de mandato, 2020 só não é uma incógnita quanto à sua tendência de turbulências ainda maiores. Sem uma plataforma de governo clara, com o eixo de poder realizador centrado no Legislativo/ ministério da Economia, é provável que se intensifiquem os conflitos internos de gestão, dos quais já há sinais bastante claros.

É, por isso, autorizada a previsão de que muito em breve o presidente Bolsonaro se dedique a uma reforma em seu ministério, onde as divergências já não são mais contidas entre as paredes que separam as estruturas de poder. O que, por si só, não tem o condão de requalificar a gestão, como ensina a história.

 

João Bosco Rabello é jornalista do site Capital Político (capitalpolitico.com

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